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Breve
comentário sobre a obra “Viagens na Minha Terra”, de Almeida Garret
O romance
“Viagens da Minha
Terra” desponta como
uma das obras
mais significativas da produção
literária de Garrett, por conter indicações sobre suas posições políticas, por
realizar um intenso
diálogo com os
temas do Romantismo
e por fazer referências
a uma produção literária européia marcante para a época.
Publicado, inicialmente,
de um período
que vai de
1843 até 1845,
na Revista Universal
Lisbonense, somente em
1846, aparece em
volume. Portugal, nessa
época, vivia o cabralismo, a instabilidade política e o
retorno da Carta Constitucional. O
romance representou uma verdadeira revolução literária em Portugal por abordar reflexões
de Garrett na
viagem a Santarem
e por contar
a história de
amor de Carlos, combatente liberal, e Joaninha, sua prima e
símbolo da pureza da vida do campo.
*
Além de
apresentar muitos temas
oriundos de uma visão de
mundo romântica, Garrett também explora o deslocamento de
Carlos perante quadros sociais divergentes, que
lhe pedem uma
conduta moral variável.
Como no início
da narrativa que
é um apaixonado
pela causa liberal
e por Joaninha
e que depois,
torna-se um rico “barão”
(símbolo
do burguês acumulador
de capital e
ligado, somente, a
questões materiais e quantitativas).
Sobre essa
transformação de Carlos,
Garrett já a
enuncia no início da
narrativa, como um
prenúncio do irremediável.
Nas suas reflexões
introdutórias, o autor
faz um amplo panorama da sociedade européia do
oitocentos, de seus valores e códigos éticos, obedecendo uma típica crítica romântica diante
da “modernidade capitalista burguesa”.
Vejamos uma
parte desse significativo trecho, que não deixa dúvidas a respeito do “romantismo” de Garrett:
“Quantas
almas é preciso
dar ao diabo
e quantos corpos
se têm de
entregar no cemitério
para fazer um
rico neste mundo.
– Como se
veio a descobrir
que a ciência deste
século era uma
grandessíssima tola.”(...). “Não:
plantai batatas, ó
geração de vapor
e de pó
de pedra, macadamizai
estradas, fazei caminhos
de ferro, construí passarolas
de Ícaro, para
andar a qual
mais depressa, estas
horas contadas de uma
vida
toda material, maçuda
e grossa como
tendes feito esta
que Deus nos
deu tão diferente do que a que hoje vivemos. (...). Logo
a nação mais feliz, não é a mais
rica. Logo o princípio utilitário é a
mamona da injustiça e da reprovação.”
O romance
é perpassado por
uma fina ironia,
que recai sobre
a própria estética romântica, por digressões e vários recursos de
linguagem, tudo para provocar a reflexão e a identificação do leitor com as situações
apresentadas pelo autor.
Sobre a
construção do próprio
romance, Garrett remete-se
ao leitor: “Trata-se de um romance,
de um drama – cuidas
que vamos estudar
a história, a
natureza, os monumentos,
as pinturas, os
sepulcros, os edifícios,
as memórias da
época? Não seja pateta, senhor
leitor, nem cuide
que nós somos.
Desenhar caracteres e
situações do vivo
na natureza, colori-los
das cores verdadeiras
da história...isso é
trabalho difícil, longo,
delicado, exige um
estudo, um talento,
e sobretudo um
tato!...Não senhor: a coisa faz-se
muito mais facilmente.
Eu lhe explico.
Todo o drama
e todo o
romance precisa de: Uma ou duas
damas, Um pai, Dois ou três filhos, de dezenove a trinta anos, Um criado velho, Um monstro encarregado de
fazer as maldades,(...)”
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Fonte:
Leonardo de Atayde Pereira: “O sentido de História para Alexandre Herculano: uma interpretação romântica 1830 – 1853. (Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Departamento de História. Área de História Social. Orientador: Prof. Dr. Lincoln Ferreira Secco). Universidade de São Paulo, 2009
Fonte:
Leonardo de Atayde Pereira: “O sentido de História para Alexandre Herculano: uma interpretação romântica 1830 – 1853. (Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Departamento de História. Área de História Social. Orientador: Prof. Dr. Lincoln Ferreira Secco). Universidade de São Paulo, 2009
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