18/09/2014

Pêro da Covilhã: Episódio Romântico do século XV, de Zeferino Brandão

 Pêro da Covilhã: Episódio Romântico do século XV Zeferino Brandão gratis em pdf
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Estava D. Afonso V com desalento igual à falta de confiança, que tinha nos meios, de que dispunha, para acelerar o suspirado êxito da sua temerária empresa, quando chegaram a Toro D. Álvaro de Ataíde e o Licenciado João Delvas, que vinham comunicar-lhe o resultado da sua missão junto de Luiz XI. Era grande o contentamento dos embaixadores, por terem a convicção, de que não fora iludida por vãs promessas a sua boa fé ao tratarem com o rei da França. Não lhes ocorria, que os príncipes não contraem, nem conservam amizades com sacrifício de seus interesses; e talvez ignorassem, que Luiz XI tinha por máxima: quem não sabe dissimular, não sabe reinar; e que, por ele ser assaz astucioso e pérfido, lhe chamavam a raposa.

Lograram efetivamente celebrar, aos 8 de setembro de 1475, o tratado de liga ofensiva, no qual a França se comprometeu a coadjuvar Portugal na conquista dos reinos de Castela e Leão; e obtiveram a confirmação e renovação dos antigos tratados de paz e amizade entre estes dois últimos reinos e o da França, por Luiz XI de uma parte, e da outra por D. Afonso V, rei de Castela.

O nosso monarca, porém, receoso, de que o seu aliado não cumprisse as estipulações dos tratados, por haverem aumentado para os reis da Sicília as probabilidades do triunfo, resolveu passar a França, e negociar pessoalmente com Luiz XI, a quem se ofereceria por medianeiro da paz com o duque de Borgonha.

Regressou, pois, a Portugal, com sua sobrinha. O príncipe, seu filho, pôs o maior cuidado em dissuadi-lo do propósito que trazia; mas a ambição cegava-lhe o entendimento, e a esperança de realizar os seus desejos, de vingar-se da afronta de Toro, não dava lugar ao receio de arriscar mais uma vez a sua reputação.

Querendo passar mais além, do que lhe permitia a fortuna, saiu para França o alucinado rei, depois de ter embarcado no porto de Lisboa, em uma urca, na conserva da qual iam quinze navios com dois mil e duzentos homens.

A esquadra fez-se à vela com destino a Marselha; mas por causa do tempo foi arribar a Collioure, onde D. Afonso, depois de receber os cumprimentos, que Luiz XI lhe enviara por um oficial de sua casa, com ordem de dispor tudo para a jornada do régio hóspede, despediu os navios. Ao seu serviço ficou unicamente o pessoal indispensável, de que fazia parte Pero da Covilhã, seu escudeiro predileto depois do conflito de Toro.

Do porto de Collioure pôs-se o rei de Portugal a caminho de Perpignan, e teve aqui a mais pomposa recepção oficial, levando-se a homenagem ao requinte de abrirem todos os cárceres e soltarem os presos lá retidos.

De Perpignan expediu a Luiz XI um fidalgo da sua corte, encarregado de notificar-lhe a sua chegada, e de pedir-lhe a designação do sítio, onde deviam conferenciar. Como a escolha deste recaísse em Tours, D. Afonso V, seguiu por Narbonne, Montpellier e Nimes. Aqui deixou a estrada ordinária, a fim de tomar para Lion por Pont-Saint-Esprit, onde lhe veio ao encontro o duque de Bourbon, acompanhado de numeroso cortejo, e antecipando-se a uma deputação, que por parte de Luiz XI dera, passados dias, as boas vindas em Roane ao augusto viajante. Dirigiu-se depois a Bruges. Nesta cidade demorou-se algum tempo, fazendo-lhe companhia novos enviados do rei de França, que o entretiveram a mostrar-lhe fortalezas, aprazíveis estâncias, e, entre outras cousas, um rico e antigo livro na biblioteca de uma abadia de beneditinos. Era o Lancelote do Lago, romance de cavalaria escrito em latim, na leitura do qual os paladinos dos séculos XII e XIII aprendiam com entusiasmo a imitar algum dos fabulosos cavaleiros da Távola Redonda. Poderia inflamar também o espírito aventureiro de D. Afonso V, a quem o velhaco de Luiz XI por si, ou por intermédio de seus agentes, procurava divertir do propósito, que o levava a França, e por isso lhe prodigalizava todo o gênero de distrações.

Chegou o monarca português a Tours. À entrada foram-lhe entregues as chaves da cidade pelos regedores dela, os quais incorporados aos dignitários da corte francesa, lhe fizeram uma recepção solene, e o seguiram até os aposentos, que lhe estavam destinados.

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[Trecho do livro]...

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