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A obra
de João Simões Lopes Neto
O objetivo
principal da tese de doutoramento intitulada Histórias do Bruxo Velho: a recepção da obra de João Simões
Lopes Neto (PUCRS, jan. 2001) consistiu em justificar a atualidade
da obra ficcional de Simões Lopes e verificar os motivos pelos quais ela se
mantinha viva, ou seja, em constante reedição e diálogo com o público leitor.
Esse questionamento surgiu na medida em que um retrospecto na carreira
literária do escritor permitiu registrar o silêncio inicial por parte dos
leitores acerca de sua produção e circulação. Publicados, respectivamente, em
1910, 1912 e 1913, os livros Cancioneiro
guasca, Contos gauchescos e Lendas do Sul não alcançaram uma recepção favorável, já que, além do
depoimento pioneiro de Antônio de Mariz, em 1913, sobre os Contos gauchescos, até 19223 não existem leituras documentando a
recepção da obra. Com a morte do escritor, em 1916, os registros necrológicos
também não fizeram mais do que uma leitura superficial de sua obra, dando
ênfase apenas ao Simões Lopes jornalista, folclorista, patriota e conhecedor da
sua terra e da sua gente.
Outro
motivo utilizado para comprovar a recepção desfavorável, principalmente por
parte das editoras, foi a reedição dos Contos gauchescos e Lendas do Sul
em 1926, isto é, treze anos após a primeira publicação pela Editora Echenique, de Pelotas. A terceira
edição surgiu somente em 1949, vinte e três depois da impressão de 1926. Mesmo
assim, não se pode negar que, nos anos vinte, trinta e quarenta, a crítica
local tenha passado a discutir a obra do escritor, pois, em 1924, o nome de
Simões Lopes foi incluído na primeira História
literária do Rio Grande do Sul, escrita pelo poeta e historiador da
literatura João Pinto da Silva.
Em
aproximadamente quarenta anos, entre 1913 e 1949, localizaram-se apenas
quatorze ensaios enfocando a obra do escritor pelotense, perfazendo a média de um texto crítico a cada três
anos. As demais referências encontradas são extremamente superficiais e
fragmentadas, e não chegam a compor uma crítica no sentido restrito da palavra.
Além disso, assim como as edições da Echenique, a publicação de 1926 não teve
nenhuma reedição nos vinte anos seguintes. Apenas a de 1949, composta com
primor gráfico e crítico, teve diversas reimpressões subseqüentes até os anos
setenta, quando o acervo da Editora Globo, detentora dos direitos autorais de
Simões Lopes, foi transferido para uma empresa do Rio de Janeiro.
Tomando
tais dados iniciais e comparando-os com a recepção crítico-editorial posterior
aos anos quarenta, pôde-se perceber como o discurso crítico evoluiu
quantitativamente e aumentou, de modo significativo, o interesse editorial pela obra de Simões
Lopes Neto. Além das várias reedições pela Globo (em 1950, 1951, 1953, 1957, 1961, 1965 e 1973), Contos gauchescos e Lendas
do Sul também foram traduzidos para o italiano em 1956 e impressos pela
editora carioca Agir, em 1957. Nos anos oitenta, surgem, pelas editoras Globo (1983) e Presença (1988),
novas edições dessas duas
obras. Na década de noventa, foi possível localizar doze edições completas ou
parciais das obras de Simões Lopes, feitas por diferentes editoras do Rio
Grande do Sul e do centro do país.
De posse
desses dados editoriais e críticos e tendo como base a teoria da estética da recepção, delineou-se o
objetivo de justificar a atualidade da obra do contista pelotense, verificando
os motivos pelos quais ela se mantinha viva. Para tal, foi necessário, inicialmente, recuperar a fortuna
crítica do escritor, desde 1913 até 1998. Depois, de posse desse material, verificaram-se
os sentidos referentes à obra que mais se propagaram ao longo do tempo e que
poderiam ser utilizados para justificar a atualidade dos textos literários. Da
mesma forma, foi analisada a variação compreensiva da obra ao longo do tempo e localizados os principais
momentos de ruptura.
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Fonte:
Fonte:
João Claudio
Arendt: “As fontes de
pesquisa para estudo da recepção da obra de Simões Lopes Neto”. MÉTIS: história & cultura – ARENDT,
João C. – p. 81-92.
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