09/02/2014

Contos de Filaho de Almeida (Com Ensaio Biográfico)

 Contos de Filaho de Almeida, incluindo A Ruiva

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Fialho: um escritor marginal

Sou um egoísta cruel, mergulhado, não como Hamlet da Dinamarca na sua eterna dúvida, mas no meu frio e amargo egoísmo e numa desilusão sinistra de tudo e de todos. (Fialho de Almeida. Páginas de miséria – Confissões).

Amado por uns e odiado por outros, José Valentim Fialho de Almeida sempre conquistou a atenção das pessoas. Fosse por sua obra, fosse por sua personalidade singular, o fato é que, após sua presença, algo permanecia por comentar, ainda que nem sempre o comentário fosse favorável à postura do escritor. A julgar pelos relatos de contemporâneos, a critica que Fialho provocou justifica-se perfeitamente. Conforme relata Câmara Reis, um dos seus contemporâneos, o autor de Os Gatos se apresentava nas reuniões vestido de “cinta vermelha, chapéu desabado e de jaleca e calça verde-gaio” (BARRADAS, 1917, p.69), o que, de fato, justifica certos comentários a seu respeito, devido ao modo estranho e espalhafatoso de trajar. Contudo, o que se falava parece justificar-se não na indumentária, mas no polêmico temperamento, uma vez que discutia e revoltava-se contra as vigentes formas de poder, investindo contra todos aqueles que divergiam de seus pontos de vista.

Todavia, todos os comentários parecem não abalar Fialho; muito ao contrário. Ele pretendeu ser reconhecido como um escritor marginal e passar à posteridade como um escritor maldito (COSTA, 2004, p.5), condenado ao anonimato e “proibido do sucesso pelo mau sestro de não poder ser lido por senhoras” (AE, p.14).

O próprio Fialho revela, aos trinta e cinco anos, em sua autobiografia intitulada “Eu” (publicada no número 60 da Revista Ilustrada, em 1892, e posteriormente incluída em À Esquina) que os contemporâneos lhe garantiram a reputação de “desequilibrado indolente”, de “galicista” e de “colérico” (AE, p.14). Ao que parece, essa radical negatividade com que os contemporâneos o criticam é expressão de uma atitude pouco social por ele mesmo assumida e reconhecida, fruto de “uma desilusão sinistra de tudo e de todos” e dos germes da misantropia: “a orgulhosa misantropia do cavador d’aldeia que [nele] há” (VI, p.320).

De fato, Fialho sempre foi considerado um escritor “temperamental”, revoltado contra o poder político vigente, contra as formas de instituição, inclusive as formas literárias/artísticas em voga. Particularmente consciente das tensões estéticas, que, pela profissão jornalística, ocuparam as páginas de sua crítica, mesmo porque eram pertinentes e necessárias (os artigos de crítica mordaz, encontrados nos seis volumes de Os Gatos, e as inúmeras contribuições nos jornais da época nos dão provas cabais da consciência social, política e econômica que Fialho possuía do país, bem como das questões artísticas em voga), o escritor recusa qualquer academismo em prol da tentativa de construção de uma obra original, que ratifique a identidade de jornalista e escritor. Como bem diz Jacinto do Prado Coelho, “no caso de Fialho, (...) creio que um simples confronto da sua obra com a dos grandes e pequenos escritores da mesma época e as idéias literárias então vigentes bastará para demonstrar quanto era diferente e rebelde a pressões de escola o autor d’O país das uvas” (COELHO, 1996, p.187), ainda que sofresse influência do fértil meio literário a que teve acesso e com o qual conviveu em Portugal – afinal Fialho era um homem do seu tempo.

Fialho vai atacar particularmente os medíocres jornalistas que se vendem por interesse ao gosto da moda ou de acordo com as exigências do mercado, fato que, na opinião do escritor, acaba “desviando a consciência pública de todas as idéias justas” (P, p.211-20).

O escritor terá uma postura contrária a esses jornalistas, pois, escrevendo em terreno minado pelas conseqüências provocadas pelo Ultimatum inglês de 1890, passa a assinar seus artigos com pseudônimo de Valentim Demônio ou de Irkan, o lhe servirá de máscara para descarregar sua língua feroz contra a situação política de Portugal, atacando (ou arranhando, como é instintivo do “gato bravo”, que considera a si próprio) principalmente a realeza.


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Fonte:
Lilian Cristina da Silva Vieira: “A imaginação grotesca na prosa de Fialho de Almeida: uma “diabólica óptica deformante”. (Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Literatura Portuguesa). Orientadora: Professora Doutora Luci Ruas Pereira). Rio de Janeiro, 2008.

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