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Sá de Miranda: Os estrangeiros
Foi a partir de 1526, após
retornar de sua célebre estada na Itália (para onde partira em 1521), que Sá de
Miranda começa a pôr por obra o seu projeto de reforma das letras portuguesas,
orientado e incentivado pelo pujante movimento de renovação, de revivescência
dos arquétipos greco-latinos, que para as terras italianas, justamente, o
aliciara. Recorde-se que Erasmo, em carta a Anne de Verre, de quem espera o
apoio pecuniário que lhe possibilite pôr-se a caminho da Itália, afirma
ter-se-lhe tornado necessária a viagem, antes de mais nada, “para dar à minha
pequena ciência a autoridade dessa ilustre estância”.
De regresso daquelas paragens
rutilantes, desiderato de tantos intelectuais e artistas de seu tempo, escreve
então Sá de Miranda, porventura em 1527, a comédia Os estrangeiros, materializando
um objetivo ponderoso: Transplantar para Portugal, “cabo do mundo”, a exemplo
do que tinham efetuado, em língua italiana, autores como Ariosto e Bernardo da
Bibbiena, o paradigma cômico latino, constituído pelas peças de Plauto e de
Terêncio. Estes são, por sinal, a par de Ariosto, os dramaturgos a que se
reporta o poeta, assim especificando seus modelos, no texto em que oferece sua
obra ao cardeal D. Henrique.
No prólogo de Os estrangeiros
fala a própria comédia; ciente de ser uma estrangeira, isto é, de tudo que a
distingue do que em Portugal se tem costumadamente por teatro – o auto
vicentino, em primeiro e prestigioso lugar –, antecipa a personagem o desconcerto,
talvez o desdém zombeteiro, com que há de por certo acolhê-la um público
incapaz de a identificar. Sá de Miranda está a acentuar, com efeito, o
ineditismo de sua empresa; por outro lado, não se inibe de indigitar a
ignorância da platéia, ao fazer-lhe uma preleção – breve, é verdade – acerca da
origem grega da comédia, de sua transplantação para Roma e do brilho com que aí
floresceu, da sorte funesta que lhe veio da derrocada do fastígio romano, e da
exumação recente, enfim, que a fez assomar de novo aos palcos, e aos da Itália,
primeiramente, donde está vindo ela a este “cabo do mundo”, Portugal, em que
haverá talvez quem a deseje, confundido por seu nome, comê-la. Epítome
chistoso, e um tanto presunçoso, porventura, reminiscente dos 105 prólogos polêmicos
de Terêncio, em que se adverte o intelectual enfronhado nos modelos dramáticos
antigos (e nos modernos que os imitam) e mais que tudo empenhado, contra a veia
plebéia dos autos, em fazê-los prosperar em solo português: abona-os, de resto,
a ilustre genealogia greco-latina, aduzida oportunamente pelo autor. Marca
dessa intenção programática é a observância estrita, em Os estrangeiros, das
unidades de ação, de tempo e de lugar; outra característica relevante é o
emprego da prosa, neste caso em lugar da redondilha e dos chamados versos de
arte maior, e a mais a divisão da peça em cinco atos.
No prólogo de sua Calandria,
assinala Bernardo da Bibbiena: “Voi sarete oggi spettatori d‟una nova commedia
intitulata Calandria: in prosa, non in versi; moderna, non antiqua; vulgare,
non latina”. “Moderna” quer dizer coetânea do autor, na ambientação, com tudo
que isso acarreta à determinação dos caracteres, da temática, da linguagem,
etc., o que, de fato, não obsta à assimilação do paradigma antigo, plautino e
terenciano. Somada essa última às características apontadas por Bernardo da
Bibbiena, obtém-se, com efeito, o programa sumário da comédia como a concebia
Sá de Miranda, a comédia do Renascimento, também denominada comédia erudita.
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Fonte:
Fonte:
Eugênio Gardinalli Filho: “A Comédia
Erudita em Portugal: Sá de Miranda (Tese de doutorado. Orientadora: Profa. Dra. Maria Helena Ribeiro da
Cunha. Área de Concentração: Literatura
Portuguesa São Paulo. Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas). São Paulo, 2009.
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