08/08/2014

Um Homem de Brios, de Camilo Castelo Branco

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Camilo e suas histórias: o papel social do dinheiro e do desejo

E aí está bem cabida a justificação do desasado começo deste romance, nata dos romances verídicos, milagre da literatura mercantil, como infelizmente é esta em que a desenvoltura da imaginação faz com que o leitor esperto não creia as sinceras crônicas de que sou editor, eu, o menos escandaloso dos inventores.
Camilo Castelo Branco
Onde está a Felicidade?

Como vimos, Camilo Castelo Branco, ao concatenar seus romances, finda por desvelar a composição da sociedade portuguesa oitocentista que consta em Onde está a Felicidade? e Um Homem de Brios, ambiente propício ao desejo de base mimética e ao interesse argentário e infecundo a afeições “natura[is] e espontâne[as], gerad[as] na simplicidade do coração” (OF, p. 252) Desvelamento este que demonstra a incompatibilidade da imagem essencialmente passional que por muito tempo foi associada ao escritor de São Miguel de Seide e a sua produção literária.

De fato, procuramos desmistificar tal conceito atribuído aos escritos camilianos por meio de três abordagens analíticas, perspectivas estas que fornecem uma apreciação pormenorizada da constituição dos romances em tela. A primeira delas é a propósito dos recursos literários: a ironia de viés satírico, empregada pelo narrador camiliano para apontar o dinheiro como um dos principais motores que regem a sociedade; e o jogo com as expectativas de leitura do público oitocentista, por meio da adoção de um desenlace, aparentemente, idealizado, em uma estratégia mercadológica que assinala a inaplicabilidade do sentimento amoroso neste argentário contexto social.

Em seguida, aplicamos uma abordagem de viés psicológico, sobre a preponderância do desejo mimético nas relações estabelecidas entre as personagens camilianas, uma vez que o amor, enquanto algo espontâneo e abjurado, como já dito, não encontra ambiente favorável na sociedade em questão. Por fim, elaboramos um estudo acerca do capitalista Portugal camiliano, um espaço imerso em relações de trabalho e dinheiro que enquadra e torna verossímeis as contingências narrativas alicerçadas no interesse pecuniário e na dinâmica do desejo intermediado.   

Assim posto, podemos considerar que a ficção camiliana, observada por meio das obras Onde está a Felicidade? e Um Homem de Brios, constitui-se enquanto um legado romanesco que em muito se difere de uma literatura composta meramente para aprazer o gosto do público oitocentista, que ansiava por idealizadas histórias de amor. Isto porque, o autor, uma vez não podendo esquivar-se da presença de enredos de cunho amoroso em suas narrativas,

uma exigência mercadológica incontornável do período (cf. CASTRO, 1991), prima por fazer das contingências passionais, existentes nas tramas, motes para trazer à tona temas de cunho crítico, tais como o interesse financeiro, o desejo mimético e a imagem do capitalista Portugal do século XIX. Sendo estes temas, a todo o momento, analisados pelo atento narrador camiliano, entidade sempre empenhada em ressaltar a importância de elementos nada idealizados para a sociedade portuguesa oitocentista.

Em suma, encerramos este estudo com uma consideração feita por Camilo Castelo Branco no prefácio de Um Homem de Brios, um comentário que expressa uma finalidade basilar da literatura camiliana, objetivo que cremos ter sido atingido por Camilo nas obras aqui analisadas, justamente por meio do desvelamento dos elementos nada ideais, o desejo e o dinheiro, que imperam na capitalista sociedade portuguesa do século XIX: “Eu desejo escrever de modo que o meu leitor – se Deus me deparar um com experiência do mundo [...] – possa dizer: ‘a vida é isto...’” (HB, p. 423).


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Fonte:
Ana Luísa Patrício Campos de Oliveira: “A ficção camiliana para além de histórias de amor”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura Portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientador: Prof. Dr. Paulo Fernando da Motta de Oliveira). São Paulo, 2008.
Notas
A imagem inserida no texto não se inclui na referida obra. As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra. O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho. Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da obra em sua totalidade. Disponível em: www.teses.usp.br

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