10/08/2014

Mérope (Teatro), de Almeida Garrett

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Garrett e a tragédia de tema clássico: O Exemplo de Mérope

Almeida Garrett completou a sua tragédia Mérope em 1820, o ano da revolução liberal. No prefácio que para ela escreveu em 1841, diz que nunca se chegou a representar: «estavam ensaiados os primeiros três actos quando veio a revolução de vinte; poeta e actores e espectadores e o nosso teatrinho, tudo absorveu a excomungada política.» As palavras que o Autor dirige à sua primeira obra dramática de fôlego, mais de vinte anos depois de a ter escrito, envolvem- na com o ambiente político que parece ter estado presente em toda a sua vida. É pois essa vivência política, sustentada por posições ideológicas próprias do seu tempo, que a nosso entender justificam o facto de Garrett ter deixado Mérope sobreviver, dignamente editada e, em parte, comentada. A tragédia de tema grego parece-nos ser um meio de atestar a precocidade da consciência política do fundador do Teatro Nacional. A confirmação dessa hipótese será feita através do estudo da peça, que estruturámos em três partes: a lenda original grega e as fontes que a relatam; as influências e motivações de Garrett para a escolha e tratamento deste tema; e a análise da obra enquanto texto trágico.

Mérope é uma figura da galeria mitológica grega pertencente ao ciclo dos Heraclidas. As fontes clássicas que a ela se referem e que chegaram até nós são fundamentalmente a Biblioteca de Apolodoro, as Fábulas de Higino e a Descrição da Grécia de Pausânias. Sabemos que, entre 428 e 425 a. C., Eurípides escreveu uma tragédia de nome Cresfontes, cujo tema era um episódio da vida daquela heroína. Contudo, o texto perdeu-se e hoje apenas restam fragmentos e referências, como as feitas por Aristóteles na Ética e na Poética. A partir destes, porém, e juntamente com o que dizem Apolodoro, Higino e Pausânias, é-nos possível reconstituir o mito e em parte o argumento da tragédia perdida.

Mérope era filha do rei da Arcádia, Cípselo, e foi dada por este em casamento a Cresfontes, um dos Heraclidas, rei da Messénia. Cresfontes tinha obtido o seu reino por ocasião da partilha do Peloponeso entre os descendentes de Héracles. O episódio mais célebre que envolve a rainha da Messénia, e que motivou a tragédia de Eurípides, baseia-se na revolta que levou ao assassinato de Cresfontes. O rei foi vítima de uma rebelião, liderada por um outro Heraclida, chamado Polifontes. Este eliminou também os dois filhos mais velhos de Cresfontes e casou com a viúva do rei contra a vontade dela. Todavia, durante o assalto ao palácio, Mérope conseguiu salvar o filho mais novo, que recebe vários nomes, provenientes de diversas tradições: Eurípides adopta o nome de Cresfontes, tal como o pai, com que intitula a sua tragédia; Higino nomeia-o Telefontes e Pausânias chama-lhe Épito. A rainha confiou a criança a um servo, que o levou para a Etólia, e através dele manteve-se a par da vida do filho sobrevivo. Porém, Polifontes sabia que um dos enteados não morrera, o que lhe provocou alguma ansiedade, visto estar sempre na expectativa da vingança do jovem. Assim, Polifontes lançou publicamente a proposta de uma recompensa a quem encontrasse e matasse Épito.

Homem feito, o jovem decidiu vingar o pai e resgatar a mãe. Assumiu outra identidade e dirigiu-se a Polifontes afirmando que matara Épito e que tinha direito à recompensa prometida. O rei pediu-lhe algum tempo para confirmar a história. Entretanto, o servo que cuidara do príncipe veio ter com Mérope, para lhe comunicar o desaparecimento do filho. Tal revelação contribuiu para que a rainha acreditasse definitivamente na história do estrangeiro e pensou que o seu filho perecera às mãos do mercenário. Assim, Mérope dispôs-se a vingar a sua morte e, durante a noite, invadiu o quarto de Épito com a intenção de o executar. Quando já erguia a arma, apareceu o velho servo, que reconheceu o rapaz e atempadamente susteve a mão da rainha. Feita a revelação, Mérope e Épito combinaram a forma de se vingarem: a mãe vestir-se-ia de luto, como se o seu filho tivesse, de facto, morrido, e assumiria uma nova atitude, de resignação, para com o marido, que até então desprezara. Face a isso, o rei pensou dever oferecer um sacrifício aos deuses, agradecendo-lhes a benesse de que havia sido alvo. Convidou o hóspede a imolar a vítima sacrificial e este aproveitou para vingar o pai e os irmãos, bem como o sofrimento da mãe: em vez de matar o animal, matou Polifontes, tendo sido imediatamente aclamado rei da Messénia.
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Fonte:

Nuno Simões Rodrigues (Universidade de Lisboa Para a Senhora Professora Doutora Maria Helena da Rocha Pereira): Garrett e a tragédia de tema clássico: O Exemplo de Mérope. Disponível em: www.uc.pt

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