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Emboabas e Mascates
EMBOABAS
A intrusão dos Filipes, príncipes
estrangeiros, no sistema dinástico português; a experiência holandesa,
sobretudo no período de Nassau (1637-44); os protestos contra a autoridade dos
Jesuítas, protetores dos índios, culminando na prisão e expulsão de Vieira
(1661); a rebeldia aos privilégios e monopólios, começada com Bekemão, os
próprios negros servis rebeldes em Palmares... fizeram, no século XVII, um
tirocínio de vacilação do lealismo, de enfraquecimento da autoridade, de
vantagens da autonomia, da necessidade de justiça e equidade, que se
prolongaria em mal-estar, rebeliões e graves consequências políticas
posteriores.
As bandeiras devassadoras do Sertão, se
despovoavam a floresta, escravizando os índios descidos ao litoral, iam abrindo
caminhos, fundando roças e povoados no percurso, pequenas explorações felizes,
conflitos mortíferos de interesses, sacrifício de bens, comodidades, saúde, até
da vida, em busca da compensação das minas. Em 1700, precisamente, Manuel de Borba
Gato, genro de Fernão Dias Pais Leme, divulga a notícia do achado das minas de
Sabará, terras altas e centrais ao norte da Capitania de São Paulo. De toda a
parte afluem os ambiciosos e aproveitadores, adventícios que chegam e levam o
melhor partido. Tais aventureiros estranhos e sem escrúpulo, povo atraído pelas
minas, chamados desprezivelmente “Emboabas” pelos Paulistas e seus parciais,
descobridores das minas, disputam-lhes a posse destas. É a guerra dos
“Emboabas”. Entre estes estão colonos de toda a parte e reinóis. No primeiro
conflito os Emboabas, comandados por Manuel Nunes Viana, vencem e escorraçam os
Paulistas, da bandeira de Domingos da Silva Monteiro. No recontro do rio das
Mortes, nome que celebra a
chacina de Bento do Amaral Gurgel, chefe emboaba, este antecipa o ataque aos
Paulistas, que tornaram, depois de reforços, e passa os sitiados e vencidos à
espada, coberto o campo de mortos e feridos.
Daí também o nome de Capão da Traição. Com esse êxitos, proclamam os
Emboabas governador das minas a Nunes Viana, que, confiado, arrosta ao próprio
capitão-mor Dom Fernando de Lencastre, o qual se retira a buscar contingentes
para o castigo. O governador do Rio, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho,
sobrevém e consegue a submissão de Nunes Viana, com promessas de paz. Os
Paulistas volvem, doidos da injustiça, aos seus lares, mas, recebidos com
desprezo pelas próprias esposas, resolvem tornar atrás, reorganizados, sob o
mando de Amador Bueno da Veiga. Não consegue detê-los o Governador, em Taubaté,
e manda prevenir os Emboabas do perigo próximo. Com efeito, a situação vai
ficando desesperada, quando se anuncia que socorros numerosos chegam para os
sitiados. Durante a noite os Paulistas levantam o acampamento e os Emboabas são
salvos. Novos empreendimentos. Mas o governo acorreu com providências, pondo o
governo na Capitania: foi desligada a Capitania de São Paulo e Minas da do Rio
de Janeiro, e nomeado Capitão-mor o mesmo Antônio de Albuquerque.
Os Paulistas bandeirantes ficam sem as minas
que descobriram, mas é o Brasil quem vence; afinal, com as minas achadas e
exploradas e as cidades do interior que se fundam, em torno das catas. É a
posse do sertão realizada. Esses Paulistas, não se esqueça, são Portugueses e
neo-Portugueses, de S. Paulo.
MASCATES
Em 1710 é uma reação sedentária, mas parecida,
que se pronuncia ao Norte: são os “Mascates” e a sua guerra. Os proprietários
de bens e engenhos em Olinda não viam com bons olhos o progresso do Recife,
onde negociantes, reinóis a maior parte, enriqueciam e prosperavam pelo
trabalho. Ao ser o Recife elevado à categoria de vila e ao proceder-se à
delimitação do termo, o procedimento leviano do governador Sebastião de Castro
Caldas provocou censuras, correm boatos de deposição, alvejam-no mesmo com um
tiro, onde prisões e perseguições. Subleva-se o povo e o governador foge para a
Bahia; os rebeldes ocupam as fortalezas do Recife e fazem desordem. O Bispo,
Dom Manuel Álvares da Costa, assume o governo, propondo o perdão das ofensas,
que chega com o novo governador Filipe José Machado, o qual ordena aos do
Recife entreguem as fortalezas e, aos de Olinda, suspendam o cerco, no que foi
obedecido. Mas novo levante começa, com atentado contra o governador Machado,
novas prisões, nova devassa, principalmente da facção “nobre”, de Olinda. Por
fim foi restaurada a vila do Recife, reerguido o seu pelourinho: o que tem de
ser traz força. Olinda continuou sua decadência... merecida.
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