10/09/2015

Memória sobre a descoberta das ilhas Porto Santo e Madeira, de Emiliano Augusto de Betencourt


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Quando o infante D. Henrique voltou de África foi residir em uma terra do Algarve, situada na ponta mais desgarrada da Europa, e que parece ter sido destinada pela natureza a servir de posto avançado à civilização europeia. Nesta terra, cujo senhorio el-rei havia dado a D. Henrique, fundou ele uma vila, que se denominou do “Infante”, e a qual devia servir para trato e refresco dos mareantes que fossem ou viessem do levante.
Sagres, no cabo de S. Vicente, pois que foi este o lugar escolhido pelo infante para estabelecer a sua vila, era pelo ocidente o terminus natural do mundo conhecido no começo do século XV, em quanto que o cabo Não, da África, marcava no mar do sul o limite até onde haviam podido chegar os navegantes europeus.
O infante desejava ultrapassar estes limites, colhera em Ceuta algumas informações, e com essas vagas notícias ia mandar os seus criados a explorar os mares do sul.
D. Henrique era o quarto filho de el-rei D. João I e grão-mestre da Ordem de Cristo, dignidade que punha nas suas mãos a administração das enormes rendas da Ordem; possuía um gênio empreendedor e era perseverante e generoso: tais dotes juntos a tão grandes meios fizeram do infante o maior homem do começo dos tempos modernos, herói cujas obras aproveitaram ao mundo inteiro.
Quando, pois, o infante dava princípio à série de viagens de exploração que determinara fazer à costa da África, mandando todos os anos duas ou três caravelas, comandadas por alguns dos seus mais zelosos criados, com o encargo de passarem o cabo Bojador, e irem o mais longe que pudessem; sucedeu que dous fidalgos de sua casa, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, que com o infante também se haviam achado no socorro da praça de Ceuta, se lhe ofereceram para irem passar o mencionado cabo e descobrirem a terra da Guiné.
Saíram portanto mar fora estes arrojados fidalgos, em uma pequena embarcação, que o infante lhes fez aprestar e prover de todo o necessário; mas decorridas que foram algumas milhas encontraram ventos de travessia, que os arrojou para o alto mar onde correram por muito tempo à mercê de uma forte tempestade, até que se acharam sobre as costas de uma terra desconhecida.

Zarco e Tristão saíram em terra para se abrigarem da tormenta, dando, por tal motivo, à ilha desconhecida a denominação de Porto Santo.

[Trecho do livro]

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