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O tempo e o ser literário em Florbela
Espanca
Até agora
eu não me conhecia,
Julgava
que era Eu e eu não era
Aquela que
em meus versos descrevera
Tão clara
como a fonte e como o dia.
Na obra de
Florbela Espanca, encontramos a fantasia desbordante do inconsciente, destinada a
debilitar a importância do objeto para obter uma supervalorização do sujeito. Florbela
foi, desde criança, tocada pelo medo de mudanças, do mecanismo do envolvimento nas modificações da vida: Aos
oito anos
já escreve versos e discursa à moda dos comicieiros da terra. ‘A minha dor é um convento’ – diz, e procura ob ter, por
intermédio da poesia, proteção contra o mundo exterior. Sua obra caracteriza-se
pelo viés do decadentismo e variantes temáticas, tais como o silêncio, a
natureza, o sonho, a mitologia, a morte e relações intertextuais. Segundo Trevisan,
ao compará-la com Cecília Meireles, ambas mostram os seus aspectos ideológicos
sob o ponto de vista de Hayden White, o qual apresenta uma perspectiva culturalista
para os estudos literários. No processo intertextual percebe-se que estão em sintonia
com suas manifestações poéticas, líricas e temáticas, isso porque a poesia moderna projeta a dispersão
do eu em direção
ao mundo do desejo e da utopia, onde o poema torna-se um espaço possível de liberdade, aberto desde o
Romantismo.
Segundo Rezende, as questões do feminino e do erótico,
presentes nas obras de Florbela Espanca, sob a ótica comparatista, ampliam os
limites da poesia da época, ao criar versos em que dá voz à sensualidade, ao enfatizar
o corpo como um lugar em que as paixões se embatem, característica que a torna pioneira,
no início do século XX, em Portugal e, respectivamente, na criação de uma literatura
que se volta para essas temáticas. Ao se refletir sobre a maneira que Florbela articula
o tema do erotismo em seus versos, é possível ver similaridades e diferenças que confirmam
e ampliam os limites do que se sabe sobre a poesia feminina e, ao mesmo tempo, valorizam
a individualidade de Florbela. Para Rezende, Florbela se serve do soneto, o
qual era moda na época, para expressar as emoções represadas em seu íntimo e revelar
o seu prazer ou desprazer, o seu recato ou a sua ousadia e os reflexos dos
momentos idealizados ou vividos pela paixão.
O
decadentismo português, movimento que surgiu a partir de 1880, devido a crítica
feita por Paul Bourget sobre a poética de Baudelaire, caracterizando de decadentes
as obras que continham aspectos mórbidos em criações e, repassadas de pervertido misticismo
e morfinomaníaco deixa uma certa herança na obra florbeliana, que refletia os valores
culturais do começo do século, também do simbolismo, mas que, segundo Moisés, vai colocá-la numa espécie de
interregno, sem vínculo maior com as tendências em voga. Segundo Saraiva, o Simbolismo
constituiu uma corrente importada e pouco definida entre os portugueses. Os
temas do sonho evasivo, da intuição vidente, da mística oculta e os textos cheios
de símbolos
de sinestesias, tenderam a diluir-se entre os diversos ramos literários da época,
em uma sociedade ainda muito agrária, cuja proclamação da República ocorrerá em
1910, com uma bifurcação de correntes - passadistas: neogarretismo, lusitanismo,
nacionalismo e integralismo; - e por outro lado a Renascença Portuguesa e o saudosismo.
Devido Florbela Espanca não se situar diretamente numa ou noutra escola literária, percebemos,
como Saraiva, que a arrumação de autores por grupos, escolas ou concepções de vida
é um simples método de exposição(...) e não nos deve fazer esquecer a
multiplicidade e fluência concretas das personalidades e das obras literárias. Assim,
segundo Saraiva, Florbela Espanca é uma das notáveis personalidades líricas
isoladas, pela intensidade de um emotivo erotismo feminino (...).
Ao propor
debater a poesia feita por mulheres, Maria Lúcia Dal Farra discorre sobre o gênero da escrita, o qual passa por um fingimento
poético, de forma que não é difícil uma mulher praticar uma escrita feminina e uma
masculina, assim também o homem. Então, Dal Farra questiona sobre como é possível,
na poesia feminina, analisar a maneira da mulher expor os seus assuntos mais
íntimos, a sua intimidade. Tem-se, no texto, como referente, as obras de Florbela
Espanca, Gilka Machado e Cecília Meireles, cujos trechos são analisados em decorrência
de como essas poetas tratam
a temática da vida feminina.
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Fonte:
Elizete Dall’com Une Hunhoff: “O Tem po: fator de identidade nas obras de Florbela Espanca e de Cecília Meireles”. (Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutora em Letras. Orientadora: Profa. Dra. Maria dos Prazeres Santos Mendes). São Paulo, 2008.
Elizete Dall’com Une Hunhoff: “O Tem po: fator de identidade nas obras de Florbela Espanca e de Cecília Meireles”. (Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutora em Letras. Orientadora: Profa. Dra. Maria dos Prazeres Santos Mendes). São Paulo, 2008.
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