25/01/2016

Lisboa no Ano Três Mil, de Cândido de Figueiredo


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Cândido de Figueiredo

Antônio Cândido Pereira de Figueiredo nasceu em 19 de setembro de 1846 em Beira Alta, Portugal. Aos treze anos, escreveu uma descrição de sua aldeia que foi publicada na revista Almanaque. Assim, podemos perceber sua forte inclinação aos estudos literários. Viveu em sua terra natal até 1861, ano em que se mudou para Viseu, com o objetivo de estudar no liceu dessa cidade. Segundo Cabañas (2005:21), Figueiredo foi aprovado com louvor no exame de português do liceu graças ao seu talento literário.

Aos 21 anos formou-se no curso superior de Teologia “e, por falta de recursos econômicos, admitia a vida eclesiástica mesmo sem vocação” (Op.cit.:23). Vivia, no entanto, dividido entre a carreira eclesiástica e as letras. Em Janeiro de 1868, com a ajuda de seus amigos e do pai, publicou seu primeiro livro, Quadros Cambiantes.

Ainda segundo informações de Cabañas (2005:23), pudemos saber que esse livro teve tão boa aceitação que o chefe do partido reformista do distrito, João Mendes, que era um homem rico e influente, decidiu financiar os estudos de Figueiredo na Universidade de Coimbra. Assim, Figueiredo iniciou o curso de direito.

No segundo ano de faculdade, no entanto, Figueiredo enfrentou sérias dificuldades financeiras para continuar o curso, pois, por problemas econômicos e familiares, João Mendes não pode mais financiar seus estudos. Algum tempo depois, o universitário passou a receber auxilio financeiro da poetisa D. Mariana Angélica de Andrade, conhecedora e admiradora de seus poemas. Figueiredo e a poetisa passam a ser amigos e confidentes.

Cabañas (2005:24) ainda relata que, durante os anos de faculdade, Figueiredo publicou outro livro, Poema de Miséria, e manteve-se próximo aos literatos e jornalistas. Dessa forma, colaborou na revista Folha, importante revista acadêmica da época, ajudou a fundar a Revista, órgão de uma corporação literária e científica e assumiu a direção e a gerência do Instituto, nos três últimos anos de faculdade.

Em julho de 1874, Figueiredo conclui o curso de direito e após a formatura casou-se com D. Mariana Angélica de Andrade, sua protetora financeira nos anos de faculdade. Por ter recebido ordem eclesiástica, Cândido de Figueiredo teve que entrar com processo de pedido de dispensa pontifica para receber a autorização da igreja para casar-se.

Foi inspetor extraordinário das escolas do distrito de Coimbra, arquivista do Ministério da Justiça e trabalhou na Direção Geral do Registro Civil e Estatística. Como jornalista, empregou-se no Jornal da Noite, substituiu um amigo por algum tempo no Jornal Correspondência de Portugal, fundou a revista literária Cenáculo, foi diretor do

Diário de Portugal e fundou e dirigiu os jornais A Capital e O Globo. Também abriu um escritório de advocacia e seguiu a carreira jurídica, porém nunca deixou as atividades literárias e jornalísticas.

Em 1880, Figueiredo, após enfrentar várias doenças graves, ficou cego. Ainda segundo Cabañas (2005:26), o escritor, naquele momento, “Profundamente deprimido, pois não podia mais ler nem escrever, isolou-se em sua casa. Com o tempo, entretanto, desenvolveu a habilidade de escrever, mesmo sem a visão.”. Contrariando as previsões médicas, após muitos meses, Cândido de Figueiredo começou a recuperar a visão.

Mal havia superado o problema da cegueira, em novembro de 1882, outro drama aconteceu na vida de Figueiredo, a morte de sua esposa, a poetisa Mariana Angélica de Andrade, com quem teve duas filhas, Rosalina e Corina. Algum tempo depois, casou-se com Antônia Piedade Serrano e dessa união teve quatro filhos: Flávia, Reinaldo, Octávio e Dora. (Cabañas, op.cit.)

Sabemos ainda que Cândido de Figueiredo escreveu também o Novo Dicionário da Língua Portuguesa e foi um dos precursores dos consultórios gramaticais e um de seus representantes mais famosos e respeitados. Graças a seus escritos sobre a língua portuguesa foi membro da Academia das Sciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Letras. Publicou também muitos livros, nos quais compilou artigos já publicados na imprensa, escreveu novos textos e divulgou os consultórios gramaticais.

No final do século XIX e início do século XX, seus livros sobre a norma tradicional da língua portuguesa eram bastante vendidos e tiveram diversas edições. Alguns desses livros são: Lições Práticas da Língua Portuguesa (3 volumes); Problemas da Linguagem (2 volumes); O que se não Deve Dizer (2 volumes); Os Estrangeirismos (2 volume); Falar e Escrever (3 volumes); A Ortografia no Brasil (1 volume); O Problema da Colocação dos Pronomes (1 volume) e Vícios da Linguagem Médica (1 volume).

