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Quando
o infante D. Henrique voltou de África foi residir em uma terra do Algarve,
situada na ponta mais desgarrada da Europa, e que parece ter sido destinada
pela natureza a servir de posto avançado à civilização europeia. Nesta terra,
cujo senhorio el-rei havia dado a D. Henrique, fundou ele uma vila, que se
denominou do “Infante”, e a qual devia servir para trato e refresco dos
mareantes que fossem ou viessem do levante.
Sagres,
no cabo de S. Vicente, pois que foi este o lugar escolhido pelo infante para
estabelecer a sua vila, era pelo ocidente o terminus natural do mundo conhecido no começo do século XV, em quanto que
o cabo Não, da África, marcava no mar do sul o limite até onde haviam podido
chegar os navegantes europeus.
O
infante desejava ultrapassar estes limites, colhera em Ceuta algumas
informações, e com essas vagas notícias ia mandar os seus criados a explorar os
mares do sul.
D.
Henrique era o quarto filho de el-rei D. João I e grão-mestre da Ordem de Cristo,
dignidade que punha nas suas mãos a administração das enormes rendas da Ordem; possuía
um gênio empreendedor e era perseverante e generoso: tais dotes juntos a tão
grandes meios fizeram do infante o maior homem do começo dos tempos modernos, herói
cujas obras aproveitaram ao mundo inteiro.
Quando,
pois, o infante dava princípio à série de viagens de exploração que determinara
fazer à costa da África, mandando todos os anos duas ou três caravelas, comandadas
por alguns dos seus mais zelosos criados, com o encargo de passarem o cabo Bojador,
e irem o mais longe que pudessem; sucedeu que dous fidalgos de sua casa, João
Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, que com o infante também se haviam
achado no socorro da praça de Ceuta, se lhe ofereceram para irem passar o
mencionado cabo e descobrirem a terra da Guiné.
Saíram
portanto mar fora estes arrojados fidalgos, em uma pequena embarcação, que o
infante lhes fez aprestar e prover de todo o necessário; mas decorridas que
foram algumas milhas encontraram ventos de travessia, que os arrojou para o
alto mar onde correram por muito tempo à mercê de uma forte tempestade, até que
se acharam sobre as costas de uma terra desconhecida.
Zarco
e Tristão saíram em terra para se abrigarem da tormenta, dando, por tal motivo,
à ilha desconhecida a denominação de Porto
Santo.
[Trecho do livro]
[Trecho do livro]
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