16/02/2014

Mucufos, de Valdomiro Silveira

 Mucufos, de Valdomiro Silveira
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A epopéia caipira em Valdomiro Silveira

A preocupação em elaborar uma identidade étnico-cultural brasileira foi assumida com ardor pela  intelectualidade nacional. Na tentativa de descobrir os problemas brasileiros e como solucioná-los, os  intelectuais pautaram-se pelas teorias cientificistas européias, acomodando-as e adaptando-as à realidade  do País. Deste modo, eles portaram-se como os lumes, ou seja, os verdadeiros representantes dos novos  ideais, ao considerarem-se os únicos capazes de assegurar o futuro da nação brasileira.

No final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, a discussão em torno da criação e da  consolidação do Brasil como uma nação moderna deu-se no âmago dos debates da elite letrada. Isso  estimulou o próprio desenvolvimento da produção cultural e científica, pois para se firmar como nação era  necessário “vasculhar” a sua história. Os intelectuais do período buscaram freneticamente conhecer o País,  destacando a sua composição étnico-cultural, suas tradições, suas características lingüísticas, religiosas,  etc.

Esse processo levou a intelectualidade paulista a buscar para si uma representação do nacional,  voltada para sua história e elaborando um passado glorioso. Numa primeira etapa, esta intelectualidade  ressaltou o empreendimento bandeirante, acreditando ser ele o responsável pelo desbravamento e  ocupação dos espaços longínquos da “civilização”. No momento seguinte, época de sua hegemonia  econômica, com o desenvolvimento da lavoura cafeeira em terras desbravadas pelos bandeirantes,  despertou-se o interesse pelo caipira paulista.

Na transição do século XIX para o século XX, era forte a busca da tradição paulista mediante os  estudos sobre a História, a Geografia e a Antropologia da região, bem como o estímulo à criação de uma  literatura local. O Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, o Museu Paulista e a Academia Paulista de  Letras representaram muito bem as instituições norteadoras desse projeto. Uma série de autores,  vinculados ou não institucionalmente a estas agremiações, trouxeram à cena da literatura regional figuras  do caboclo e/ou do caipira. Valdomiro Silveira foi um dos seus expoentes.

O autor nasceu em Cachoeira Paulista, em 1873. Viveu sua infância e juventude no interior do Estado  de São Paulo, onde, aos 14 anos, já escrevia para os jornais de Casa Branca sobre assuntos políticos e  literários. Sua primeira publicação foi o soneto A Estátua, num jornal local, o Bem Público. Mais tarde  transferiu-se para São Paulo, diplomando-se em Direito pela faculdade do Largo de São Francisco no ano  de 1895. Este deslocamento espacial parece ter sido importante para Valdomiro Silveira no tocante a sua  construção ficcional. O distanciamento do mundo rural de sua infância despertou-lhe uma espécie de  nostalgia, implicando uma maior sensibilidade diante daquela realidade.

Em 1894, Valdomiro Silveira publicou o seu primeiro conto nitidamente regionalista, Rabicho, no  Diário Popular de São Paulo. Apesar de seu primeiro livro, Os Caboclos, vir a público somente em 1920, a  quase totalidade dos contos que compõem a sua obra foi escrita entre 1895 e 1896. Além de seu livro de  estréia, publicou: Nas Serras e nas Furnas (1931), Mixuangos (1937) e obra póstuma Leréias: histórias  contadas por elles mesmos (1945).

Além dos contos, Valdomiro Silveira publicou crônicas em diversos periódicos brasileiros,  principalmente no jornal O Estado de São Paulo. Segundo sua filha, Júnia Silveira Gonçalves, ele também  escreveu uma novela sertaneja, A Sina de Nhara, que não foi publicada, assim como dois outros livros de  contos, Mucufos e Caçadores, e também uma coletânea de assuntos vários, Simplicidade.

Há que se notar na construção ficcional de Valdomiro Silveira um traço particular no que diz respeito  à articulação temporal – com o presente da obra e com o tempo anterior a ela - na qual a memória foi a  protagonista não só da experiência pessoal do autor, mas também se encontrou configurada numa  preocupação referenciada nos ancestrais, daí uma memória heroicizante. Neste aspecto é que ela dialoga  com o mundo da epopéia, que conforme Bakthin é “o passado heróico nacional, é o mundo das ‘origens’ e  dos ‘fastígios’, da história nacional, o mundo dos pais e ancestrais, o mundo dos primeiros e dos melhores”.
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Fonte:
Célia Regina da Silveira: “A epopéia caipira em Valdomiro Silveira”. O Jornal O Lince – Dez/20019, disponível em: http://www.jornalolince.com.br/

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