11/11/2013

A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo

 Joaquim Manuel de Macedo - A Moreninha - Iba Mendes
Para baixar este livro gratuitamente em formato PDF, acessar o site  do “Projeto Livro Livre”: http://www.projetolivrolivre.com/
(Download)

Os livros estão em ordem alfabética: autor/título (coluna à esquerda) e título/autor (coluna à direita).

---

O contexto histórico e as mudanças na recepção crítica  de A moreninha

A moreninha é o principal romance da fase introdutória do Romantismo  brasileiro e até hoje é um dos mais conhecidos representantes da nossa prosa romântica.  Seu enredo é centrado na história de amor entre Augusto e Carolina e registra os  costumes da sociedade carioca oitocentista.

Sendo a primeira obra da literatura brasileira a obter sucesso de público,  agradando também à crítica da época, permanece na cultura brasileira devido às  adaptações para o cinema, teatro, televisão e quadrinhos. No século atual, ainda é  reeditada com relativo sucesso e é obra sempre presente nas salas de aula, fazendo parte  do currículo escolar.

Publicada em 1844, é a primeira e mais conhecida obra de Joaquim Manuel de  Macedo e proporcionou a seu autor fama imediata, inaugurando o chamado romance  urbano em nosso país.

Esse romance foi escrito após a oficialização da independência política  brasileira, ocorrida em 1822, período em que crescia no país o desejo de independência  também em relação à literatura portuguesa, para que o Brasil pudesse se afirmar como  nação. Época, portanto, de crescente sentimento nacionalista em que era bem forte o  interesse em exaltar nossa cultura, nossas belezas naturais, ou seja, desejava-se construir  uma identidade própria para o país recém-liberto.

O surgimento desse sentimento nacionalista foi importante, pois até então os  enredos e cenários das narrativas que circulavam por aqui, em sua maioria, não nos  diziam respeito. Pesquisas envolvendo a circulação de livros e a leitura no período  colonial, desenvolvidas pelas professoras Márcia Abreu (2007) e Marisa Lajolo (2004),  comprovam a forte presença de romances estrangeiros no país, principalmente os franceses e ingleses. Estudos desenvolvidos por Marlyse Meyer (1996) e Ana Lúcia  Reis (2005) apontam que, na época da publicação do primeiro romance macediano, os  folhetins franceses a cada dia conquistavam mais leitores.  

Essas e outras pesquisas recentes apontam para o fato de que o lançamento de A  moreninha representou uma pequena revolução literária, pois inaugurou um novo estilo    no país. Tratava-se de uma das primeiras tentativas de se formar uma literatura  brasileira independente, observando usos e costumes locais, utilizando uma linguagem  tipicamente nossa e envolvendo temas nacionais. De acordo com críticos como  Massaud Moisés (2001), Heron de Alencar (2004), Alfredo Bosi (1994), Wilson  Martins (1977) e Antonio Candido (1981), a obra dos autores considerados precursores  do romance brasileiro apresentava uma qualidade precária e revelava uma ainda  indecisa literatura brasileira, que oscilava entre o conto, a novela e a crônica. As  narrativas desse período, embora apresentassem algumas tentativas de abrasileirar a  ficção, eram apenas embriões a espera de crescimento, ora parecendo imitação ou  tradução de folhetins franceses, ora ainda muito presas à literatura portuguesa. De uma  forma mais organizada que seus predecessores e com um nível técnico bastante elevado  para a época, a publicação de A moreninha deu início ao moderno romance brasileiro. A  obra era um esforço preliminar para se criar uma tradição e uma linguagem nossas, que  mais tarde poderiam ser aprimoradas e desenvolvidas por outros autores.

Os romances dessa fase inicial da prosa romântica brasileira eram parte  integrante de um projeto ideológico, elaborado pela elite dirigente, que tinha por  objetivo criar a ideia de nação. Buscava-se construir uma consciência nacional que  levaria a população da ex-colônia cada vez mais a se sentir fazendo parte de uma  mesma nacionalidade, que fosse diferente da portuguesa.

Muitos românticos brasileiros assumiram para si a responsabilidade da  construção da nação. A educação era vista como uma espécie de missão e esses  escritores utilizavam a literatura como instrumento pedagógico e moralizador. A  moreninha pode ser vista como a primeira obra a refletir o processo civilizatório  vigente, que tinha por objetivo superar o nosso atraso cultural, fruto dos anos de  colonização. Através do discurso presente nesse romance percebe-se um esforço para  modernizar, moralizar e instruir o leitor.

Os conceitos de historicidade da literatura e de horizonte de expectativas, de  Hans Robert Jauss, serão utilizados neste artigo para tentar explicar por que a obra A  moreninha foi recebida pela crítica de forma diferente ao longo dos séculos. Esse autor  afirma que:
  
A obra literária não é um objeto que exista por si só, oferecendo a cada  observador em cada época um mesmo aspecto. Não se trata de um  monumento a revelar monologicamente seu Ser atemporal. Ela é, antes, como  uma partitura voltada para a ressonância sempre renovada da leitura,  libertando o texto da matéria das palavras e conferindo-lhe existência atual.  (JAUSS, 1994, p. 25).
  
De acordo com Jauss (1994), existe um saber prévio que determina a recepção  da obra pelo público leitor denominado “horizonte de expectativas”, que estaria acima  da compreensão subjetiva e particular de cada leitor. A recepção da obra surge como um  fato social e histórico ao situar as reações individuais de cada leitor dentro de um  universo mais amplo no qual cada indivíduo está inserido. Esse universo sugestionaria o  indivíduo a fazer interpretações influenciadas por um saber coletivo. Dessa forma, a experiência social e histórica do grupo ao qual o indivíduo pertence seria dominante em  relação a cada leitura individual. Uma mesma obra pode atender, romper ou ampliar as  expectativas dos leitores de forma diferente, dependendo do momento histórico no qual  for lida.

---
Fonte:
Rosália de Almeida Dias: “O contexto histórico e as mudanças na recepção crítica  de A moreninha”. Cadernos do IL, Porto Alegre, n.º 45, dezembro de 2012. p. 19-38. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Nenhum comentário:

Postar um comentário