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A novela
histórica: um marco do antinacionalismo
As motivações
espúrias que levaram à escrita da novela A torre de D. Ramires já foram muito
bem analisadas pela crítica queirosiana. A instrumentalização da literatura como
alavanca para o projeto político de Gonçalo está patente no próprio texto e
algumas passagens chegam mesmo a revelar o desprezo do personagem pela
literatura em sua condição de produto cultural de valor:
[...] ao
canto, em pilha, as obras de Walter Scott sustentando um copo cheio de cravos
amarelos (ICR, p. 74).
E de
repente, com um berro, Gonçalo agarrou de sobre a mesa um volume de Walter Scott,
que atirou sem piedade, como uma pedra, contra o tronco de uma faia. É que
descortinara o gato da Rosa cozinheira, trepado, de unhas fincadas num ramo, arqueando
a espinha, para assaltar um ninho de melros (p. 141).
Pobre
Scott, quando não vira suporte de vaso, serve de projétil para afugentar bichanos!
No entanto,
algo que precisa ser enfatizado para uma melhor compreensão da economia da Ilustre
Casa como um todo é a inadequação do resultado final da novela histórica para
o projeto nacionalista e redentor proposto pelo patrocinador principal da obra
de Gonçalo, o ridículo Castanheiro Patriotinheiro. Tal projeto político abrangente
fornece à dinâmica do romance encaixante uma certa aura de valor ao trabalho de
Gonçalo, mesmo que essa realização seja um plágio, uma certa picaretagem e um
produto oportunista. O programa regenerador de Castanheiro (final do Capítulo I
da ICR) consistia nos seguintes pontos:
- "a ressurreição do sentimento português!", pois "Portugal, menino, morre por falta de sentimento nacional! Nós estamos imundamente morrendo do mal de não ser Portugueses!" (p. 81-2);
- "revelar Portugal, vulgarizar Portugal. Sim,
amiguinho! Organizar, com estrondo, o reclamo de Portugal, de modo que todos o
conheçam – ao menos como se conhece o Xarope Peitoral de James, hem? E que
todos o adotem – ao menos como se adotou o sabão do Congo, hem?" (p. 83)"Pela consciência que renova de termos sido tão grandes sacode este chocho consentimento nosso em permanecermos pequenos! É o que eu chamo reatar a tradição..." (ibid.).
- A pena agora, como a espada outrora, edifica reinos..." (p. 84, grifos nossos).
O que
estava em jogo, portanto, era o sentimento português, a imagem de Portugal e a
retomada da tradição para a construção de um novo país. Eis aí o programa do nacionalismo
português do final de século, cuja expressão máxima se produziria com o salazarismo
depois de algumas décadas. O personagem Castanheiro pode muito bem ter sido inspirado
em Pinheiro Chagas, conforme análise de Irwin Stern (1980), cujo nacionalismo e
popularidade no meio cultural representavam muito bem o pensamento dominante na
sociedade portuguesa.
Pois esse programa
nacionalista defendido pelo Patriotinheiro almejava sua representação literária
na novela de Gonçalo. Tudo bem que o satírico regenerador visse positividade em
qualquer coisa, como, por exemplo, num falstaffiano antepassado do nosso
"herói", cuja máxima proeza fora comer dois leitões numa ceia de
Natal: "Mas que barriga! Há nela uma pujança heroica que prova raça, a raça
mais forte do que promete a força humana, como diz Camões. Dois leitões,
caramba! Até enternece!..." (p. 83). No entanto, o que uma leitura sensata,
à luz do programa regenerador, revela é uma coisa bem distante dos objetivos
patriotinheiros.
