24/12/2013

Prosas Bárbaras, de Eça de Queirós

 Eca de Queiros - Prosas Barbaras - Iba Mendes
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O Eça de Prosas Bárbaras

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De acordo com Saraiva, para o Eça das Prosas bárbaras a Consciência traria apenas indisposição. É por isso que somente com a morte, com o corpo humano voltando a terra, que toda a paz, o sossego e o descanso são presenteados ao ser humano: “Para Eça a alma e a Natureza, isto é, o Consciente e o Inconsciente constituem uma dualidade e opõem-se como o Mal e o Bem”.

“Os mortos”, um dos textos encontrados nas Prosas bárbaras, pode ser tido como exemplo desse pensamento. A ideia da morte como pacificadora e condutora à comunhão plena com a Natureza é amplamente veiculada. O texto inicia com uma contextualização temporal: “Ontem foi o dia dos mortos” e logo afirma o principal mote que percorrerá toda a narrativa do início ao fim: “Os mortos são felizes”.

É relatado o sofrimento vão daqueles que ainda vivem e que julgam que com a morte tudo acaba, pois, justamente com a vida que o homem é infeliz, constantemente sofrendo agruras: “a sua carne sofreu, empalideceu com os medos, emagreceu com as febres, engelhou-se com os frios”. Quando há o falecimento, a vida renasce com a Natureza “mas agora (sua carne) anda, repousada e sã, pelas frescas vegetações, pelos frutos coloridos, na luz selvagem e vital do sol, nos átomos da noite constelada e suave”. Portanto:

(...) os mortos são felizes, porque andam longe da forma humana, onde há o mal, pela grande natureza Santa, onde há o bem, na pureza, na serenidade, na fecundidade, na força. Bem aventurados os que vão para debaixo do chão, porque vão para uma transfiguração sagrada. De fato Eça soube exprimir de forma exemplar, nesta literatura inicial, os princípios “humanitários” lembrados constantemente por Saraiva. Em todos os textos “fantásticos” das Prosas bárbaras temos um Homem que se demonstra derivado da Natureza, dependente de uma força inexplicável e misteriosa. O Homem por si próprio parece estar afastado dessa força, e a causa para este afastamento é a própria vida, a alma.

Para Saraiva é neste ponto que o pensamento do jovem Eça destoa completamente do que diriam Victor Hugo, Michelet ou Antero de Quental, alguns daqueles que teriam sido referência para o escritor neste sentido, pois, para esses, o bem é a plenitude da Consciência, para a qual tende toda natureza e toda história num esforço incessante. Já para Eça não haveria oposição entre a Natureza e o Homem, o que fazia o autor propor, como alternativa ao panteísmo evolucionista de suas referências, um vago naturalismo. Saraiva explicita que isso não constituía uma contraposição, simplesmente Eça não teria conhecido a fundo as proposições dos idealizadores da referida teoria em que Antero de Quental tanto se apoiou.
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Fonte:
Antonio Augusto Nery: “Eça de Queirós por António José Saraiva: Ideias E Ideais”, publicado em www.revistas.usp.br

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