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A questão da homossexualidade em “O Bom-Criolo”
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A aberta discussão sobre
homossexualidade em Bom-Crioulo levanta a questão que se Caminha era homossexual; neste
caso o romance poderia ser interpretado como uma autobiografia e testemunha ou
uma pioneira apologia sobre os direitos dos homossexuais. Devido ao longo tempo
passado, é impossível ter certeza sobre a sexualidade do autor mas a evidência
deixa da pela vida e obra de Caminha não indica que ele fosse homossexual.
Inicialmente, começou uma promissora carreira como oficial naval mas aos 22
anos de idade se encountrou no centro de um escândalo em Fortaleza quando seu
caso com a mulher de um oficial do Exército tornou-se público. Isabel deixou o
seu marido para viver abertamente com Caminha que, pressionado pelas
autoridades militares do mais alto nível, preferiu sacrificar a sua carreira,
demitindo-se para levar uma vida de ostracismo social e miséria, a abrir mão de
sua relação amorosa. As dificuldades que ele sofreu sugerem que foi um
verdadeiro amor. Ele fez uma pública reafirmação da sua relação amorosa na
página de rosto de suas Cartas Literárias, que leva uma proeminente
dedicação a Isabel C*** (CAMINHA, 1895b).7
Não há nenhuma menção de
homossexualidade em qualquer outro lugar em sua obra apesar de haver muitas
referências aos encantos das mulheres. Em resposta aos seus críticos, Caminha
rejeitou qualquer identificação do autor com seu herói: dado o seu combativo
caráter, parece improvável que ele tivesse tido esta atitude se visse o romance
como um veículo para assumir-se. Por outro lado, se não era homossexual,
Caminha era certamente fascinado pelas relações sexuais transgressivas. Seu
primeiro grande romance, A Normalista, foi baseado num escândalo real em
Fortaleza e trata da sedução duma moça pelo seu tutor, enquanto seu último romance,
Tentação, é sobre o adultério e a traição duma amizade. Mesmo a sua
primeira obra de prosa, a novela Judite, que foi publicada dois anos
antes dele encontrar Isabel, relata a tentativa de rapto da jovem esposa de um
fazendeiro mais velho por um Dom Juan. O seu conto, "A Última Lição",
publicado postumamente, trata da sedução de um adolescente por uma mulher mais
velha (CAMINHA, 1977). Posto que estes são os temas tradicionais da ficção
romântica, eles parecem ter tido uma particular ressonância por Caminha, que
certamente não era um apologista da moralidade convencional, seja em sua vida
ou em sua obra.
Se a inspiração para tratar de
homossexualidade não era pessoal então nós precisamos de procurar outras
fontes. Havia poucos precedentes na literatura brasileira. Em 1885, um médico, Ferreira
Leal, publicou a novela Um Homem Gasto, retratando um homossexual de
classe média alta que casa-se mas só é capaz do ato matrimonial com a ajuda de
drogas e suicida-se quando não pode mais suportar. O Ateneu de Raul
Pompeia (1888) refere-se a uma apaixonada relação entre rapazes num internato
enquanto Aluísio Azevedo incluiu tres estereótipos homossexuais clássicos, um
jovem efeminado, um velho sujo e uma prostituta lésbica agressiva, em seu
romance naturalista O Cortiço de 1890. Vários romances naturalistas
brasileiros trataram de outras anomalias sexuais, incluindo mulheres
histéricas, ninfomania, fetiches e aborto (SÜSSEKIND, 1984, p. 120-150).
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Fonte:
Fonte:
Robert Howes:
“Raça
e sexualidade transgressiva em Bom-Crioulo de Adolfo Caminha”. Revista da Pós-Graduação em Letras – UFPB João Pessoa,
Vol 7., N. 2/1, 2005 – p. 171-190, disponível em: www.okara.ufpb.br
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