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1
O FANTASMA DE SÃO PANTALEÃO
I
Orarei.
Orarei.
As nuvens cinzentas querem
enterrar de vez este dia,
como os carrilhões das cento e cinquenta igrejas
sepultaram de vez o dia de
finados.
Caminharei.
Descalço sobre as areias
ásperas da praia de Olho d´Água
até que este corpo suado e febril desfaleça
cansado entre as areias de
Araçagy e Raposo.
Desejarei.
O som das Matinas de Finados
pedem às flores
que enfeitem a voz das
comadres – o encantado São Pantaleão
fervilha de morte e vida.
Ajoelharei.
Selo a paz com Santa
Terezinha do Menino Jesus,
prometo guardar para sempre o semblante em sépia da
mulher amada, só então irei embora
com o olhar vagando perdido
entre dias futuros e pósteros.
Lembrarei.
Que era setembro, chovia a
chuva do tempo antepassado,
que as pistas do aeroporto
estavam alagadas
– e as almas intransitáveis a vôos e velas.
Rogarei.
Perdão, sim, porque não cantei o sentimento do mundo
jamais e São Judas Tadeu
sabe que não serei o bom samaritano,
nem bom coroinha. Mas que
foi dali que todos partimos um dia
para navegar outras esperanças.
Sentirei.
E em memória dos ossos que habitam
os esquifes apodrecidos pela chuva, enfeito o ambiente
com o rosto lacrimoso do
soluço da despedida prematura.
Visitarei.
Após as escadarias de
cantaria laminada pelo lodo e da vasa,
caminhar entre os túmulos
perdoados, visitante impuro,
visagem fútil entre as lajes coloridas de branco e negro
– orar para os habitantes
das noites irrequietas.
Voltarei.
Quando não for mais
primavera, quando a água se acalmar,
quando o velho tempo já
estiver aposentado no viver quieto,
esticando as pernas ao longo
da estrada.
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