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Os livros estão em ordem alfabética: AUTOR/TÍTULO (coluna à
esquerda) e TÍTULO/AUTOR (coluna à direita).
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Porque me ufano do
meu país. Right or wrong, my country
O livro é dedicado aos
filhos – Affonso Celso de Ouro Preto, Carlos Celso de Ouro Preto e à memória de
João Paulo de Ouro Preto – e
escrito para “celebrar a nossa Pátria o quarto centenário do seu descobrimento”.
Foi concluído em Petrópolis, Rio de Janeiro, no dia 8 de setembro de 1900. Desde
a primeira edição, consta abaixo do título o sugestivo subtítulo right or
wrong, my country, dístico que é a síntese mais perfeita do ufanismo nas tradições
anglo-saxônicas e em língua inglesa (MARTINS, 1978, p. 148). A editora Laemmert
publicou a primeira edição em 1901,
a qual es- gotou-se em alguns meses, fazendo nova edição
no mesmo ano. Foi editado em tamanho in-16,
com 204 páginas. A partir dessa edição, passou a ser publicado pela livraria
Garnier (Rio de Janeiro/Paris), com o mesmo número de
páginas, mas in-18 (quinta edição, 1912; sétima edição, 1915; décima edição,
1926; décima primeira edição, 1937; décima segunda edição, pela F. Briguet,
1943). Na décima edição, de 1926,
a obra foi revista e atualizada, e compôs a “Coleção dos
Autores Célebres da Literatura Brasileira”. Essa edição, em tamanho in-12, tem
uma tiragem de 10.000 exemplares numerados, o que permite verificar o grande
sucesso da obra vinte e cinco anos depois.
O seu sucesso também pode
ser aquilatado pelas inúmeras traduções – francês, alemão, inglês e italiano.
Para o francês, foi traduzido por M. C. (Condessa de Serra Negra), com o título
Pourquoi je m’enorgueillie de mon pays, com uma notícia preliminar da
tradutora sobre o autor e com inúmeras fotografias, as quais não constam na
edição brasileira. Foi editado pela Garnier em 1912, com 276 páginas, com a
seguinte observação petit livre
de vulgarisation qui renferme une documentation assez sûre. A tradu- ção
para o alemão foi feita por Herman Faulhaber, com o título Warum Bin ich
stolz auf mein Vaterland?, tendo sua terceira edição em1910 (Berlim, O.
Brandstetter). A obra não apresenta bibliografia, mas na última página consta
uma nota em que o autor esclarece ao leitor as fontes utilizadas – “Os
principais fatos e observações componentes deste opúsculo, colheu-as o autor
nos livros de Elisée Reclus, Robert Southey, Porto Seguro, Wappoeus, João
Francisco Lisboa, Barão de Rio Branco, João Ribeiro e outros que escreveram
sobre o Brasil”. Complementa a nota com a observação de que “nem sempre foram
citados nomes e obras, com indicações precisas, por se tratar de ligeiro
trabalho de vulgarização”.
A leitura da obra permite
ainda identificar outros autores e leituras realizadas: Américo Vespúcio; Pero
Vaz de Caminha; Padre Simão de Vas- concelos – Notícias Curiosas; Rocha
Pitta – História da América Portuguesa; Simão Estácio da Silveira;
Alexandre Humboldt; Maurício Lamberg; Gonçalves
Dias; Augusto Fausto de Souza – A Bahia do Rio de Janeiro, sua história e
descrição de suas riquezas; Agassiz; Pieter Wilhen Lund; Victor Hugo;
Oliveira Martins; Oliveira Viana; Ernest Renan.
A obra está dividida em
42 pequenos capítulos, os quais procuram demonstrar a superioridade brasileira,
a partir de onze argumentos e fatos: grandeza territorial, beleza física,
riqueza, variedade e amenidade do clima, ausência de calamidades, excelência dos
elementos que entraram na formação do tipo nacional, não ter sido povoado por
degradados, os nobres predicados do caráter nacional, nunca sofreu humilhação e
nunca foi vencido, procedimento cavalheiresco e digno com os outros, as glórias
a colher a sua história.
