Para baixar este livro
gratuitamente em formato PDF, acessar o site  do “Projeto Livro Livre”: 
Os livros estão em ordem
alfabética: autor/título (coluna à esquerda) e título/autor (coluna à direita).
---
Luz e
sombra em o subterrâneo do Morro do Castelo 
Inicialmente,  abordaremos O subterrâneo  do  Morro 
do  Castelo  no 
intuito  de  tornar 
mais claras as futuras reflexões a 
respeito  da  visão 
cientificista  de  mundo  entranhada
nesse texto. Apontaremos aspectos referentes à história da publicação  da 
obra, aos principais gêneros que 
nela dialogam, à  ironia  e  às
faces do  cientificismo eleitas por Lima
Barreto para estruturarem a temática dessa narrativa. 
A história O
subterrâneo do morro do Castelo foi publicada pela primeira vez  em 
folhetim  no  jornal 
O  Correio 
da  Manhã  no 
ano  de  1905, momento 
da  primeira  fase de derrubamento do morro e das obras
finais da construção da Avenida Central. 
Se a primeira apresentação ao público dessa narrativa se deu em
1905 e em  folhetim, a  segunda 
edição  em  formato 
de  livro, pela editora  Dantes, chegou  aos  leitores
em 1997, noventa e dois anos depois da publicação n O Correio da Manhã. Um grande espaço de
tempo! A crítica também não deu muita atenção a essa obra, pois não são
numerosos os textos sobre ela. Especificamente sobre a obra há dois  textos, um de Beatriz Resende e outro de
Carlito Azevedo. Além desses dois textos,  o que encontramos a seu respeito são algumas
pequenas abordagens inseridas em  trabalhos
que tratam da história específica do morro.
Em um período menor de tempo, surge a terceira edição, também pela
editora Dantes, em  1999. A   edição 
em  que  nos apoiamos para  fazer 
este  trabalho  é  esta
 última. Nela, encontram-se  os dois textos  acima 
referidos. Um  deles é  o 
prefácio  intitulado  Um folhetim de Lima Barreto, de autoria de Beatriz Resende, o outro é o
 posfácio, de  autoria 
de  Carlito  de 
Azevedo. O texto  de  Carlito 
foi  publicado  anteriormente no jornal  O Estado de S. Paulo no caderno Especial de Domingo em  11 
de  janeiro  de 
1998. Veremos que  ele  aponta 
para  uma  leitura 
interessante  da  obra sobre a razão cientificista em oposição
ao mistério.  
Em sua primeira edição, O subterrâneo do morro do Castelo  foi apresentado  sem 
autoria e  Francisco  de 
Assis Barbosa, na  biografia que  construiu 
de  Lima  Barreto, foi 
quem  assinalou  a 
existência  dessa  obra. Vale 
ressaltar  que  esta narrativa não faz parte do conjunto das
produções literárias do autor publicado em  1956 pela Brasiliense. 
A  narrativa  ficou 
desconhecida  até  mesmo 
pelos  leitores mais fieis de  Lima  Barreto
e, conforme afirma Beatriz Resende na sua introdução (1999), a descrença  nos políticos, a defesa do patrimônio, o
estilo marcadamente jornalístico e a inclusão  no 
folhetim  da  história 
de  D. Garça  asseguram 
que  Lima  Barreto 
é  o  autor 
desse  texto. Por que a presença
da história ultrarromântica ajuda a comprovar a autoria de  Lima Barreto? Ainda segundo Beatriz, os manuscritos
dessa narrativa encontram-se  na
Biblioteca Nacional e seguramente ela foi escrita antes da participação do
autor  na imprensa.  
De fato, Beatriz aponta para marcas constantes nas obras de Lima
Barreto e  a presença dessas
características em  O subterrâneo do morro do Castelo ajudam a  ratificar que quem a escreveu foi realmente
ele. Vale aqui aproveitar a afirmação da  pesquisadora e inserir uma observação, que de
modo algum vai ao encontro do que  ela
afirmou, mas que ajuda a caracterizar essa obra no conjunto das obras do autor.
