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A conjuntura Histórica
No que concerne especificamente a UMA CAMPANHA ALEGRE a
obra é resultado
de uma reorganização feita por Eça de Queirós em 1890 da parte que lhe cabia
nos artigos escritos em colaboração com Ramalho Ortigão, sob o nome de
"Farpas'. Tratava-se de publicações mensais, orientadas dentro de um sentido de crítica geral
aos acontecimentos da atualidade portuguesa e à sociedade em geral, combinando o conteúdo doutrinário
com o estilo humorístico e Irônico e que vão constituir-se na trave mestra de
toda a obra
posterior de Eça, entendida como decorrência deste "Inquérito social"
prévio (veJa-se Saraiva, 1917),
feito à sociedade
Portuguesa. Entre o momento
da escritura das “Farpas" e o da reformulação em Uma Campanha Alegre medeiam vinte anos, distância mais do que
suficiente para torná-las obsoletas do ponto de vista dos objetivos práticos
que tinham conduzido a sua produção. Esse fato está na origem do esclarecimento
feito pelo autor a respeito das condições em que tinham sido gerados tanto
tempo antes esses discursos, bem como de uma explicação quanto à razão de sua reedição. Deste modo o autor toma
a seu cargo fornecer na Advertência, que precede os textos, uma
série de Informações a respeito
do condicionalismo da
própria obra. Aí aponta como Ideais normativos do seu discurso a
busca da Verdade, da razão e da
Justiça; como motivação próxima o estado de decadência da sociedade portuguesa
de seu tempo e suas Instituições e, como determinação Ideológica, uma interpretação um
tanto ingênua e falseadora
do socialismo proudhoniano, que radicava na crença da possibilidade de um
acoplamento a uma política Pedagógica que apressasse a Evolução. Não nos
cumpre, neste momento, aprofundar as divergências entre o socialismo utópico e a
posição de Eça, mas constata-se com
certa facilidade quanto a utopia socialista convergiu com certos Interesses de classe
do autor, Que via através da evolução das estruturas econômicas preservadas as garantias
burguesas da ordem, sem os sobressaltos de uma revolução que pusesse em causa tanto o elitismo
Intelectual e refinado,
Quanto sua aliança com a
alta burguesia brasonada do constitucionalismo monárquico português.
Contemporâneo da Comuna de Paris, Eça tem em
relação aos movimentos de massa uma atitude ambivalente, ora manifestando um respeito
submisso pelos grandes processos da História, ora ridicularizando a f alta de
"modus operandl" do proletariado português e, em todo o caso,
alertando o burguês para o perigo de um levante popular:
No entanto, cuidado! Aquele pano de Tunda não está Imóvel:
agita-se como Impelido por uma respiração invisível. Alguém de certo está do
outro lado. Enquanto a farsa se desenrola na cena alguém por
trás do fundo, espera,
agita-se, prepara-se, arma-se talvez ... - Quem é esse alguém? As vossas consciências
que vos respondam. O que apenas podemos
dizer é que não é o Sr.
bispo de Viseu (Eça de
Queirós, 1969: 21)
Este alerta que em parte, pelo menos, explica a
campanha de Eça, justifica-se plenamente. os discursos vêm Intervir num contexto social e político marcado exteriormente
pela agitação Internacional e Interiormente por um quadro de aparente abona e inação
que o rotativismo político, realizado pela alternância no poder dos quatro
principais partidos políticos, conduzia a acentuar. Entretanto, o perigo de um
conflito social mais sério parecia rondar as estruturas do poder.
O sistema político português, a Regeneração, de orientação
fundamentalmente capitalista, querendo avançar cem anos em um, entregava-se a
uma política de fomento material, seduzida
por uma euforia de progresso, atrelada a promessas demagógicas
de bem estar social, que ameaçava conduzir o país à falência e à dependência dos bancos internacionais,
ao mesmo tempo que a primazia econômica e a fusão sucessiva dos partidos
conduzia ao esvaziamento da vida política. Dentro da área Intelectual começava
a cavar-se um fosso entre por um lado, o sistema constitucional, Já então sentido como desgastado pelos espertos socialistas
e os Jovens Idealistas sardas de uma plêiade Intelectual contestaria, imbuídos
de proudhonismo, acreditando na fraternidade universal, na felicidade humana na
Terra, numa democracia que Instaurasse a reforma social sobre as ruínas das
instituições abolidas e, profundamente céptica ao slmplismo político e ideológico
do sistema.
No momento em Que os textos de Eça surgem, uma
série de circunstâncias econômicas e sociais, decorrentes da alteração do quadro
social tradicional, começava a fazer- se sentir. O operariado português, cuja
consciência de classe era ainda rudimentar e que começara a organizar-se em
associações na década anterior, passa a dar sinais de efervescência; a
penetração do capitalismo no campo, expondo os camponeses da terra e ameaçando Jogá-los em
massa para a emigração alarga o grupo de
descontentes, cada vez afastadas do poder Mais e engrossado pelas camadas da burguesia Insatisfeitas
com a política
de protecionismo econômico do governo a determinados setores da economia
privada. A situação dá origem a uma crise social que tomará a forma de
movimento de protesto em Janeiro de 1868, levando a um pronunciamento do forças tradicionais e gerando o origem, na década seguinte, republicano.
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Fonte:
Fonte:
Ana Maria Dantas Cunha de Miranda Oliveira:
“Contribuição para o estudo da ironia em uma campanha alegre de Eça de
Queiroz”. (Dissertação Departamento do Instituto apresentada ao de Lingüística de Estudos da Linguagem. Da
Universidade Estadual de Campinas. Orientador: Haquira Osakabe). Campinas, 1990.
nao se consegue baixar o livro no site indicado. OBRIGADO POR NADA
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