O período
histórico em que se passa a novela é o momento culminante da consolidação de Portugal
como estado autônomo. Sancho I (1154-1211), segundo rei lusitano, incumbiu-se de
viabilizar a independência do país fomentando o povoamento da região, seu desenvolvimento
econômico e, principalmente, articulando apoio do papado e das cortes vizinhas –
no que foi razoavelmente bem sucedido. Por uma dessas ironias históricas, ele
mesmo foi o responsável pela futura crise que quase levou tudo a perder. Em seu
testamento, Sancho legou às três filhas amplas propriedades feudais dentro de Portugal
e as investiu de poder monárquico sobre esses territórios. Seu filho e sucessor,
Afonso II (1185-1223), ao assumir o trono, contestou o legado das irmãs a fim de
garantir a unidade nacional. Para manter os seus direitos, as infantas se
aliaram ao reino de Castela e deram início a uma guerra civil com o apoio de tropas
espanholas. Ora, Castela e Leão sempre foram as principais ameaças à soberania portuguesa,
e sua aliança com as rainhas depostas representava, como ainda o seria nos séculos
seguintes, um grave risco à autonomia lusa. Logo, a derrota do rei Afonso
poderia significar o fim da nação portuguesa, o que, para o bem ou para mal,
não acabou acontecendo.
Contra esse
pano de fundo histórico é que se arma o enredo fictício da Torre de D.
Ramires. Na novela, Tructesindo, em razão da palavra dada ao rei Sancho, se
alia às infantas e passa a lutar contra o rei, ao lado dos espanhóis. À primeira
vista, parece aqui uma questão de honra, ou numa terminologia mais filosófica,
um dilema ético, ao qual o avô de Gonçalo não se dá nem ao trabalho de
refletir, sendo para ele ponto pacífico que uma promessa não devia ser
quebrada. Mas, como em qualquer dilema dessa ordem, a coisa não é tão simples
assim.
De forma muito
hábil, o autor Eça de Queirós prepara a deixa para a grande frase de
Tructesindo (e, por extensão, a de Gonçalo e a de todo o livro, como veremos) com
uma cena especialmente reveladora, que é a visita do genro do grande fidalgo, o
nobre Mendo Pais, numa missão diplomática em nome do rei Afonso. As razões do rei
e a argumentação em prol da neutralidade da Casa de Ramires são muito pertinentes
e historicamente embasadas:
Açodado e
coberto de pó correra Mendo Pais desde Coimbra para suplicar ao sogro em nome
do Rei e dos preitos jurados, que se não bandeasse com os de Leão e com as senhoras
Infantas. E já desenrolara ante o velho todos os fundamentos invocados contra elas
pelos doutos Notários da Cúria — as resoluções do Concilio de Toledo! a bula do
Apóstolo de Roma, Alexandre! o velho foro dos Visigodos!... De resto, que
injúria fizera às senhoras Infantas seu real irmão, para assim chamarem hostes
Leonesas a terras de Portugal? Nenhuma! Nem Regedoria nem renda dos castelos e vilas
da doação de D. Sancho lhes negava o senhor D. Afonso. O Rei de Portugal só
queria que nenhum palmo de chão português, baldio ou murado, jazesse fora de seu
senhorio real. Escasso e ávido, El-Rei D. Monso?... Mas não entregara ele à
senhora D. Sancha oito mil morabitinos de ouro? E a gratidão da irmã fora o
Leonês passando a raia e logo caídos os castelos formosos de Ulgoso, de
Contrasta, de Urros e de Lanhoselo! O mais velho da casa dos Sousas, Gonçalo Mendes,
não se encontrara ao lado dos Cavaleiros da Cruz na jornada das Navas, mas lá
andava em recado das Infantas, como mouro, talando terra portuguesa desde
Aguiar até Miranda! E já pelos cerros de Além-Douro aparecera o pendão renegado
das treze arruelas – e por trás, farejando, a alcatéia dos Castros! Carregada ameaça,
e de armas cristãs, oprimindo o Reino – quando ainda Moabitas e Agarenos
corriam à rédea solta pelos campos do Sul!... E o honrado Senhor de Santa
Irenéia, que tão rijamente ajudara a fazer o Reino, não o deveria decerto
desfazer arrancando dele os pedaços melhores para monges e para donas rebeldes!
(ICR, p. 129- 30.)
