06/01/2014

Canudos e Outros Temas, de Euclides da Cunha

 Euclides da Cunha- Canudos e Outros Temas - Iba Mendes
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Os livros estão em ordem alfabética: autor/título (coluna à esquerda) e título/autor (coluna à direita).


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A nova barbárie

Um dos eventos históricos que, certamente, marcaram tanto a história  nacional quanto a literatura e as artes em geral, no Brasil, foi o episódio conhecido  como Guerra de Canudos. Vários foram os leitores desse episódio – escritores  reconhecidamente do cânone; outros de renome em sua época; alguns através de  simples testemunho; outros, por pura ficção.

Há, no entanto, certa leitura que, a partir do evento histórico, pode ser  considerada como fundadora de uma tradição. Partindo do conflito ocorrido em  Canudos, Os sertões, de Euclides da Cunha, elaborou uma narrativa enciclopédica  do evento – com vistas a nomear e explicar as inúmeras variáveis existentes no  conflito: das geológicas às históricas, das políticas às factuais, das táticas às  sociais.

Talvez por isso, podemos atentar, principalmente, para o que podemos  chamar de “caráter aberto” de Os sertões – construído como uma espécie de  mosaico de saberes, “texto nascido de outros textos”,  acabou por criar uma  tradição que pensa, artística e intelectualmente, o Brasil. Nessa tradição, podemos  observar nomes como os de Gilberto Freyre, e seu ideal de miscigenação; Sérgio  Buarque de Holanda, e o olhar crítico ao liberalismo brasileiro; Guimarães Rosa, e a  gênese estética do “olhar voltado para o continente”; ou mesmo Glauber Rocha,  Graciliano Ramos e outros que ajudaram a formatar a chamada estética da seca.

Contudo, o livro de Euclides da Cunha não surgiu após um hiato de cinco anos  – aqueles transcorridos entre a destruição do arraial de Canudos e o lançamento de  Os sertões. Vários foram os livros que, lançados nem bem havia esfriado as cinzas  do arraial, de alguma forma influenciaram Euclides. Neste artigo, objetivo  perseguir, ao menos parcialmente, dois textos que, para além das experiências  vividas por Euclides – a factual e a literária –, contribuíram para o surgimento de  Os sertões, livro que, como já profetizara Machado de Assis,  eternizou o caráter  simbólico do episódio de Canudos – talvez dos maiores crimes, pecados e  monstruosidades já inscritos em nossa literatura.

Assim como o fato é fugaz, o símbolo é mordaz. À literatura, guardiã de  experiências, seria dada, mais uma vez, o papel de tentar constituir-se como limite  da nova barbárie – aquela apontada por Walter Benjamin em “Experiência e  pobreza” –, barbárie advinda do silêncio frente ao horror e à violência “em escala  industrial” que as modernas máquinas de guerra passaram a permitir, sobretudo na  I Guerra Mundial. Em Canudos, tal violência já fazia um ensaio regional.


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Fonte:
César Gonçalves de Oliveira (UFMG): “Estilhaços literários da Guerra de Canudos”, publicado em http://www.letras.ufmg.br

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