19/10/2013

Sonhos D'Ouro, de José de Alencar

Sonhos de Ouro de Jose de Alencar
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Uma história de sonhos, uma história de ouro

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A história de Sonhos D’Ouro começa em um verão tropical, sob o sol ardente da Tijuca onde se encontram Ricardo e Guida. Ele, um jovem bacharel provinciano, com interesses e dotes artísticos, está no Rio trabalhando honestamente para conseguir vinte contos de réis, montante que o levaria à felicidade. Guida é a moça da corte, educada à inglesa, versada em salões e menina mimada, vendo todos os caprichos satisfeitos, por ser filha de Soares, homem que “de simples dono de armarinho, se elevara a milionário”, a “banqueiro”. A narração do primeiro encontro das duas personagens utiliza tantos recursos teatrais que o leitor logo percebe por onde vai a história e seu motor é “esta diferença de condições sociais”, apontada por Antonio Candido, na Formação da Literatura Brasileira, como “uma das molas da ficção de Alencar” A explicitação dessa diferença social entre as personagens cria a possibilidade de lermos, neste romance, episódios de uma história do ouro. Os capítulos VIII e XII trazem algumas maneiras de enriquecimento e de aquisição de títulos de nobreza, ao apresentarem os convivas de Soares, mostrando que as relações existentes à mesa de almoço ou de jogo são tecidas pelo dinheiro. Este aparece também como elemento decisivo na definição do casamento, problema longamente discutido nos capítulos XXV e XXVI. O narrador, no capítulo V, atribui a devastação da natureza ao desejo de lucro. Freqüentemente, esse universo de relações humanas permeado por disputas econômicas serve de apoio a crítica.s à atividade política, como nas seguintes palavras de Soares, referindo-se ao casamento da filha: “eu sou a coroa, a Guida é o parlamento. Ela tem o direito de votar o projeto; eu limito-me à sanção ou ao veto”.

Na relação entre Guida e Ricardo hd dois obstáculos: o ouro e a consciência. Observe-se o caráter metálico das imagens que a ela se referem: o riso “argentino” de Guida é comparado a “um cofre de pérolas e rubis”; “ela era o milhão feito anjo; o ouro convertido em luz, a libra esterlina transformada em estrela”, e sonhos d’ouro, a flor que provoca o encontro das personagens, tem a cor do metal. Ricardo defende a dignidade do trabalho, recusando-se a relacionar-se com o mundo pela circulação do dinheiro ou do favor.

Isola-se em seu pequeno quarto para preservar a palavra empenhada e a consciência, trabalhando em alguns processos e traduzindo folhetins e Eugénie Grandet. Intencional ou não, é interessante citação desta obra de Balzac: história de uma riqueza que cresce na medida em que os proprietários se dissolvem, uma trajetória de desumanização.

Talvez por a realidade brasileira não apresentar o mesmo grau de complexidade que a província francesa, talvez por Alencar não conseguir olhá-la com a pupila impiedosa de Balzac, Sonhos D’Ouro impregna-se do romantismo e nos oferece uma história de amor. Ricardo, liberado do compromisso de sua palavra, volta à harmont natural da Tijuca. A rapidez do desabrochar da flor desata os sentimentos. Com a mesma pressa, Alencar foi ao prelo acrescentar o post-scriptum que, apesar de tantas peripécias douradas, acaba forjando um happy-end para a história de sonhos. Talvez seja esta a que mais cale na memória do leitor.

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Fonte:
Valéria de Marco, in: “Sonhos D’Ouro”: José de Alencar. Editora Ática. São Paulo, 1981.

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