Em poucas palavras,
havia legalidade no pleito do rei, as infantas não corriam perigo em relação a ele
e a invasão dos espanhóis, sim, trazia riscos para os portugueses. Novamente sem
despender um minuto de reflexão, o nobre Tructesindo recusa a proposta real. O genro
ainda tenta algum argumento e mostra os possíveis perigos da campanha, ao que o
senhor feudal responde com soberba arrogância: "De mal ficarei com o Reino
e como Rei, mas de bem com a honra e comigo!" (p. 131), a grande frase que,
de certo modo fornece o sentido de toda a obra, segundo a interpretação que vimos
construindo.
A ideia de
que a palavra dada, a honra e a boa consciência constituem aqui um valor em si
mesmas não se sustenta quando confrontada com o painel histórico da novela, em que
Portugal com imensas dificuldades construía sua independência, e com a cerrada
argumentação de Mendo Pais, que mostrava que as infantas não corriam perigo e,
portanto, caía por terra o motivo da palavra dada. O que move, então, a decisão
de Tructesindo? Segundo ele, "para que justiça logre quem justiça
tem" (p. 1 30). De que justiça o fidalgo estaria falando não se sabe, pois
ele mesmo não se dá ao luxo de explicar. Mas mostra um profundo deslocamento da
realidade, já que suas reações não se pautam pelos fatos que o cercam.
Aqui podemos
relembrar mais uma vez Auerbach, que, explicando o distanciamento que as histórias
medievais de cavalaria vão tomando da realidade física e social, mostra o
caráter ideologizado que assume o ideal da cavalaria:
O fato de os
contatos com a realidade se tornarem cada vez mais fictícios e cada vez mais carentes
de função foi condicionado, em parte, justamente pela interiorização do ideal cavaleiresco.
Este caráter fictício e carente de função que [...] já estava contido desde o princípio
no ideal, condiciona a sua relação com a realidade. Da cultura resulta a ideia,
longamente vigente na Europa, de que o
nobre, o grande e o importante nada têm a procurar na realidade comum – uma
convicção muito mais patética e muito mais arrebatadora do que as antigas
formas de afastamento do real, tais como as que oferece a ética estoica (2004,
p. 121, grifos nossos).
Estamos,
portanto, na esfera do capricho, na qual a vontade e a idiossincrasia do
poderoso constituem a justificativa última de todas as ações. O que vai ser
mais do que confirmado por passagens na própria novela ou na reflexão de seu
autor fictício, o nosso Gonçalo. Na barganha proposta por Lopo de Baião a Tructesindo,
a de trocar a vida de seu filho Lourenço pelo casamento do bastardo com Violante,
filha caçula do fidalgo, os dados de realidade também são incontestes:
Senhor
Tructesindo Ramires, nestas andas vos trago vosso filho Lourenço, que em lide
leal, no vale de Canta-Pedra, colhi prisioneiro e me pertence pelo foro dos
Ricos-homens de Espanha. E de Canta- Pedra caminhei com ele para vos pedir que
entre nós findem estes homizios e estas feias brigas que malbaratam sangue de
bons Cristãos... Senhor Tructesindo Ramires, como vós venho de Reis. De D. Afonso
de Portugal recebi a pranchada de Cavaleiro. Toda a nobre raça de Baião se
honra em mim... Consenti em me dar a mão de vossa filha D. Violante, que eu
quero e que me quer, e mandai erguer a levadiça para que Lourenço ferido entre
no seu solar e eu vos beije a mão de pai (p. 334-5).
O tal
bastardo esclarece que a prisão de Lourenço foi feita em batalha leal (o que a
própria novela confirma), que sua vida lhe pertence conforme as regras da
cavalaria e que ele, Lopo, é um cavaleiro nomeado pelo rei, portanto, apto para
fazer sua proposta de casamento, o qual Violante também deseja (ou seja, um prenúncio
do amor romântico, no qual o desejo dos amantes predomina sobre os interesses familiares
e sociais). Em troca, ele oferece a vida de Lourenço e uma aliança com a família
Ramires. O "sábio" senhor de Santa Ireneia, ainda mais uma vez sem piscar,
escolhe a morte do filho. Motivo: Lopo de Baião era bastardo e na Casa de Ramires
só entrava gente pura! Mais um exercício de capricho, pois a bastardia era uma condição
comum a muitos nobres e, inclusive, reis,2 e portanto socialmente aceitável
entre a
aristocracia.
