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Fonte:
A epopéia caipira em Valdomiro Silveira
A preocupação em elaborar uma
identidade étnico-cultural brasileira foi assumida com ardor pela intelectualidade nacional. Na tentativa de
descobrir os problemas brasileiros e como solucioná-los, os intelectuais pautaram-se pelas teorias
cientificistas européias, acomodando-as e adaptando-as à realidade do País. Deste modo, eles portaram-se como os
lumes, ou seja, os verdadeiros representantes dos novos ideais, ao considerarem-se os únicos capazes
de assegurar o futuro da nação brasileira.
No final do século XIX e nas
primeiras décadas do século XX, a discussão em torno da criação e da consolidação do Brasil como uma nação moderna
deu-se no âmago dos debates da elite letrada. Isso estimulou o próprio desenvolvimento da
produção cultural e científica, pois para se firmar como nação era necessário “vasculhar” a sua história. Os
intelectuais do período buscaram freneticamente conhecer o País, destacando a sua composição étnico-cultural,
suas tradições, suas características lingüísticas, religiosas, etc.
Esse processo levou a
intelectualidade paulista a buscar para si uma representação do nacional, voltada para sua história e elaborando um passado
glorioso. Numa primeira etapa, esta intelectualidade ressaltou o empreendimento bandeirante,
acreditando ser ele o responsável pelo desbravamento e ocupação dos espaços longínquos da
“civilização”. No momento seguinte, época de sua hegemonia econômica, com o desenvolvimento da lavoura
cafeeira em terras desbravadas pelos bandeirantes, despertou-se o interesse pelo caipira
paulista.
Na transição do século XIX para o
século XX, era forte a busca da tradição paulista mediante os estudos sobre a História, a Geografia e a
Antropologia da região, bem como o estímulo à criação de uma literatura local. O Instituto Histórico e
Geográfico de São Paulo, o Museu Paulista e a Academia Paulista de Letras representaram muito bem as instituições
norteadoras desse projeto. Uma série de autores, vinculados ou não institucionalmente a estas
agremiações, trouxeram à cena da literatura regional figuras do caboclo e/ou do caipira. Valdomiro Silveira
foi um dos seus expoentes.
O autor nasceu em Cachoeira
Paulista, em 1873. Viveu sua infância e juventude no interior do Estado de São Paulo, onde, aos 14 anos, já escrevia
para os jornais de Casa Branca sobre assuntos políticos e literários. Sua primeira publicação foi o
soneto A Estátua, num jornal local, o Bem Público. Mais tarde transferiu-se para São Paulo, diplomando-se em
Direito pela faculdade do Largo de São Francisco no ano de 1895. Este deslocamento espacial parece ter
sido importante para Valdomiro Silveira no tocante a sua construção ficcional. O distanciamento do
mundo rural de sua infância despertou-lhe uma espécie de nostalgia, implicando uma maior sensibilidade
diante daquela realidade.
Em 1894, Valdomiro Silveira
publicou o seu primeiro conto nitidamente regionalista, Rabicho, no Diário Popular de São Paulo. Apesar de seu
primeiro livro, Os Caboclos, vir a público somente em 1920, a quase totalidade dos contos que compõem a sua
obra foi escrita entre 1895 e 1896. Além de seu livro de estréia, publicou: Nas Serras e nas Furnas
(1931), Mixuangos (1937) e obra póstuma Leréias: histórias contadas por elles mesmos (1945).
Além dos contos, Valdomiro
Silveira publicou crônicas em diversos periódicos brasileiros, principalmente no jornal O Estado de São
Paulo. Segundo sua filha, Júnia Silveira Gonçalves, ele também escreveu uma novela sertaneja, A Sina de
Nhara, que não foi publicada, assim como dois outros livros de contos, Mucufos e Caçadores, e também uma coletânea
de assuntos vários, Simplicidade.
Há que se notar na construção
ficcional de Valdomiro Silveira um traço particular no que diz respeito à articulação temporal – com o presente da
obra e com o tempo anterior a ela - na qual a memória foi a protagonista não só da experiência pessoal do
autor, mas também se encontrou configurada numa preocupação referenciada nos ancestrais, daí
uma memória heroicizante. Neste aspecto é que ela dialoga com o mundo da epopéia, que conforme Bakthin é
“o passado heróico nacional, é o mundo das ‘origens’ e dos ‘fastígios’, da história nacional, o mundo
dos pais e ancestrais, o mundo dos primeiros e dos melhores”.
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Fonte:
Célia Regina da Silveira: “A epopéia
caipira em Valdomiro Silveira”. O Jornal O Lince – Dez/20019, disponível em: http://www.jornalolince.com.br/
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