20/01/2014

O Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha

Adolfo Caminha - O Bom-Crioulo
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A questão da homossexualidade em “O Bom-Criolo”

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A aberta discussão sobre homossexualidade em Bom-Crioulo levanta a questão que se Caminha era homossexual; neste caso o romance poderia ser interpretado como uma autobiografia e testemunha ou uma pioneira apologia sobre os direitos dos homossexuais. Devido ao longo tempo passado, é impossível ter certeza sobre a sexualidade do autor mas a evidência deixa da pela vida e obra de Caminha não indica que ele fosse homossexual. Inicialmente, começou uma promissora carreira como oficial naval mas aos 22 anos de idade se encountrou no centro de um escândalo em Fortaleza quando seu caso com a mulher de um oficial do Exército tornou-se público. Isabel deixou o seu marido para viver abertamente com Caminha que, pressionado pelas autoridades militares do mais alto nível, preferiu sacrificar a sua carreira, demitindo-se para levar uma vida de ostracismo social e miséria, a abrir mão de sua relação amorosa. As dificuldades que ele sofreu sugerem que foi um verdadeiro amor. Ele fez uma pública reafirmação da sua relação amorosa na página de rosto de suas Cartas Literárias, que leva uma proeminente dedicação a Isabel C*** (CAMINHA, 1895b).7

Não há nenhuma menção de homossexualidade em qualquer outro lugar em sua obra apesar de haver muitas referências aos encantos das mulheres. Em resposta aos seus críticos, Caminha rejeitou qualquer identificação do autor com seu herói: dado o seu combativo caráter, parece improvável que ele tivesse tido esta atitude se visse o romance como um veículo para assumir-se. Por outro lado, se não era homossexual, Caminha era certamente fascinado pelas relações sexuais transgressivas. Seu primeiro grande romance, A Normalista, foi baseado num escândalo real em Fortaleza e trata da sedução duma moça pelo seu tutor, enquanto seu último romance, Tentação, é sobre o adultério e a traição duma amizade. Mesmo a sua primeira obra de prosa, a novela Judite, que foi publicada dois anos antes dele encontrar Isabel, relata a tentativa de rapto da jovem esposa de um fazendeiro mais velho por um Dom Juan. O seu conto, "A Última Lição", publicado postumamente, trata da sedução de um adolescente por uma mulher mais velha (CAMINHA, 1977). Posto que estes são os temas tradicionais da ficção romântica, eles parecem ter tido uma particular ressonância por Caminha, que certamente não era um apologista da moralidade convencional, seja em sua vida ou em sua obra.

Se a inspiração para tratar de homossexualidade não era pessoal então nós precisamos de procurar outras fontes. Havia poucos precedentes na literatura brasileira. Em 1885, um médico, Ferreira Leal, publicou a novela Um Homem Gasto, retratando um homossexual de classe média alta que casa-se mas só é capaz do ato matrimonial com a ajuda de drogas e suicida-se quando não pode mais suportar. O Ateneu de Raul Pompeia (1888) refere-se a uma apaixonada relação entre rapazes num internato enquanto Aluísio Azevedo incluiu tres estereótipos homossexuais clássicos, um jovem efeminado, um velho sujo e uma prostituta lésbica agressiva, em seu romance naturalista O Cortiço de 1890. Vários romances naturalistas brasileiros trataram de outras anomalias sexuais, incluindo mulheres histéricas, ninfomania, fetiches e aborto (SÜSSEKIND, 1984, p. 120-150).

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Fonte:
Robert Howes: “Raça e sexualidade transgressiva em Bom-Crioulo de Adolfo Caminha”. Revista da Pós-Graduação em Letras – UFPB João Pessoa, Vol 7., N. 2/1, 2005 – p. 171-190, disponível em: www.okara.ufpb.br

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