A
demonstração mais contundente do exercício discricionário da vontade feudal é fornecida
por Gonçalo fora da novela, num momento de satisfação pela boa produção da cena
com Mendo Pais. A grande frase do livro será repetida mais duas vezes pelo seu
próprio autor, Gonçalo (ela não constava do poema do tio Duarte e, note-se, é uma
das poucas contribuições originais do fidalgo à sua composição), na primeira
oportunidade ele reflete:
"De mal
com o Reino e com o Rei, mas de bem com a honra e comigo". E sentia nele
realmente toda a alma de um Ramires, como eles eram no século XII, de
sublime lealdade, mais presos à sua palavra que um santo ao seu voto, e alegremente
desbaratando, para a manter, bens, contentamento e vida! (p. 132, grifos nossos).
Na segunda vez,
após a satisfatória negociação feita com o Pereira Brasileiro, arrendando a
quinta da Torre por um bom valor e assim rompendo com a palavra empenhada com
João Casco, Gonçalo extrapola: " 'De mal com o Reino e com o Rei, mas de bem
com a honra e comigo!' — Ah! como ali gritava a alma inteira do velho
português, no seu amor religioso da palavra e da honra!" (p. 140).
Dessa forma,
percebemos que o próprio texto deixa claro uma leitura ideológica do comportamento
senhorial através do cruel oximoro sublime lealdade X alegremente desbaratando,
para a manter, bens, contentamento e vida, cujo flagrante paradoxo deveria levar
o leitor a se perguntar "sublime lealdade" a quem? Por que, no fim, os
bens, a felicidade e as vidas desbaratadas só serviriam ao senhor feudal que,
amparado por tal código de cavalaria, obteria o que bem desejasse, conforme seus
interesses e para o exercício do mais puro (ou, melhor, "sublime") arbítrio.
Numa análise semântica, o conjunto "reino e rei" simplesmente
significa todo o resto: a nação e seu governo, comandos e comandados não
interessam ao nobre feudal que, valendo-se de enorme força militar e econômica,
pode se dar ao luxo de ficar contra tudo e contra todos para fazer valer a sua vontade,
ou, mais agudamente, o seu capricho.
Novamente,
tal análise é posta no próprio texto, pouco adiante, quando Gonçalo, mais uma
vez incomodado com seus negócios comezinhos, relembra com imprópria saudade que
nos bons tempos do avozinho, quando a coisa apertava, bastava a ele mandar seus
homens armados invadir uma vila ou atacar viajantes endinheirados para resolver
seus problemas de caixa:
Também, que
diabo, o vovô Tructesindo não precisava... Quando os sacos rareavam nas arcas, e
os acostados rosnavam por tardança de soldo, o leal Rico-homem, para se prover,
tinha as tulhas e as adegas dos Concelhos mal defendidos — ou então, numa volta
de estrada, o ovençal voltando de recolher as rendas reais, o bufarinheiro
genovês com os machos ajoujados de trouxas. Por baixo da Torre (como lhe contara
o papá) ainda negrejava a masmorra feudal, meio atulhada, mas com restos de correntes
chumbadas aos pilares, e na abóbada a argola de onde pendia a polé, e no lajedo
os buracos em que se escorava o potro. E, nessa surda e úmida cova, ovençal, bufarinheiro,
clérigos e mesmo burgueses de foro uivavam sob o açoite ou no torniquete, até largarem
agonizando o derradeiro morabitino. Ah! a romântica Torre, cantada tão
meigamente ao luar pelo Videirinha, quantos tormentos abafara!... (ICR, p. 141,
grifos nossos.)
Aqui temos o
reino e o rei: os "concelhos mal defendidos" (ou seja, os patrícios mal armados), o "ovençal" (a
burocracia estatal) e o "bufarinheiro genovês" (o burguês estrangeiro
que surgia ligando a desconectada Europa) eram alvos da "honra e da
palavra" do leal nobre: que rico esse avozinho! .
