22/03/2014

Arras por Foro de Espanha, de Alexandre Herculano

 Arras por Foro de Espanha, de Alexandre Herculano
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Diálogos entre História e Literatura:

O ponto de partida da presente discussão recai sobre a produção textual ficcional vista como suporte importante para a apreensão de pontos de vista e percepções de mundo de um autor, que podem auxiliar no desvendar acerca dos julgamentos de um período histórico.

Desse modo, “(...) a literatura, compreendida como uma manifestação cultural, permite o registro de um movimento que insere o homem em sua historicidade e apresenta chaves explicativas das idéias de uma determinada sociedade, abrindo ao historiador um novo campo para a pesquisa”.

No caso de Alexandre Herculano, contemporâneo da ascensão do gênero do romance e da sociedade liberal e burguesa em Portugal, que possui uma ampla produção ficcional, nada mais lógico para o historiador se debruçar sobre este específico campo literário para desvendar, com mais acuidade, as visões de mundo do autor sobre a sociedade em que vivia e também seus julgamentos a respeito do conhecimento
histórico.

Os estudos críticos preocupados em verificar, na obra historiográfica de Alexandre Herculano, em destaque para as obras História de Portugal (1846 -1853) e História do Estabelecimento da Inquisição em Portugal (1854-1859), a presença de um movimento histórico ligado a uma finalidade que se constitui historicamente e possuidora de um 405 O historiador Fernando Catroga aponta sete edições do Eurico no período que Herculano esteve vivo. aspecto transcendental, negligenciaram a verificação do mesmo dado nas principais produções literárias de Herculano, que são seus romances históricos.

O romance, visto não só como gênero literário, mas também como rico instrumento de pesquisa, pelo seu suporte ideológico e por possuir elementos reveladores de mudanças históricas nas sociedades européias modernas, remete-se, do mesmo modo, a Portugal oitocentista.

Do mesmo modo que no restante da Europa, onde a ascensão do romance esteve ligada ao advento duma consciência romântica, baseada em visões de mundo contrastantes em relação às mudanças provocadas pelo advento da sociedade moderna industrializada, em Portugal o fenômeno histórico obedeceu ao mesmo princípio.

Pensando na relação da literatura com a dinâmica histórica do mundo podemos dizer que por meio do romance: “(...) assistimos ao processo lento e gradual de transformação das idéias e ilusões particulares de uma classe em ascensão em valores universais, isto é, em representações coletivas e universalmente válidas, uma vez que muitos de nossos autores assumiram o papel de seu porta-voz. O novo gênero teria, dessa forma, desempenhado função importante na criação de uma espécie de identidade de classe para os estratos médios ascendentes,(...). Trata-se de uma porta de entrada, um modo de ver como a nova classe foi construindo sua hegemonia cultural, conforme explicou Antonio Gramsci, pela obtenção de consenso para seu universo de valores, de normas morais, de regras de conduta, (...)”.

O romance, como representante ideológico dos novos valores burgueses, como de liberdade política e autonomia dos sentimentos em relação às convenções sociais, também deve ser encarado a partir da crítica feita ao advento da modernidade capitalista, fruto de processos históricos realizados pela própria burguesia.

O movimento romântico, inserido a partir das conseqüências da dupla Revolução (Industrial e Francesa), e conduzido pelo gênero romanesco, refletiu como nenhum momento cultural anterior, sobre sua realidade, como lugar de rupturas, continuidades e utopias, e antecedentes históricos. “O mundo como história é o objeto do romance, em que o caráter temporal e histórico da ação humana é problema sempre crucial e sempre presente para o romancista”.

Assim como Georg Lúckacs e Lucien Goldmann, a pesquisadora Sandra Guardini Vasconcelos julga que o advento do romance esteve ligado às condições históricas do seu tempo, e se constituiu, como ponto crítico, na busca de um novo sentido de vida em um mundo corroído nas suas estruturas qualitativas e coberto de incertezas acerca de seus destinos.

Para Sandra Vasconcelos: “O desafio que se põe para os romancistas é o de figurar essa dinâmica social, de perceber a sociedade humana em seu movimento e de empreender o esforço de dar sentido e unidade a um mundo que começava a se desenhar como caótico e fragmentado, que apartava o privado e o público, o geral e o particular, o típico e o individual. A passagem de uma sociedade de status e privilégio para outra da aristocracia do dinheiro, a ruptura dos nexos entre homem e comunidade, a condição de permanente mobilidade, a indeterminação da posição do sujeito no mundo, a busca de identidade constituíram uma nova realidade que se objetivou numa forma literária nova, que buscava, na apreensão e representação do real, captar esse movimento da vida contemporânea. Os embates do indivíduo com a ordem social passam então a ser tema privilegiado do romance, que encena o choque entre a “poesia do coração” e a “prosa do mundo” .

No caso de Portugal, a definição das origens de temas pertencentes a uma consciência romântica, como o subjetivismo e o sentimentalismo, são bastante controversas, sendo discutidas, de perspectivas diferentes, por diversos autores e especialistas.

Numa perspectiva de continuidade de temas literários e de novos horizontes estéticos, a sensibilidade romântica pode ser encontrada nos escritos de Bocage e nas influências de gostos literários levados a Portugal pela Marquesa de Alorna, para uma série de jovens escritores, entre eles, Alexandre Herculano. Mas, como Escola literária e artística, o Romantismo português parece ter surgido com força, somente na década de 30.

O Romantismo em Portugal, assim como em outros países da Europa, está vinculado às condições históricas de seu tempo, como ponto crítico e de análise à realidade que está inserido. Desse modo, apesar do termo “romântico” aparecer pela primeira vez, em 1825, no poema “Camões” de Almeida Garrett, foi só com o afastamento do absolutista D.Miguel do poder, em 1834, e com o início de uma monarquia constitucional de orientação liberal e inspirada pelas leis de Mouzinho da Silveira (que aboliram os direitos senhoriais) e as de Joaquim António de Aguiar (confiscando totalmente os bens da Igreja), ou seja, no estabelecimento de uma ordem burguesa, que o Romantismo conseguiu triunfar.


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Fonte:
Leonardo de Atayde Pereira: “O sentido de História para Alexandre Herculano: uma interpretação romântica (1830 – 1853)”. (Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Departamento de História. Área de História Social. Orientador: Prof. Dr. Lincoln Ferreira Secco). Universidade d
e São Paulo -   USP, 2009 .

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