03/10/2015

Quatro Quartetos (Poesia), de Salomão Rovedo

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1
O FANTASMA DE SÃO PANTALEÃO

I
Orarei.

As nuvens cinzentas querem enterrar de vez este dia,
como os carrilhões das cento e cinquenta igrejas
sepultaram de vez o dia de finados.

Caminharei.

Descalço sobre as areias ásperas da praia de Olho d´Água
até que este corpo suado e febril desfaleça
cansado entre as areias de Araçagy e Raposo.

Desejarei.

O som das Matinas de Finados pedem às flores
que enfeitem a voz das comadres – o encantado São Pantaleão
fervilha de morte e vida.

Ajoelharei.

Selo a paz com Santa Terezinha do Menino Jesus,
prometo guardar para sempre o semblante em sépia da
mulher amada, só então irei embora
com o olhar vagando perdido entre dias futuros e pósteros.

Lembrarei.

Que era setembro, chovia a chuva do tempo antepassado,
que as pistas do aeroporto estavam alagadas
– e as almas intransitáveis a vôos e velas.

Rogarei.

Perdão, sim, porque não cantei o sentimento do mundo
jamais e São Judas Tadeu sabe que não serei o bom samaritano,
nem bom coroinha. Mas que foi dali que todos partimos um dia
para navegar outras esperanças.

Sentirei.

E em memória dos ossos que habitam
os esquifes apodrecidos pela chuva, enfeito o ambiente
com o rosto lacrimoso do soluço da despedida prematura.

Visitarei.

Após as escadarias de cantaria laminada pelo lodo e da vasa,
caminhar entre os túmulos perdoados, visitante impuro,
visagem fútil entre as lajes coloridas de branco e negro
– orar para os habitantes das noites irrequietas.

Voltarei.

Quando não for mais primavera, quando a água se acalmar,
quando o velho tempo já estiver aposentado no viver quieto,

esticando as pernas ao longo da estrada.

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