23/03/2014

A Rosa do Adro, de Manuel Maria Rodrigues

 A Rosa do Adro, de Manuel Maria Rodrigues
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Valores sociais disseminados em A Rosa do Adro

As regras de convivência social estabelecidas por instituições específicas das sociedades (o Estado ou a igreja, por exemplo) passam pela relação que essa mesma sociedade realiza a partir da linguagem e da cultura desenvolvidas por seus integrantes. Com isso, a divulgação de tais regras, sejam elas de ordem moral ou religiosa, é prevista, justamente, a partir do jogo interativo entre construção, preservação e transformação dos valores defendidos/estabelecidos em relação à liberdade de atitudes de seus indivíduos, ao mesmo tempo em que se apóia na necessidade da lei ou da norma, que por si só não a esgotam.

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Já o senso de justiça é a moral mais instrutiva, pois representa a balança, a igualdade, a regra e o regulamento que designam a retidão dos hábitos a serem adquiridos. Enquanto virtude moral, este consiste na vontade constante e firme de dar a “Deus” e ao próximo o que lhes é devido. Faz crescer a consciência da necessidade da justiça, incutindo, no agir humano, a ligação existente entre direitos e deveres. Esse senso de justiça e retidão supõe, ainda, uma ação responsável que aponta para a reciprocidade entre pessoas e classes sociais, ao superar toda a forma de discriminação de sexo, cor, raça ou classe, isto porque a dignidade humana é e deve ser comum a todos. Nesse contexto, o sentimento de solidariedade é praticamente uma exigência, especialmente no que concerne às ações de caridade e ajuda aos empobrecidos, aos mais marginalizados ou até aos excluídos de alguma forma, dos círculos sociais existentes.

Dessa forma, a moral social influencia o comportamento humano, seus sentimentos de honra, solidariedade e piedade. No cumprimento dessas regras e valores que a moral preserva, porém, o homem tem a oportunidade de escolha, podendo obedecer ou não a determinada exigência. Essa liberdade, entretanto, coloca em xeque a responsabilidade e a consciência de cada indivíduo, uma vez que a própria realidade humana demonstra por si só outra realidade que se contrapõe às virtudes, somos vasos de barro, frágeis, passíveis de deslizar no próprio orgulho, numa inversão do ser virtuoso, ou seja, há uma maior propensão para o vício e o pecado, daí que os méritos do homem em sociedade sejam consequentemente muito relativos, porque se torna necessária a idéia de um constante empenho no aperfeiçoamento de valores. É um caminho que se faz e se refaz intermitentemente.

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Num momento em que as relações humanas e sociais se encontravam conturbadas dentro de um contexto de alterações na economia, na política, na ciência e na tecnologia, a necessidade de impor um sentido de moralidade e da revisão de valores torna-se premente. O sentido moral presente no melodrama, portanto, mais o fato de ser permeado por preceitos éticos religiosos, que pregam a premiação das virtudes e a punição dos vícios, facilitou o entrelaçamento entre esta forma artística e a religião, encontrando através do entretenimento um meio de demonstrar, no palco, a necessidade da moralidade, do combate ao crime e da virtude.

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Tudo o que vimos apresentando até aqui é muito presente na obra escolhida para análise nesta dissertação: A Rosa do Adro. Como podemos observar, desde o título até o desenlace final, toda a peça é entrecortada por mensagens que evocam o distanciamento entre as classes e, ainda, o poderio daquelas mais abastadas em relação à classe operária. Assim, no caso deste texto, o amor entre Rosa e Fernando não pode, em princípio, ser consumado porque ela é de classe social inferior e conforme os ditames da sociedade de sua época, a ascensão social é muito restrita. Uma melhor visualização do que apresentamos pode ser feita a partir da observação dos quadros abaixo, nos quais destacamos alguns diálogos mais emblemáticos, que exemplificam bem as circunstâncias utilizadas na construção do enredo melodramático, para conscientizar a platéia a respeito das regras e valores aceitáveis socialmente. Procuramos, nesse caso, traçar um paralelo entre o romance de Rodrigues [1870] (2001) e as adaptações que foram criadas, numa tentativa de destacar, por exemplo, a mudança de personagens na transposição do romance para os textos dramáticos apresentados. A nosso ver, essas alterações, além de servirem a um propósito técnico da elaboração do texto teatral, isto é, à economia de ações - característica da qual o teatro é o mais fiel guardião – servem também ao propósito de, ao dar aos personagens masculinos a “voz da razão”, transmitir conselhos e ensinamentos, preservar o senso patriarcal da sociedade daquela época.


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Fonte:
Juliana Assunção Fernandes: “Texto narrativo / texto dramático: uma análise de A Rosa do Adro”. (Dissertação de Mestrado apresentada no âmbito do Curso Integrado de Estudos Pós-Graduados em Lingüística, variante Lingüística Aplicada ao Ensino do Português, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Porto, 2007, disponível em: http://repositorio-aberto.up.pt/

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