08/02/2014

Contos de um Instante, de Delminda Silveira de Sousa

 Delminda Silveira de Souza  - Contos e Instantes - Iba Mendes
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Lises e Martírios

Em Lises e Martírios, a textura das palavras não corresponde com leitura de um texto feminista, ou ao menos, com pretensões para tal. Ela se mantém dentro de uma formatação e uma expectativa eminentemente permitida. Contos de um Instante corresponde a última parte desse livro e é composto de vinte e dois contos; a maioria deles narrando fantásticas histórias de amor. Estes são os nomes dos contos: Edelweis, Na selva, Marabá, Agar, Caprichosa!, A Estrela da Bonança, As Rosas da Caridade, Uma recordação, O Desvalido, A Decapitada, Pensée, Rosas de Amor, Sonho, Bem-me-Queres, A Sina, O Destino, Almas Gêmeas, Pérolas e Lágrimas, Fantasia, Pobre Coração, Fantasia Mística e O Proscrito.

Em sua análise sobre os Contos de um Instante, a professora Zahidé Muzart afirma que os contos são todos de amor, amor e morte, e a maior parte deles se passa em lugares e épocas distantes, com um leve tom exótico. 65 Os professores e também pesquisadores, Lauro Junkes e Joana Pedro, chamam a atenção para a data de publicação desse livro visto que o prefácio é de 1885; o que sugere uma lacuna: o livro ficou esse tempo todo sendo preparado? Ou já estava pronto e não tinha editora? Ou ainda não tinha reconhecimento literário para tal? Essas e outras perguntas podem surgir. O fato é que publicar um primeiro livro com 352 páginas, dentre elas, poesias, contos, crônicas e poemas em prosa é uma ousadia para a condição feminina da época, numa época em que havia o reconhecimento do poeta e senador Luiz Delfino e do poeta Cruz e Sousa, conterrâneos de estilos bem diferentes do seu. O estilo narrativo proposto por Delminda Silveira é o romântico, fora do quadro literário da sua época, pois, enquanto Cruz e Souza e Luiz Delfino, por exemplo, estavam, ainda que preocupados com as sutilezas de seu tempo, escrevendo sobre os acontecimentos para uma população contemporânea a esses fatos, dedicavam-se à literatura simbolista, Delminda Silveira narrava histórias fantásticas de amor, onde a perfeição do casal apaixonado era vencida só pelos acontecimentos, que eram sempre catastrófica, inusitada, atemporal.

Mas não é por esse extemporâneo romantismo que Delminda Silveira inibiu os comentários sobre seus textos. As análises e interpretações de Lises e Martírios já ganharam algumas páginas de livros e dissertações. A Professora Zahidé Muzart, como já vimos, destaca que Lises e Martírios é mais voltado aos sentimentos de amor, saudade, dores íntimas... 67 De acordo com esse raciocínio, o Professor Lauro Junkes escreveu na introdução de Indeléveis Versos,

Lises e Martírios englobam poemas em que se exprime nitidamente o lirismo pessoal e intimista, em que a poeta se retrata e extravasa suas emoções. Percebe-se nesses poemas, inclusive a partir das próprias epígrafes transcritas, uma influência e aproximação bastante acentuadas de Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias e Victor Hugo. É que Delminda enraizou sua produção poética nos ideais do Romantismo, embora superasse, cronologicamente, essa Escola.

Nas palavras da própria escritora:

Entreteci - Lises e Martírios aos Crisântemos - em um singelo ramalhete que, para mim, jamais emurchecerá, pois é composto das flores de minha alma, nutridas com a seiva do meu coração.

E nas epígrafes de Teixeira Melo e Casimiro de Abreu, Delminda Silveira busca traduzir o tom das suas composições. Registra nas primeiras páginas de seu livro respectivamente aquelas epígrafes: São as flores da minha primavera; e Não passa de um ramalhete de flores próprias da estação.  Depois dessa apresentação, de nomes tão significantes para a literatura da época, Delminda escreve:

A primavera tem suas flores, seus cantos e risos, que traduzem esperanças, amores e venturas; as alvas da estação mimosa envolvem-se de rósea luz; as tardes, de suavíssimos palores; as noites, de perfume e luar. Porém enredando-se ás brancas açucenas, por entre os lírios cândidos, estende-se a selva espinhosa do Martírio, que abre em rubras, florsinhas, cingindo as mais delicadas plantas com sua grinalda de abrolhos; assim também, á doce melodia dos cânticos entremeia-se o suspirar da rola ao festivo dos risos, o eco melancólico das vozes do sino, perdendo-se na solidão do silêncio da tarde71.

E continua apresentando seu trabalho com a introdução do seu livro datada de 1885:

A primavera da minha vida, também teve suas flores, dulcíssimos cantos me embalavam os sonhos de esperança; o sorriso da alegria, por vezes, descerrou meus lábios, como o raio de sol á nacarina rosa do vale...
E eu colhi as flores todas da minha primavera... Entreteci Lises e Martírios aos Crisântemos em um singelo ramalhete que, para mim, jamais emurchecerá, pois é composto das flores de minha alma, nutridas com a seiva do meu coração.
Ai! pobres flores queridas!... Se um dia a crítica tentar espezinhar-vos, se a indiferença com seu hálito gelado vos crestar as pétalas mimosas, ai, pobres flores minhas! ainda assim, mesmo magoadas, ide perfumar as horas vagas daqueles que tiveram alma compassiva e sensível o coração; ou, antes: volvei para o meu seio, que, se para o mundo indiferente não tendes valor algum, para mim sois preciosas, pois resume da minha existência aquela quadra de encantos em que as lágrimas por vezes resplandecem á luz do sorriso, como o orvalho da madrugada aos esplendores do sol nascente.


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Fonte:
Fabiana Kretzer: Contos de um Instante. Universidade Federal de Santa Catarina. Orientação: Professora Dra. Tânia Regina de Oliveira Ramos. Florianópolis, 2001.

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