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Lima Barreto: Crônica e Política
Lima Barreto era uma das vozes
dissonantes deste projeto republicano
modernizador do país. Em crônica feita sobre os planos do prefeito Carlos Sampaio, Lima
escreve: “Vê-se bem que a principal
preocupação do atual prefeito do Rio de
Janeiro é dividi-lo em duas cidades: uma será a européia e a outra indígena”.
Escreve Maria Zilda Ferreira
Cury, em seu livro Um mulato no Reino do
Jambon: as classes sociais na obra de Lima Barreto: “Não podemos esquecer que os primeiros
escritores da literatura portuguesa
foram cronistas e que alguns de nossos melhores poetas hoje dedicam à crônica uma considerável parte
de sua produção [e que] o jornalismo se
insere em algumas das obras mais significativas de Lima Barreto como uma microrrepresentação do
próprio mundo na obra representado, ratificando de maneira flagrante
as contradições no complexo social”.
Lima Barreto, com o uso de uma
linguagem mais próxima da oralidade,
mostra ao leitor de sua crônica a ideologia dominante e o quanto estava voltado para seu
tempo, para os embates e os conflitos da
sociedade deste tempo, no espaço de sua
cidade. Osman Lins pontua que:
“Esses artigos e crônicas, alguns
violentos, outros cheios de delicadeza e
quase todos repassados de humor — revelando Lima Barreto com lentes de aumento deformantes, absurdos
que um tratamento mais comedido deixaria
indenes —, formam decerto um acervo de grande interesse documental e literário. Abrigam
flagrantes numerosos, variados e vivos
da nossa vida política e mundana do primeiro quartel de século, do nosso movimento literário (...)
e das transformações ocorridas na
aparência do Rio (...) e como atrativo suplementar revelam o escritor no ato de mesmo de reagir e
opinar”.
Registrar é criar memórias da
história humana, é tornar possível que
cada geração se aproprie da bagagem cultural produzida ao longo de todo o desenvolvimento
de nossa espécie. O registro possibilita
que se revisitem fatos e idéias, que se reflita
sobre cada um destes fatos e idéias, ou da história das idéias (Neves, 1992, pp 76-77).
Registrar em um especial tipo de
linguagem, a literária, acessa a chave
da imaginação, que lida com a rotina do homem, com suas grandezas e fraquezas. Aquele que
registra e escreve, aquele que é
escritor, sabe, de antemão, que seu escritos, seu registros, servirão para:
“Fazer com que ninguém possa
ignorar o mundo e se considerar inocente
diante dele. Sabe que ele é o homem que nomeia aquilo que não foi nomeado. (...) O escritor engajado
sabe que a palavra é ação, ideologia, e
que o uso que dela faz é político, (...) provoca indignação ou entusiasmo em seu leitor. (...)
Toda obra literária é um apelo. Escrever
é apelar ao leitor para que este faça passar à existência objetiva o desvendamento que
empreendeu por meio da linguagem”.
O escritor-cronista expressa-se
por um discurso especial, que contém
suas impressões e sua memória. Ambas estão encerradas ali, em seu discurso, como se
camadas fossem, repletas de outras
camadas e outras camadas, de histórias, culturas,
e muitas significações para estas histórias e culturas, individuais e depois coletivas. É
este escritor, sobretudo o cronista, um
homem-memória, na definição de Margarida
de Souza Neves: “Cronistas (...) são
‘homens-memória’ e desempenham seu ofício como autores e intérpretes da memória
coletiva. (...) e a crônica é um
elemento constituidor de um imaginário social. (...) A crônica estabelece um curioso diálogo com o leitor, do
qual dão testemunho cronistas de
temporalidade distintas”.
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Fonte:
Fonte:
Cristina Nunes de Sant´Anna: O cronista
Político Afonso Henrique de Lima Barreto”.
(Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciência
Política da Universidade Federal Fluminense - UFF, como requisito parcial para a obtenção do
Grau de Mestre).Niterói, 2008
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