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E “ele amava o teatro”: a
campanha de Arthur Azevedo através do jornal A Notícia
(...) Os leitores, que porventura acompanharam essa colaboração de
quatro anos, dirão se tenho ou não cumprido o programa que me tracei n’estas
hospitaleiras colunas. Orgulho-me de dizer que os meus folhetins foram a
origem, não só de todo esse movimento de simpatia que se formou em volta da
ideia do Teatro Municipal, mas do próprio Teatro Municipal, movimento
considerabilíssimo se o compararmos à inércia, a indiferença, à esmagadora
apatia dos outros tempos. O grande caso é que o Teatro Municipal está criado
por lei, (...) se ainda não funciona, se não é ainda uma realidade palpável, é
porque infelizmente os Drs. Furquim Werneck e Ubaldino do Amaral [ex-prefeitos
do Rio de Janeiro] não o tomaram a sério. Mas eu não desanimo (...)
Ninguém tome por foufice o que aí fica.(...) Não se trata de talento,
mas de convicção(...);Quando morrer, não deixarei o meu pobre nome ligado a nenhum
livro, ninguém citará um verso nem uma frase que me saísse do cérebro;
mas com certeza hão de dizer: ‘Ele amava o teatro’, e este epitáfio moral é
bastante, creiam, para a minha bem-aventurança eterna”. Arthur Azevedo
Em 22/9/1898, dez anos antes de
seu óbito, Arthur Azevedo publicou na sua coluna “O Theatro” no jornal A
Notícia a frase-epitáfio que abre esta seção: “Quando eu morrer, não deixarei
meu pobre nome ligado a nenhum livro, ninguém citará um verso, nem uma frase que
me saísse do cérebro; mas com certeza hão de dizer: Ele amava o teatro”. Tal
fragmento finaliza uma crônica que, ao felicitar A Notícia pelo seu quarto
aniversário, reforçava a posição do comediógrafo de, através de seu folhetim,
ter formado um movimento de simpatia em torno da construção do Theatro
Municipal.
O imaginário epitáfio de Arthur
Azevedo é bastante significativo: se como membro fundador da Academia
Brasileira de Letras (1897) mostrou-se modesto e se apresentou como um autor que
quando morresse seria esquecido por sua obra literária; por outro ângulo,
valorizou a sua importância na articulação política do campo cultural e na
mobilização da opinião pública através da imprensa. Afinal havia sido através
de seu trabalho como formador de opinião que conseguiu angariar a simpatia
popular para o projeto do Theatro Municipal.
No momento em que tal crônica foi
publicada, o projeto que previa a construção do Theatro Municipal já estava
aprovado por lei (de 1895). No entanto, a lei ainda não havia sido aplicada.
Motivo pelo qual Arthur Azevedo continuava pressionando, através do jornalismo
e do teatro, o poder público para que ela fosse cumprida. A principal tribuna
de Arthur Azevedo – mas não a única – foi A Notícia. Desde a fundação do jornal
em 1894 até vésperas de seu falecimento, em 1908, todas as quintas-feiras,
através do folhetim “O Theatro”, o literato defendeu a construção de um teatro
nacional e cobrou o Estado pelo lento andamento do projeto. A ideia era que o
poder público subsidiasse não apenas a construção do edifício, mas a manutenção
de uma companhia teatral, encarregando-se do custeio de profissionais do
teatro, atores, cenógrafos, músicos, encenadores, etc.. Em várias crônicas À
Notícia, Arthur Azevedo indicava a sua musa inspiradora: la Comédie-Française.
Na França, segundo o autor, até em meio às guerras napoleônicas, o teatro
francês nunca fora deixado de lado. E, se em solo brasileiro não havia
aparecido, até aquela época, um Corneille, um Racine ou um Molière, era preciso
fazer algo para que atores e escritores de talento não sucumbissem, antes mesmo
de tornarem-se conhecidos30. O literato inclusive lembra que, apesar da falta
de investimentos, o teatro nacional legou autores talentosos como José de Alencar
e Martins Penna e atores no nível de João Caetano e Xisto Bahia. Então, a matéria-prima
estaria à espera de um cinzel e este deveria vir dos recursos públicos, visto
que não se poderia pedir altruísmo da indústria de entretenimento privada. E se
o Estado já empregava os escassos recursos para a criação de um Instituto de
Música e de uma Escola de Belas Artes, então, qual seria a razão para
“abandonar [o teatro] à própria sorte”? E o Theatro Municipal já estava
“amparado” “pela força da lei”.
