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Camilo e suas histórias:
o papel social do dinheiro e do desejo
E aí está bem cabida a justificação
do desasado começo deste
romance, nata dos romances verídicos, milagre da literatura mercantil, como
infelizmente é esta em que a desenvoltura da imaginação faz com que o leitor esperto
não creia as sinceras crônicas de que sou editor, eu, o menos escandaloso dos inventores.
Camilo
Castelo Branco
Onde
está a Felicidade?
Como vimos, Camilo Castelo Branco, ao concatenar seus
romances, finda por desvelar a composição da sociedade
portuguesa oitocentista que consta em Onde está a Felicidade? e Um Homem de Brios, ambiente propício ao desejo de base mimética e ao interesse argentário
e infecundo a afeições “natura[is] e espontâne[as], gerad[as] na simplicidade
do coração” (OF, p.
252) Desvelamento este que demonstra a incompatibilidade da imagem
essencialmente passional que por muito tempo foi associada ao escritor de São Miguel
de Seide e a sua produção literária.
De fato, procuramos desmistificar
tal conceito atribuído aos escritos camilianos por meio de três abordagens analíticas,
perspectivas estas que fornecem uma apreciação pormenorizada da constituição dos
romances em tela. A primeira delas é a propósito dos recursos literários: a ironia
de viés satírico, empregada pelo narrador camiliano para apontar o dinheiro
como um dos principais motores que regem a sociedade; e o jogo com as expectativas
de leitura do público oitocentista, por meio da adoção de um desenlace, aparentemente,
idealizado, em uma estratégia mercadológica que assinala a inaplicabilidade do
sentimento amoroso neste argentário contexto social.
Em seguida, aplicamos uma abordagem
de viés psicológico, sobre a preponderância do desejo mimético nas relações estabelecidas
entre as personagens camilianas, uma vez que o amor, enquanto algo espontâneo e
abjurado, como já dito, não encontra ambiente favorável na sociedade em
questão. Por fim, elaboramos um estudo acerca do capitalista Portugal
camiliano, um espaço imerso em relações de trabalho e dinheiro que enquadra e torna
verossímeis as contingências narrativas alicerçadas no interesse pecuniário
e na dinâmica do desejo intermediado.
Assim posto, podemos considerar que
a ficção camiliana, observada por meio das obras Onde está a Felicidade? e Um Homem de Brios, constitui-se enquanto um legado romanesco que em muito se difere de uma literatura
composta meramente para aprazer o gosto do público oitocentista, que ansiava
por idealizadas histórias de amor. Isto porque, o autor, uma vez não podendo
esquivar-se da presença de enredos de cunho amoroso em suas narrativas,
uma exigência mercadológica incontornável
do período (cf. CASTRO, 1991), prima por fazer das contingências passionais, existentes
nas tramas, motes para trazer à tona temas de cunho crítico, tais como o interesse
financeiro, o desejo mimético e a imagem do capitalista Portugal do século XIX.
Sendo estes temas, a todo o momento, analisados pelo atento narrador camiliano,
entidade sempre empenhada em ressaltar a importância de elementos nada
idealizados para a sociedade portuguesa oitocentista.
Em suma, encerramos este estudo com
uma consideração feita por Camilo Castelo Branco no prefácio de
Um Homem de Brios, um comentário
que expressa uma finalidade basilar da literatura camiliana, objetivo que cremos ter sido atingido por Camilo nas obras aqui analisadas,
justamente por meio do desvelamento dos elementos nada ideais, o desejo e o
dinheiro, que imperam na capitalista sociedade portuguesa do século XIX: “Eu desejo
escrever de modo que o meu leitor – se Deus me deparar um com experiência do
mundo [...] – possa dizer: ‘a vida é isto...’” (HB, p. 423).
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Fonte:
Fonte:
Ana Luísa Patrício Campos de
Oliveira: “A ficção camiliana para além de
histórias de amor”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura Portuguesa do Departamento de Letras
Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Letras.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Fernando da Motta de
Oliveira). São Paulo, 2008.
Notas:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida obra. As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra. O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho. Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da obra em sua totalidade. Disponível em: www.teses.usp.br
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