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Lises e Martírios
Em Lises e Martírios, a
textura das palavras não corresponde com leitura de um texto feminista, ou ao
menos, com pretensões para tal. Ela se mantém dentro de uma formatação e uma
expectativa eminentemente permitida. Contos de um Instante corresponde a
última parte desse livro e é composto de vinte e dois contos; a maioria deles
narrando fantásticas histórias de amor. Estes são os nomes dos contos: Edelweis,
Na selva, Marabá, Agar, Caprichosa!, A Estrela da Bonança, As Rosas da Caridade,
Uma recordação, O Desvalido, A Decapitada, Pensée, Rosas de Amor, Sonho,
Bem-me-Queres, A Sina, O Destino, Almas Gêmeas, Pérolas e Lágrimas, Fantasia,
Pobre Coração, Fantasia Mística e O Proscrito.
Em sua análise sobre os Contos
de um Instante, a professora Zahidé Muzart afirma que os contos são
todos de amor, amor e morte, e a maior parte deles se passa em lugares e épocas
distantes, com um leve tom exótico. 65
Os professores e também pesquisadores,
Lauro Junkes e Joana Pedro, chamam a atenção para a data de publicação desse
livro visto que o prefácio é de 1885; o que sugere uma lacuna: o livro ficou esse tempo todo
sendo preparado? Ou já estava pronto e não tinha editora? Ou ainda não tinha
reconhecimento literário para tal? Essas e outras perguntas podem surgir. O
fato é que publicar um primeiro livro com 352 páginas, dentre elas, poesias,
contos, crônicas e poemas em prosa é uma ousadia para a condição feminina da
época, numa época em que havia o reconhecimento do poeta e senador Luiz Delfino
e do poeta Cruz e Sousa, conterrâneos de estilos bem diferentes do seu. O
estilo narrativo proposto por Delminda Silveira é o romântico, fora do quadro
literário da sua época, pois, enquanto Cruz e Souza e Luiz Delfino, por exemplo,
estavam, ainda que preocupados com as sutilezas de seu tempo, escrevendo sobre
os acontecimentos para uma população contemporânea a esses fatos, dedicavam-se
à literatura simbolista, Delminda Silveira narrava histórias fantásticas de
amor, onde a perfeição do casal apaixonado era vencida só pelos acontecimentos,
que eram sempre catastrófica, inusitada, atemporal.
Mas não é por esse
extemporâneo romantismo que Delminda Silveira inibiu os comentários sobre seus
textos. As análises e interpretações de Lises e Martírios já ganharam algumas
páginas de livros e dissertações. A Professora Zahidé Muzart, como já vimos,
destaca que Lises e Martírios é mais voltado aos sentimentos de amor,
saudade, dores íntimas... 67 De acordo com esse raciocínio, o Professor Lauro Junkes
escreveu na introdução de Indeléveis Versos,
Lises e Martírios
englobam poemas em que se exprime nitidamente o lirismo pessoal e intimista, em
que a poeta se retrata e extravasa suas emoções. Percebe-se nesses poemas,
inclusive a partir das próprias epígrafes transcritas, uma influência e
aproximação bastante acentuadas de Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias e Victor Hugo.
É que Delminda enraizou sua produção poética nos ideais do Romantismo, embora
superasse, cronologicamente, essa Escola.
Nas palavras da própria
escritora:
Entreteci - Lises e
Martírios aos Crisântemos - em um singelo
ramalhete que, para mim, jamais emurchecerá, pois é composto das flores de
minha alma, nutridas com a seiva do meu coração.
E nas epígrafes de Teixeira
Melo e Casimiro de Abreu, Delminda Silveira busca traduzir o tom das suas
composições. Registra nas primeiras páginas de seu livro respectivamente
aquelas epígrafes: São as flores da minha primavera; e Não passa de um
ramalhete de flores próprias da estação. Depois dessa apresentação, de nomes tão significantes
para a literatura da época, Delminda escreve:
A primavera tem suas
flores, seus cantos e risos, que traduzem esperanças, amores e venturas; as
alvas da estação mimosa envolvem-se de rósea luz; as tardes, de suavíssimos
palores; as noites, de perfume e luar. Porém enredando-se ás brancas açucenas,
por entre os lírios cândidos, estende-se a selva espinhosa do Martírio, que
abre em rubras, florsinhas, cingindo as mais delicadas plantas com sua grinalda
de abrolhos; assim também, á doce melodia dos cânticos entremeia-se o suspirar
da rola ao festivo dos risos, o eco melancólico das vozes do sino, perdendo-se
na solidão do silêncio da tarde71.
E continua apresentando seu
trabalho com a introdução do seu livro datada de 1885:
A primavera da minha
vida, também teve suas flores, dulcíssimos cantos me embalavam os sonhos de
esperança; o sorriso da alegria, por vezes, descerrou meus lábios, como o raio
de sol á nacarina rosa do vale...
E eu colhi as flores
todas da minha primavera... Entreteci Lises e Martírios aos Crisântemos em um singelo
ramalhete que, para mim, jamais emurchecerá, pois é composto das flores de
minha alma, nutridas com a seiva do meu coração.
Ai! pobres flores
queridas!... Se um dia a crítica tentar espezinhar-vos, se a indiferença com
seu hálito gelado vos crestar as pétalas mimosas, ai, pobres flores minhas! ainda
assim, mesmo magoadas, ide perfumar as horas vagas daqueles que tiveram alma
compassiva e sensível o coração; ou, antes: volvei para o meu seio, que, se
para o mundo indiferente não tendes valor algum, para mim sois preciosas, pois
resume da minha existência aquela quadra de encantos em que as lágrimas por
vezes resplandecem á luz do sorriso, como o orvalho da madrugada aos esplendores
do sol nascente.
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Fonte:
Fabiana Kretzer: Contos de um Instante. Universidade Federal de Santa Catarina. Orientação: Professora Dra. Tânia Regina de Oliveira Ramos. Florianópolis, 2001.
Fabiana Kretzer: Contos de um Instante. Universidade Federal de Santa Catarina. Orientação: Professora Dra. Tânia Regina de Oliveira Ramos. Florianópolis, 2001.
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