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Raul Pompéia - As jóias da Coroa
Segundo livro escrito por Raul
Pompéia, folhetim publicado nos rodapés da Gazeta de Notícias, ocupando quase
sempre a primeira página de 30 de março a 1º. de maio de 1882. O autor, com 19
anos, encontrava-se de férias na Corte. Sobre a obra, especificamente, Marlyse
Meyer (1996: 309) afirma que se trata de “uma jóia de paródia e sátira
política”. E como se configura a paródia nesta obra? E qual a importância no
contexto histórico? Fazem-se necessárias incursões e análise da obra.
Dois empregados da quinta do
Duque de Bragantina (ou Imperador Pedro II) tramam certo roubo: assim tem
início a ação do folhetim. Um dos envolvidos era empregado íntimo do Duque de
Bragantina. Chamava-se Manuel de Pavia e tinha como cúmplice Inácio. Manuel de
Pavia e o comparsa Inácio continuaram tramando também o roubo das jóias da
Duquesa de Bragantina. Os mentores do crime haviam estabelecido como acordo
vender as peças de valor aviltado à ourivesaria do Sr. Aleixo. Durante um
diálogo com o parceiro Inácio, Manuel de Pavia lembra que os inúmeros favores
concedidos ao Duque, bem como as encomendas futuras à defloração de Conceição.
Na verdade, as jóias, que tinham
sido roubadas, foram enviadas pela Duquesa de Bragantina à Quinta do Santo
Cristo após o baile do seu aniversário e, em seguida, entregues a criado de
confiança. Sete dias após este episódio, dava-se a liberdade a Manuel de Pavia
e aos outros dois acusados, pois as jóias tinham sido encontradas. Recebendo a
promessa de impunidade, Manuel de Pavia confessou que as jóias encontravam-se enterradas
num local que ele próprio apontaria. O Duque de Bragantina providenciou a
inocência.
A cena inicial do romance As jóias da Coroa
deixa evidente o plano do roubo e o comportamento dos criminosos: um,
deslocado, corajoso e arrogante; outro reticente medroso e inseguro. Mas,
principalmente, esclarece pontos a respeito da eficiência do plano de trabalho
ficcional:
- “Ah, ah! Ah, ah!... É o que
você pensa. Ninguém se arroja a uma empresa destas sem saber o terreno que vai
pisar. Eu sou um jogador que sempre conhece as cartas de que dispõe e as do seu
adversário... É o que falava... Um homem habituado às dificuldades de todas as empresas
espinhosas... [...]”
É justamente a partir de um fait divers, ou
seja, acontecimento diferenciado, inusitado, porém fato histórico, que Raul
Pompéia vai construir o folhetim, ocultando os envolvidos no escândalo em
personagens de ficção.
Trata-se também de um roman à
clef, já que apenas esconde pessoas reais por meio de nomes fictícios. Ainda
que a semelhança seja evidente. E como
se justifica o fait divers na escritura de Raul Pompéia? Por meio da leitura
das notícias e crônicas diárias publicadas na Gazeta de Notícias. Para efeito
comparativo, remeto à matéria publicada na edição de 19 de março, da Gazeta de
Notícias, intitulada Roubo no Paço de São Cristóvão. A leitura da notícia, em
forma de crônica, e a consideração de elementos do romance comprovam o quanto
fatos do cotidiano – ou seja, o fait divers – se encontram claramente presentes
em As jóias da Coroa, cuja transficção também é evidente, já que o autor
ficionaliza a história, o grande tema defendido nos birôs da Universidade de
São Paulo pela professora Aparecida Santilli.
Entre vários aspectos, a datação dos
acontecimentos é um dos pontos relevantes. Segundo a Gazeta de Notícias, o
roubo das jóias aconteceu no dia 14 de março de 1882, enquanto a versão de Raul
Pompéia apenas mascara a data, localizando o episódio que envolveu a personagem
Duquesa de Bragantina em 11 de março de 18...
O segundo aspecto importante diz
respeito à forma de recriação da notícia que mantém o detalhe da viagem do
Imperador e da Imperatriz para Petrópolis. O referido periódico informa, numa
linha, que o Imperador Pedro II e a Imperatriz Teresa Cristina, após o cortejo,
seguiram para o seu palácio de verão em Petrópolis. O autor do folhetim, de
certa forma, apenas reescreve o acontecimento verídico numa linguagem
romanceada, apontando a partida dos Duques e Duquesa de Bragantina para a
quinta de verão que possuíam em Anatópolis. Dessa forma, pouco a pouco, com
detalhes simples, comprova-se que esta obra de Raul Pompéia é, de fato,
inspirada na vertente da transficção, embebida, historicamente, na crônica
jornalística cotidiana, que descrevia o fato real do roubo das jóias.
Compreende, assim, a transficção aliada ao fait divers, ambos ancorados em fato
histórico de repercussão política.
O terceiro ponto relevante é o do
roubo em si. A Gazeta de Notícias, dando seqüência à crônica diária, retrata
minuciosamente o roubo no Paço de São Cristóvão. O cronista informa que o
Imperador, ao chegar de Petrópolis, deu parte do episódio ao Ministro da
Justiça. Por sua vez, o Ministro da Justiça, o Chefe de Polícia Dr. Macedo de
Aguiar e o 3º. Delegado seguiram até o Palácio de São Cristóvão, onde
encontraram apenas uma corda dependurada num dos muros que entornam o palácio.
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Fonte:
Fonte:
Ricardo Japiassu Simões (Pós-doutor
em Teoria da Literatura, da Universidade Federal de Pernambuco): “O roubo das
jóias e a transficção no folhetim as Jóias da Coroa”. Faculdade Damas – Caderno
De Relações Internacionais – V. 1, No. 1. (2010).
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