Mas vamos percorrer a odisseia do
Ulisses, Arthur Azevedo, em direção ao sonhado Theatro Municipal. A alocação da
verba era principal questão. Em 22 de maio de 1894 foi elaborado um projeto de
lei que previa tanto a construção, como a manutenção do Theatro Municipal por
parte do Estado, incluindo não apenas o edifício, mas os salários destinados ao
quadro profissional. Tal empresa seria custeada a partir da criação de um
imposto de 10% sobre a receita bruta das companhias estrangeiras que se
apresentassem no Rio de Janeiro, com exceção das óperas. Nas páginas d´A
Notícia de 23 de maio de 1895, o cronista saudava a aprovação da lei. Todavia
contratempos surgiram e o projeto do Theatro Municipal ficou à deriva. No
folhetim de 28 de janeiro de 1897, Arthur Azevedo questionava sobre o que teria
sido feito dos 95.000$000 arrecadados, até então, em impostos cobrados pela
Prefeitura teoricamente em prol do teatro.
Entrou e saiu Prefeito e, por
fim, em 1904 , sob a batuta de Pereira Passos é anunciada a construção do
Theatro Municipal. O plano de execução do teatro foi escolhido através de um concurso
e o desenho final fundiu os projetos arquitetônicos dos candidatos que tiraram
os dois primeiros lugares, o engenheiro brasileiro Francisco de Oliveira
Passos, filho do alcaide35 e o renomado arquiteto francês Albert Guilbert,
autor do plano da Ópera-Cômica de Paris e Vice-Presidente da Sociedade dos
Arquitetos Franceses. Ambos os desenhos eram inspirados no teatro Ópera de
Paris, construído por Charles Garnier. Logo após o resultado do concurso, em
sua crônica de 22/9/1904, n´A Notícia, Arthur Azevedo não deixou de aplaudir a
iniciativa de Pereira Passos, mas confessou o seu temor: as amplas dimensões do
do Theatro Municipal serem pouco adequadas para o desenvolvimento de talentos e
da arte dramática, se prestando “à ópera, aos dramalhões de grande espetáculo e
às peças maravilhosas”. Ou seja, se adequaria principalmente para
representações de atrações internacionais, já alvos lucrativos dos empresários
teatrais.
Outra preocupação de Arthur
Azevedo era a falta de planejamento quanto às companhias que pudessem se
apresentar no Theatro Municipal. Em 1906, a acalentada esperança de contar com uma
companhia teatral subsidiada pelo governo se esvaiu. Pereira Passos anunciou
que o corpo profissional do teatro não receberia verbas oficiais. O
gerenciamento do Theatro Municipal seria cedido a qualquer empresa, nacional ou
estrangeira, desde que ela pagasse o aluguel estabelecido. Com grandiosas
dimensões e entregue à preeminência do lucro, não teria saída para o
desenvolvimento de uma arte dramática mais comprometida com os padrões
estéticos e literários e nem abrigaria em suas salas camadas médias e baixas da
população. Seria um projeto para a elite, o que já antevia o comediógrafo em
suas crônicas.
Mesmo ao perceber que o tão
batalhado Theatro Municipal estava cada vez mais distante de seu sonho, Arthur
Azevedo continuava na luta. Mesmo que o teatro não recebesse verba oficial para
manutenção dos seus quadros, o comediógrafo defendia que o projeto seria lucrativo
aos empresários que se dedicassem ao trabalho de uma comédia nacional e clamava
para que ele não acabasse destinado à ópera. Embora dissesse desejar ser apenas
um “espectador do futuro Theatro Municipal”, Arthur Azevedo não se comportava
como tal. Estava ciente de seu papel para a realização do projeto, mesmo que o
resultado final saísse distante de seu sonho. Conferia o andamento da obra,
fiscalizava as ações das autoridades e também construía para si a imagem de um
empreendedor teatral, de um formador de opinião, de alguém capaz de mobilizar
outros literatos e políticos. Apesar de declarar ser mais persistente e
insistente do que talentoso, Arthur Azevedo proclamava o seu valor, conforme crônica
publicada n´O Paiz em 31/5/1908:
Visitei o Teatro Municipal, e venho dizer aos leitores, francamente, desassombradamente,
que o Rio de Janeiro possui um dos primeiros teatros do mundo. Nada lhe falta, absolutamente nada, em luxo, conforto, elegância
e comodidade. (....) Só em 1909 o teatro estará completamente pronto e [não
terá] um grupo de artistas digno de inaugurá-lo. Não me conformo de ver essa
honra entregue ao estrangeiro, por mais célebres, por mais ilustres que sejam
(...) Parabéns ao Rio de Janeiro, parabéns ao Dr. Oliveira Passos e (perdoem-me
a vaidade), parabéns a mim mesmo, que tenho a satisfação de haver contribuído muito
para a construção do Teatro Municipal.
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Fonte:
Fonte:
Tatiana Oliveira Siciliano: “Theatro
Municipal de Arthur Azevedo: narrativas em busca da consolidação do teatro nacional na
mídia impressa The “Theatro Municipal” of Arthur Azevedo: speeches in search of
the consolidation of the national theater in printed media”. Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação - XXIII Encontro Anual
da Compós, Universidade Federal do Pará, 27 a 30 de maio de 2014. Disponível em: compos.org.br
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