Os livros, Lições Práticas da Língua Portuguesa (volume I), O que se não Deve Dizer (volume I) e Falar e Escrever (volume III), analisados para o presente trabalho, possuem, entre os escritos, diversas consultas gramaticais. A seguir falaremos sobre cada um desses livros.

Lições Práticas da Língua Portuguesa, obra publicada em três volumes, com primeira edição no primeiro semestre de 1891, teve tiragem de mil exemplares e foi esgotada em poucas semanas. Foi reeditada, então, em setembro de 1891 em segunda edição e em 1904 e 1911 em quarta e quinta edições, respectivamente.

No “Antelóquio” da primeira edição do primeiro volume de Lições Práticas da Língua Portuguesa, Cândido de Figueiredo mostrou-se incomodado com as “incorreções linguísticas” veiculadas pela imprensa, deu a si o nome fictício de Caturra Junior e explicou como surgiu e em que consiste o livro em questão:

Viu isto Caturra Junior, um ingênuo e obscuro cultor da língua pátria, e consagrou algumas horas de ócio ao respigo das numerosas incorreções, que passam, sem contestação nem reparos, através do jornalismo e do povo que lê.

Essa colheita, com as respectivas correções, foi o assunto de algumas dezenas de cartas que, divulgadas pela imprensa, acarearam a mais lisonjeira aceitação, e sugeriram consultas, dúvidas e discussões, que dilataram o plano do autor, e converteram o seu trabalho num curso regular de linguagem prática (Figueiredo, 1911: 6).

Assim, em Lições Práticas da Língua Portuguesa (1911), primeiro volume, Figueiredo compilou tanto suas cartas, escritas com o pseudônimo de Caturra Junior e dirigidas ao redator do jornal Português, em que comentou as constantes incorreções linguísticas na mídia (revistas e jornais), quanto as cartas dos leitores, com suas respectivas respostas. Acreditamos que as cartas publicadas nesse livro foram recebidas e respondidas por Figueiredo enquanto produzia seu trabalho de crítica à imprensa.

Por haver, no primeiro volume de Lições Práticas da Língua Portuguesa (1911), aqui analisado, a interlocução entre Caturra Junior (Cândido de Figueiredo) e os leitores, que lhe escreviam para fazer-lhe perguntas ou comentários sobre a norma prescritiva formal da língua portuguesa, podemos dizer que parte desse livro já se constituía como um consultório gramatical.

No livro O que se não deve dizer, que teve primeira edição em 1903 e terceira e quinta edições, respectivamente, em 1916 e 1929, Figueiredo mesclou novamente artigos em que comentou problemas linguísticos, como por exemplo, os constantes artigos que discutiam ortografia (tema recorrente na época, como já mencionamos), com textos típicos dos consultórios gramaticais, em que ele respondia a perguntas dos leitores (consulentes).

No “prefácio” da primeira edição do primeiro volume de O que se não deve dizer), denominado “Em vez de Prefácio”, o autor justificou o título desse livro, quando disse que esse poderia ser o título de qualquer uma de suas obras, pois tudo que havia feito nos últimos anos era apontar “o que se não deve dizer ou escrever”. Em seguida, falou sobre o subtítulo “Notas de Filologia”, justificado, segundo ele, pela variedade e natureza dos estudos desse livro. Dessa forma, apontou a não uniformidade dos textos presentes nessa obra.

O primeiro volume de O que se não deve dizer (1929) se divide em duas partes, denominadas “Princípios e Fatos” e “Crítica Suave”, a primeira parte é composta por artigos e consultórios gramaticais e a segunda, por respostas a diversas críticas feitas ao consultor por outros estudiosos da linguagem ou por falantes comuns. “Princípios e Fatos” inicia-se na página 13 e termina na página 183 e “Crítica Suave” vai da página 187 à página 306.

O livro seguinte de Figueiredo, Falar e Escrever, possui os seguintes subtítulos: “Novos Estudos Práticos de Língua Portuguesa” e “Consultório Popular de Enfermidades da Linguagem”. O segundo subtítulo do livro sugere que temos um livro quase inteiro de consultórios gramaticais, em que os consulentes fizeram perguntas sobre os usos “corretos” e “incorretos” da língua portuguesa e o consultor Figueiredo, ao respondê-las, apontou os problemas (enfermidades) de nossa língua.

Falar e Escrever, que é um livro constituído por três volumes, com primeiro edição em 1906, segunda e quarta edições, respectivamente, em 1917 e 1929, também pode ser considerado uma retomada de Lições Práticas da Língua Portuguesa, como o primeiro subtítulo do livro sugere, pois muitas das características de um livro aparecem no outro.


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Fonte:
Iara Lucia Marcondes: "Os consultórios gramaticais: um estudo de preconceito e intolerância linguisticos". (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Língua Portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em Letras. Orientador: Profa. Dra. Marli Quadros Leite). São Paulo, 2008.



Nota:
A imagem inicial inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.

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