Fechando a presente
análise, deve ficar patente o resultado da novela escrita por Gonçalo em
relação ao programa de Castanheiro (conforme síntese proposta acima:
ressurreição do sentimento português, divulgação da imagem de Portugal e a
retomada da tradição para a construção de um novo país). O herói e modelo regenerador
da raça lusitana, Tructesindo, age de forma contrária aos interesses da nação do
começo ao fim da história. Sua relação com o estado e a sociedade portuguesa é a
de opressão e tirania. Os ideais modernos de igualdade, liberdade e
fraternidade, além do sentimento amoroso hipervalorizado pelo movimento
romântico, são negados e violados de maneira infame. Mas tudo isso é relatado de
maneira positiva por um narrador comprometido com os interesses e valores da aristocracia
feudal, conforme a imitatio dos modelos medievais e cronistas que Gonçalo
adota conforme a escola romântica.
Temos,
portanto, uma punhalada no movimento nacionalista e sua obsessão por um passado
heroico que, na verdade, não passa de arbítrio, violência e ideologia — a fórmula
básica da representação das ações de Tructesindo por todo o enredo da novela.
Eis aí o "Portugal" que "ressurge" diante dos olhos do
leitor atento, e que deve servir de padrão para o reino que agora se edifica
com a pena, conforme a fórmula de Castanheiro.
Chamamos a
atenção aqui para os aspectos narrativos e composicionais que estruturam a obra
literária. Eram os mesmos instrumentos, conforme Eça faz repetir pela voz do
narrador do romance encaixante e de Gonçalo, usados por Herculano, Rebelo, a Revista
Panorama e, mais contemporaneamente a Eça, por Oliveira Martins, para fazer
ressuscitar o português heroico da Idade Média. Não seria improvável dizer que essa
linha de produção literária está posta em cheque com a construção detalhada,
ponto-a-ponto, da novela de Gonçalo.
Na função de
narrativa encaixada, essa novela deve ainda iluminar o texto que a contém e desenvolve,
dando-lhe seu sentido, sua "moral", conforme explica Todorov:
Cada narrativa
parece ter alguma coisa demais, um excedente, um suplemento, que fica
fora da forma fechada produzida por seu desenrolar. Ao mesmo tempo, e por isso
mesmo, esse algo mais próprio da narrativa é também algo menos; o suplemento é
também uma falta; para suprir a falta criada pelo suplemento, uma outra narrativa
se faz necessária (2006, 130-31).
No caso de A ilustre Casa, seu suplemento, A
torre de Ramires, se apresenta na
forma de uma lição:
Nos níveis mais
elevados de encaixe, o suplemento se transforma numa simples fórmula verbal, numa
sentença, destinada tanto ao uso das personagens quanto ao dos leitores. Enfim,
uma integração maior do leitor é igualmente possível: [...] um comportamento provocado
pela leitura é também um suplemento; e uma lei se instaura: quanto mais esse suplemento
é consumido no interior da narrativa, menos essa narrativa provoca reação da
parte do leitor (ibid., p.
131).
A lição
para o leitor é: a literatura é ideológica, ou pode ser ideológica conforme as condicionantes
históricas e sociais a que está submetida. Logo, a reação que os textos, em seu
processo de encaixe, deveriam provocar no leitor seria um questionamento: será
que o romance que conta a vida de Gonçalo também não é ideológico, no sentido de
ser um discurso habilmente tramado para passar como positivo uma comportamento
condenável em termos históricos e sociais (como é o caso de Tructesindo)?
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Fonte:
José Carlos Siqueira de Souza: "O romance-ensaio em Eça de Queirós: estudo crítico sobre A ilustre casa de Ramires e A cidade e as serras". (Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura Portuguesa, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Hélder Garmes). São Paulo, 2011.
Fonte:
José Carlos Siqueira de Souza: "O romance-ensaio em Eça de Queirós: estudo crítico sobre A ilustre casa de Ramires e A cidade e as serras". (Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura Portuguesa, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Hélder Garmes). São Paulo, 2011.
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