No capítulo 40, o autor faz
um resumo das grandezas do Brasil, em que evidencia o espírito otimista e
entusiástico que o anima a provar que ser brasileiro significa
distinção e vantagem, incitando o leitor a propagá-los, cultivá-los e
engrandecer o amor pelo país, mote da obra. Para o autor,
...o Brasil constitui um
dos mais vastos países da terra, capaz de conter toda a população nela
existente; reúne imensas vantagens a essa grandeza territorial, quais a
situação geográfica, a homogeneidade material e moral, o progresso constante; é
belíssimo; possui riquezas incalculáveis; goza de perpétua primavera, sem
jamais conhecer temperaturas extremas; não sofre calamidades que costumam
afligir a humanidade; resulta a sua população da fusão de três raças dignas e
valorosas raças; bom, pacífico, ordeiro, serviçal, sensível, sem preconceitos,
não deturpa o caráter desse povo nenhum vício que lhe seja peculiar, ou defeito
insusceptível de correção; nunca sofreu humilhações, nunca fez mal, nunca
perdeu uma polegada do seu solo, nunca foi vencido, antes tem vencido poderosas
nações; sempre procedeu honesta e cavalheiramente para com os outros povos,
livrando, com absoluta abnegação, de odiosas tiranias seus vizinhos mais
fracos; cheio de curiosidades naturais, depara elevadas glórias a quem estudar
e amar; na sua história, relacionada com os mais notáveis acontecimentos da
espécie humana, escasseiam guerras civis e efusões de sangue, sobejando feitos
heróicos, formosas legendas, preclaras figuras, luminosos exemplos; primeiro
país autônomo da América Latina, segundo do Novo Mundo, sempre manifestou
espírito de independência, desfrutou liberdades desconhecidas em outras nações,
mostrou-se apto para todas as melhorias, produziu representantes distintos em
qualquer ramos de atividade social, resolveu com calma e sensatez, à luz do
direito, a mór parte das suas questões, acolheu carinhosamente quem quer que o procurasse,
aumentou sem cessar.
Após essa extensa lista de
fatos, que comprovam a
superioridade brasileira, o autor conclui que “o brasileiro passa dias mais
felizes, dias mais tranqüilos, mais risonhos, mais esperançosos que o alemão, o
francês, o inglês”.
Para Affonso Celso, os
traços principais do nosso caráter nacional seriam:
...sentimento de
independência, levado até à indisciplina; hospitalidade; afeição à ordem, à
paz, ao melhoramento; paciência, resignação; doçura, longanimidade,
desinteresse; escrúpulo no cumprimento das obrigações contraídas; espírito
extremo de caridade; acessibilidade, que degenera, às vezes, em imitação do
estrangeiro; tolerância, ausência de preconceitos de raça, cor, religião,
posição; honradez no desempenho de funções públicas ou particulares.
Para reforçar suas
idéias, citas as palavras balizadas de Victor Hugo sobre os brasileiros: “sois
homens de sentimentos elevados, sois uma generosa nação. Tendes a dupla
vantagem de uma terra virgem e de uma história antiga. Um grande passado
histórico vos liga ao continente civilizador. Reunis a luz da Europa ao sol da
América”.
O autor não faz
referência às mazelas que afligem o Brasil: analfabetismo, epidemias,
catástrofes, escravidão etc. Por exemplo, quando se refere à escravidão,
relativiza suas graves conseqüências e procura demonstrar o processo pacífico, natural,
em pé de igualdade que foi a incorporação da população escrava “muitos
continuando a trabalhar, sem ressentimentos recíprocos, ao lado dos seus
ex-donos”. O quadro trágico da realidade nacional é pintado com muitas
cores, nuançado ao leitor, através da significativa questão final: “em que
ponto do globo, em que página da história se registra uma revolução social, econômica
e política desta magnitude e alcance, executada de maneira tão nobre?”.
(p. 187)
Quanto ao futuro, o autor
é de um otimismo magnífico, excessivo:
“viveremos, cresceremos,
prosperaremos. A educação, o aperfeiçoamento, hão de vir. Somos ainda uma
aurora. Chegaremos necessariamente ao brilho e ao calor do meio dia. (...)
Cumpre que a esperança se torne entre nós, não uma virtude, mas estrita
obrigação cívica” (p. 198). Apesar dessa exaltação, o autor não deixa de
sinalizar ao leitor os perigos que ameaçam o Brasil: maus governos;
separação do território nacional em vários Estados; intervenção nos seus
negócios de alguma potência estrangeira; problemas relativos à afirmação de uma
república nacional e internacionalmente reconhecida. Conclui esse capítulo
citando Ernest Renan – “o que une e constitui as nações é o sentimento do
passado, a posse em comum de um rico legado de tradições, o desejo de viver
juntos e a incessante vontade de manter e continuar a fazer valer indivisa a
herança recebida”, reforçando a premissa “depende simplesmente dos brasileiros
unir e constituir assim o Brasil”. (p. 195)
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Fonte:
Fonte:
Maria Helena Câmara Bastos: “Amada
pátria idolatrada: um estudo da obra Porque me ufano do meu país, de Affonso
Celso (1900)”. Educar em Revista, núm. 20, 2002, pp. 1-16, Universidade Federal
do Paraná, Brasil, 2002, disponível em: http://www.redalyc.org/
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