08/02/2015

Marques de Pombal, de Manuel Emygdio Garcia

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Marquês de Pombal

Gênio perspicaz, filósofo profundo e hábil político, o Marquez de Pombal já previa, como o antigo ministro de Luiz XV, que uma revolução, uma crise tempestuosa se avizinhava, para tudo transformar e regenerar tudo, ou tudo perder.

A Europa agitava-se em seus fundamentos: havia uma espécie de detonação, que impressionava os espíritos: estranhas convulsões abalavam o grande corpo social, como sintomas percussores de um próximo terremoto moral e político.

A anarquia popular avizinhava-se do seu momento fatal; o governo monárquico-absoluto, desacreditado em quase todos os estados da Europa, quase desconhecido no Novo Mundo e declarado por muitos espíritos retos o pior dos governos, esperava todos os dias a sua sentença de morte; a ação filosófica, apoderando-se das inteligências elevadas do século, ia-lhe preparando o suplício no patíbulo da opinião pública.

Os filósofos de Inglaterra e França trabalhavam fervorosos na propaganda liberal: as Teorias de Bacon e Montesquieu tinham sido profundamente desenvolvidas e levadas até às suas últimas consequências práticas.

A interferência da Inglaterra, a sua ação política, disfarçada debaixo da aparência de um grosso trato comercial, influenciava, de um modo enérgico e profundo, a situação moral e econômica dos povos; como as cruzadas, em nome de Deus e pela fé, produziram, em seu tempo, notável transformação social.

Um vento filosófico soprava da Alemanha, da Inglaterra, da França e da América, e murmurava aos ouvidos de muitos as palavras — liberdade,emancipaçãodemocraciarepublicanismo e outras, que bem significavam não estar longe o momento, em que o povo, senhor da sua vontade, cônscio da sua força, reivindicasse os seus direitos, usurpados pela realeza, ultrajados pelos nobres e em parte absorvidos pelo clero.

Uma nova forma de governo existia já traçada na mente de muitos homens ilustres.

As matérias combustíveis, que se haviam de inflamar para acender a revolução, acervavam-se por toda a parte.

Alguma cousa de extraordinário e assombroso se preparava no laboratório imenso da Europa!
Algum monumento, de suntuosa fachada e maravilhosa arquitetura, mas já gasto pelo roçar dos tempos, ia desabar até aos alicerces.

Era — a bastilha monárquica do absolutismo; era — o capitólio jesuítico da Teocracia, minados nos fundamentos, abalados na solidez!...


Finalmente as instituições, os poderes, as opiniões... tudo anunciava que a transformação estava iminente, e inevitável e fatal devia operar-se por uma revolução geral e profunda!

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