10/01/2015

História do Brasil - Afrânio Peixoto


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Emboabas e Mascates


EMBOABAS

A intrusão dos Filipes, príncipes estrangeiros, no sistema dinástico português; a experiência holandesa, sobretudo no período de Nassau (1637-44); os protestos contra a autoridade dos Jesuítas, protetores dos índios, culminando na prisão e expulsão de Vieira (1661); a rebeldia aos privilégios e monopólios, começada com Bekemão, os próprios negros servis rebeldes em Palmares... fizeram, no século XVII, um tirocínio de vacilação do lealismo, de enfraquecimento da autoridade, de vantagens da autonomia, da necessidade de justiça e equidade, que se prolongaria em mal-estar, rebeliões e graves consequências políticas posteriores.

As bandeiras devassadoras do Sertão, se despovoavam a floresta, escravizando os índios descidos ao litoral, iam abrindo caminhos, fundando roças e povoados no percurso, pequenas explorações felizes, conflitos mortíferos de interesses, sacrifício de bens, comodidades, saúde, até da vida, em busca da compensação das minas. Em 1700, precisamente, Manuel de Borba Gato, genro de Fernão Dias Pais Leme, divulga a notícia do achado das minas de Sabará, terras altas e centrais ao norte da Capitania de São Paulo. De toda a parte afluem os ambiciosos e aproveitadores, adventícios que chegam e levam o melhor partido. Tais aventureiros estranhos e sem escrúpulo, povo atraído pelas minas, chamados desprezivelmente “Emboabas” pelos Paulistas e seus parciais, descobridores das minas, disputam-lhes a posse destas. É a guerra dos “Emboabas”. Entre estes estão colonos de toda a parte e reinóis. No primeiro conflito os Emboabas, comandados por Manuel Nunes Viana, vencem e escorraçam os Paulistas, da bandeira de Domingos da Silva Monteiro. No recontro do rio das Mortes, nome que celebra a chacina de Bento do Amaral Gurgel, chefe emboaba, este antecipa o ataque aos Paulistas, que tornaram, depois de reforços, e passa os sitiados e vencidos à espada, coberto o campo de mortos e feridos.

Daí também o nome de Capão da Traição. Com esse êxitos, proclamam os Emboabas governador das minas a Nunes Viana, que, confiado, arrosta ao próprio capitão-mor Dom Fernando de Lencastre, o qual se retira a buscar contingentes para o castigo. O governador do Rio, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, sobrevém e consegue a submissão de Nunes Viana, com promessas de paz. Os Paulistas volvem, doidos da injustiça, aos seus lares, mas, recebidos com desprezo pelas próprias esposas, resolvem tornar atrás, reorganizados, sob o mando de Amador Bueno da Veiga. Não consegue detê-los o Governador, em Taubaté, e manda prevenir os Emboabas do perigo próximo. Com efeito, a situação vai ficando desesperada, quando se anuncia que socorros numerosos chegam para os sitiados. Durante a noite os Paulistas levantam o acampamento e os Emboabas são salvos. Novos empreendimentos. Mas o governo acorreu com providências, pondo o governo na Capitania: foi desligada a Capitania de São Paulo e Minas da do Rio de Janeiro, e nomeado Capitão-mor o mesmo Antônio de Albuquerque.

Os Paulistas bandeirantes ficam sem as minas que descobriram, mas é o Brasil quem vence; afinal, com as minas achadas e exploradas e as cidades do interior que se fundam, em torno das catas. É a posse do sertão realizada. Esses Paulistas, não se esqueça, são Portugueses e neo-Portugueses, de S. Paulo.


MASCATES

Em 1710 é uma reação sedentária, mas parecida, que se pronuncia ao Norte: são os “Mascates” e a sua guerra. Os proprietários de bens e engenhos em Olinda não viam com bons olhos o progresso do Recife, onde negociantes, reinóis a maior parte, enriqueciam e prosperavam pelo trabalho. Ao ser o Recife elevado à categoria de vila e ao proceder-se à delimitação do termo, o procedimento leviano do governador Sebastião de Castro Caldas provocou censuras, correm boatos de deposição, alvejam-no mesmo com um tiro, onde prisões e perseguições. Subleva-se o povo e o governador foge para a Bahia; os rebeldes ocupam as fortalezas do Recife e fazem desordem. O Bispo, Dom Manuel Álvares da Costa, assume o governo, propondo o perdão das ofensas, que chega com o novo governador Filipe José Machado, o qual ordena aos do Recife entreguem as fortalezas e, aos de Olinda, suspendam o cerco, no que foi obedecido. Mas novo levante começa, com atentado contra o governador Machado, novas prisões, nova devassa, principalmente da facção “nobre”, de Olinda. Por fim foi restaurada a vila do Recife, reerguido o seu pelourinho: o que tem de ser traz força. Olinda continuou sua decadência... merecida.

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