 Embora haja marcas nessa narrativa que
são comuns ao conjunto de obras do autor,  como as temáticas políticas e o estilo, é
possível dizer que essa produção literária difere bastante das outras produções
do autor em outros pontos. As diferenças mais  marcantes podem ser percebidas na organização
da história e em parte do enredo.  Para  corroborar 
nossa  afirmação, podemos  apontar 
para  o  trabalho 
envolvendo  gêneros bem  distintos como  o 
jornalístico, o  folhetinesco  e, principalmente, o  romance com uma história de amor
ultrarromântica. Logicamente que o papel dessa  história 
amorosa  na  obra 
faz parte  de  um 
discurso  sobre  aquele 
momento,  principalmente no que se
refere à racionalidade do pensamento cientificista.  
O  caráter  de 
folhetim  de  O subterrâneo  do  Morro 
do  Castelo  é 
distinto  daquele  que 
circulava  em  tempos anteriores. Percebemos marcas desse  gênero,  principalmente, nos avisos dados ao  leitor 
sobre  o  término 
e  a  continuidade 
das  partes da narrativa e o fato
de a sua publicação se dar em partes em um jornal  - o Correio da Manhã. Borelli esclarece que: 
[...]  o 
termo  folhetim  diz respeito, 
genericamente  no  XIX, 
ao  espaço  físico  ocupado, em jornal ou revista, por uma sessão
de variedades. O romance-folhetim,  o 
romance  popular,  assim 
como  a  crônica, 
constituem-se  em  possíveis 
alternativas  de  preenchimento 
deste  mesmo  local. 
O  espaço  reservado 
às  variedades  é 
ocupado  com  receitas, 
conselhos,  moda;  no  destinado  ao 
romance  desenrolam-se  aventuras, 
melodramas,  policiais  e outras  formas 
de  manifestação  literária.  O 
lugar da  crônica  é  por
vezes  próprio, por vezes misturado a
características dos gêneros anteriores [grifo  meu] (1996, p. 57-58).
O gênero  com  o 
qual  Lima  Barreto 
tinha  muita  intimidade 
–  a 
crônica  – também  está 
presente  em  O  subterrâneo  do 
Morro  do  Castelo. Embora  crônica 
e  folhetim possuam estreitos
laços familiares (BORELLI, 1996, p. 61), nO subterrâneo  do  Morro 
do  Castelo         predomina  uma 
estrutura  mais folhetinesca,
até  mesmo  pela  sequência  que 
há  entre  cada 
texto  publicado. Encontramos,
no  entanto,  significativos traços estéticos da crônica
como a abordagem do momento presente, o  desdobramento  de 
detalhes perdidos na 
movimentação  cotidiana  no 
período  de  arrasamento do morro. A narrativa é um
folhetim e nele está o dia-a-dia contado pela  crônica e uma narrativa ultrarromântica do
passado contada por uma linguagem ao  mesmo  tempo 
moderna, mas com  umas boas
tonalidades  do  transbordamento  romântico. O jornalista  narrador 
mostra  a  sua 
preocupação, quando  vai  publicar 
a  antiga narrativa, em não
descaracterizar a linguagem do velho códice e, ao mesmo  tempo, de torná-lo adequado para os leitores
do jornal. Também essa conformação  da  obra 
já  aponta  para 
um  diálogo  a 
partir  de  gêneros que 
se  opõem  por  determinados
aspectos. O gótico  se  contrapõe 
à  modernidade  do 
jornalístico  e, a  partir dessa oposição, vão emergindo sentidos
que constituem o discurso literário de  Lima
Barreto nessa obra.
---
Nota:
Nota:
Amadeu da Silva Guedes: “Diálogos de Lima Barreto com o cientificismo em os Bruzundangas e o Subterrâneo do Morro do Castelo.”
(Tese apresentada ao Curso de Doutorado em 
Letras   –  Estudos Literários    –  como  requisito parcial para a obtenção do Grau de  Doutor em  Letras.    Área        de  Concentração:
Literatura e Vida Cultural.  Orientador:
Professor Dr. Luis Filipe Ribeiro. Universidade Federal Fluminense). Niterói, 2012
 
 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário