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A grande obra do único homem de gênio que talvez tenha produzido a
nossa terra, não podia isentar-se deste fado inerente às grandes celebridades.
Eram apenas passados dezoito anos depois da publicação dos Lusíadas —
ainda a reputação de Camões não estava consagrada pelos séculos, quando alguns
homens engenhosos compreenderam que aquela obra imortal era uma daquelas a que
a paródia era devida. O resultado de seus trabalhos não é de certo para
comparar com nenhuma das espirituosas produções que ficam mencionadas; mas ainda
assim não é esta inteiramente destituída de merecimento. Francisco Soares
Toscano, bem conhecido dos literatos pelo seu Paralelo de Príncipes,
escreveu uma interessante notícia sobre esta obra, em que nos conta o curioso
modo por que ela foi composta. Quatro estudantes da Universidade de Évora
costumavam sair a passear, às tardes, aos arrabaldes da cidade, levando consigo
os Lusíadas. Chegados a um verde ferrageal, sentavam-se a uma fresca sombra, e
se abria a sessão parodiadora. Assim como a engelhada e disforme máscara de uma
velha megera cobre o rosto radiante de formosura de uma elegante Coquete,
para mais fazer realçar seus encantos, quando deixe cair aquele hediondo
disfarce; assim o imortal poema devia ser desfigurado por aqueles travessos
estudantes. Os Gamas, Castros e Albuquerques tinham de ceder seu lugar aos
Catigelas, Lunas e Barbanças, barões sem dúvida tão assinalados nos combates de
Baco como ess'outros nos de Marte.
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