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Marquês de Pombal
Gênio
perspicaz, filósofo profundo e hábil político, o Marquez de Pombal já previa,
como o antigo ministro de Luiz XV, que uma revolução, uma crise
tempestuosa se avizinhava, para tudo transformar e regenerar tudo, ou tudo
perder.
A
Europa agitava-se em seus fundamentos: havia uma espécie de detonação, que
impressionava os espíritos: estranhas convulsões abalavam o grande corpo
social, como sintomas percussores de um próximo terremoto moral e político.
A
anarquia popular avizinhava-se do seu momento fatal; o governo
monárquico-absoluto, desacreditado em quase todos os estados da Europa, quase
desconhecido no Novo Mundo e declarado por muitos espíritos retos o pior dos
governos, esperava todos os dias a sua sentença de morte; a ação filosófica,
apoderando-se das inteligências elevadas do século, ia-lhe preparando o
suplício no patíbulo da opinião pública.
Os
filósofos de Inglaterra e França trabalhavam fervorosos na propaganda liberal:
as Teorias de Bacon e Montesquieu tinham sido profundamente desenvolvidas
e levadas até às suas últimas consequências práticas.
A
interferência da Inglaterra, a sua ação política, disfarçada debaixo da
aparência de um grosso trato comercial, influenciava, de um modo enérgico e
profundo, a situação moral e econômica dos povos; como as cruzadas,
em nome de Deus e pela fé, produziram, em seu tempo, notável transformação
social.
Um
vento filosófico soprava da Alemanha, da Inglaterra, da França e da América, e
murmurava aos ouvidos de muitos as palavras — liberdade,emancipação, democracia, republicanismo e
outras, que bem significavam não estar longe o momento, em que o povo, senhor
da sua vontade, cônscio da sua força, reivindicasse os seus
direitos, usurpados pela realeza, ultrajados pelos nobres e em parte absorvidos
pelo clero.
Uma
nova forma de governo existia já traçada na mente de muitos homens ilustres.
As
matérias combustíveis, que se haviam de inflamar para acender a revolução,
acervavam-se por toda a parte.
Alguma
cousa de extraordinário e assombroso se preparava no laboratório imenso da
Europa!
Algum
monumento, de suntuosa fachada e maravilhosa arquitetura, mas já gasto
pelo roçar dos tempos, ia desabar até aos alicerces.
Era —
a bastilha monárquica do absolutismo; era — o capitólio jesuítico
da Teocracia, minados nos fundamentos, abalados na solidez!...
Finalmente
as instituições, os poderes, as opiniões... tudo anunciava que a transformação
estava iminente, e inevitável e fatal devia operar-se por uma revolução geral e
profunda!
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