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Bilac e a literatura infantil: civismo e ideologia nos primeiros Livros
para crianças brasileiras
Conhecido poeta da Belle Époque, Olavo Bilac
foi o autor brasileiro que mais produziu textos de ficção para as crianças
brasileiras até que Monteiro Lobato entrasse em cena no início da década de
1920. No mesmo período aproximaram-se dele, em volume de produção, somente o
seu mais freqüente colaborador, Coelho Netto, e João Köpke, este último
distinguindo-se dos demais por não enfatizar tanto os conteúdos cívicos.
Esta constatação soa surpreendente devido ao
pouco conhecimento que temos sobre estes livros que, não obstante, são os
fundadores da literatura infantil produzida no Brasil. Aqui considero
literatura infantil de uma maneira assumidamente restrita e conservadora, como
textos de caráter ficcional, escritos por adultos, intencionalmente para
crianças.
No que diz respeito à biografia
de Bilac, a importância que o autor atribuía à produção de livros infantis está
exemplarmente descrita na conversa relatada por João do Rio ao visitá-lo para
recolher suas respostas à enquete publicada em O Momento Literário.
- Oito horas já? Há não sei
quantas escrevo eu.
- Versos?
- Oh! Não, meu amigo, nem versos,
nem crônicas — livros para crianças, apenas isso que é tudo. Se fosse possível,
eu me centuplicaria para difundir a instrução, para convencer os governos da
necessidade de criar escolas, para demonstrar aos que sabem ler que o mal do
Brasil é antes de tudo o mal de ser analfabeto. Talvez sejam idéias de quem
começa a envelhecer, mas eu consagro todo o meu entusiasmo — que é a vida — a
este sonho irrealizável. [...] (apud Bueno: 1996, 28)
Estudos mais recentes sobre o
autor vêm (re)descobrindo essa sua faceta de homem de ação, a qual norteou, por
exemplo, a compilação feita por Alexei Bueno para publicação da Obra Reunida de
Bilac pela Nova Aguilar em 1996. No parágrafo inicial da “Nota editorial”, diz
o organizador:
Poucas figuras da vida mental
brasileira, no decisivo período que vai das vésperas da queda da monarquia até
a segunda década do século presente, tiveram uma projeção consensual, formadora
de opinião e de mentalidade, comparável à de Olavo Bilac. Além do poeta, de
imensa aceitação popular, acumulavam-se em Bilac o jornalista, o autor de
poesias infantis, o propagandista entusiasmado da educação pública e do serviço
militar obrigatório e, em suma o patriota, caráter para o qual convergiam todas
as atividades mencionadas. (Bueno, 1996: 9)
O “jornalista” Bilac, por sua vez, foi
estudado e compilado por Antônio Dimas nos três volumes publicados em 2002 pela
EDUSP, Ed.UNICAMP e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
Para além destas referências,
deve-se sublinhar o interesse que Através do Brasil, em co-autoria com Manuel
Bomfim, tem despertado44, motivando estudos específicos ou ganhando destaque em
abordagens mais panorâmicas da literatura infantil.
Porém, a despeito das qualidades
que permitem que este livro seja considerado o “livro-nação” brasileiro por
excelência, para usar o termo cunhado por Patrick Cabanel na caracterização dos
diversos “tours de la nation”, é na análise do conjunto dos textos infantis de
Bilac que conseguimos delinear a tópica que configura a ideologia nacionalista
presente na sua obra.
Ao lado de traduções, compilações e uma obra
de divulgação histórica, Bilac escreveu, individualmente ou em co-autoria,
cinco livros para o público infantil: A terra fluminense (Bilac; Coelho Netto,
1898); Contos Pátrios (Bilac; Coelho Netto, 1904); Poesias Infantis (Bilac,
1904); Teatro Infantil (Bilac; Coelho Netto, 1905) e Através do Brasil (Bilac; Manuel Bomfim,
1910). Destes, somente A terra fluminense, editado pela Imprensa Nacional, não
teria outras edições, sendo,, contudo alguns de seus capítulos incluídos em
Contos Pátrios, justamente os menos informativos e com mais elementos
ficcionais.
Os outros livros, todos pela Francisco Alves,
teriam vida mais longa: Teatro Infantil estaria na 5ª .edição em 1926 e é o
menos comprometido com a educação cívica. Poesias Infantis, primeiro volume da
“Biblioteca dos Jovens Brasileiros” na sua 27ª . edição em 1961. Contos
Pátrios, segundo volume da mesma Biblioteca, seria o que em termos numéricos
alcançaria o maior êxito (considerando as dificuldades de localização dos
exemplares que podem conduzir a uma conclusão equivocada), chegando à 50ª .
edição em 1968, e Através do Brasil, disputando o título de best-seller do
civismo com Contos Pátrios, chegaria a 43ª . edição em 1957.
Mais do que o surgimento de um gênio na nossa
literatura infantil como foi Lobato, que ofusca a produção anterior e coloca as
expectativas sobre essa literatura em um novo patamar, me parece que as razões
para o desinteresse acadêmico em relação a estes livros ligam-se menos a sua
qualidade discutível do que ao preconceito em relação ao seu caráter fortemente
ideológico, que é justamente o que quero examinar aqui.
Pois, ao contrário do que
aparenta, a literatura cívica da Primeira República não é um conjunto de textos
ideologicamente homogêneo. A análise de uma de suas principais características,
o ufanismo, presente em todos os textos em maior ou menor grau, demonstra que
não é sempre que o orgulho exacerbado da pátria oblitera a consciência das
deficiências nacionais.
[...]
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Fonte:
Patrícia Santos Hansen: “Olavo
Bilac, ideólogo do nacionalismo brasileiro”. (Relatório final do projeto de
pesquisa apoiado pelo Pós-Doutorado no Estado do Rio de Janeiro da CAPES/FAPERJ
(09/2010-08/2011) - Supervisora: Ângela de Castro Gomes). Rio de janeiro, 2011,
disponível em: http://www.ie.ul.pt/
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