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O relato de discurso
nos últimos romances de Camilo
1. Nos últimos
romances de Camilo Castelo Branco, o relato de discurso ganha um recorte e uma
mestria semelhantes àquilo a que Eça de Queirós nos habituou nas suas
narrativas. Se começa por ser essa uma das zonas de paródia, nos romances
facetos, à forma como o autor de O Primo Basílio resolve o problema da
construção do discurso das personagens, os mecanismos de relato utilizados por
Camilo acabam por se ir tornando, progressivamente, um modo assumido, sem
intenção paródica notória, mas antes de procura de efeito de verosimilhança, de
o autor atribuir quer palavras quer presumíveis pensamentos às personagens.
Estudámos, sob este prisma, Eusébio Macário (1879), A Corja (1879), A
Brasileira de Prazins (1882) e Vulcões de Lama (1886). Relativamente à
penúltima obra citada, o confronto entre a primeira versão do início do
romance, publicada na revista A Arte, em 1879, e a versão definitiva em livro,
permitirá argumentar em favor da convicção anteriormente apresentada.
2. O percurso que nos
levou ao estudo do relato de discurso iniciou-se, em parte, quando, nos anos
oitenta, procurávamos algumas partículas modais (Duarte 1989) em palavras
relatadas em discurso directo em O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós e
Balada da Praia dos Cães, de José Cardoso Pires. Tais partículas foram também
encontradas quer em segmentos de discurso indirecto livre, quer em sequências
de discurso relatado de forma menos canónica e mais híbrida do que os
previsíveis discursos directo e indirecto. Esta indagação conduziu-nos a uma
outra, mais alargada, em torno do discurso indirecto livre e, com fronteiras
ainda mais latas, sobre o relato de discurso na ficção narrativa. Levámos
igualmente a cabo duas tentativas tímidas de estudar o relato de discurso em
textos mais antigos, nomeadamente na I Parte da Crónica de D. João I, de Fernão
Lopes (Duarte 2003a: 185-198) e na Crónica da Tomada de Ceuta de Gomes Eanes de
Zurara (Duarte 2002: 207-215). Mas foi, principalmente, no realismo
oitocentista e especificamente em Eça de Queirós que a nossa investigação se
centrou (Duarte 2003b).
3. Para a nossa
convicção do papel central que a Eça de Queirós coube na configuração do
discurso indirecto livre na Literatura Portuguesa e no apuro das
formas de relatar
discurso em geral, concorreu o modo genial como Camilo, sobretudo em Eusébio
Macário e A Corja, parodiou, no que diz respeito ao discurso relatado (mas não
só), o autor de Os Maias. A problematização da paródia (um tipo particular de
“citação” irónica) reveste-se, em Camilo, de complexidade e de ambiguidade
porque o escritor utiliza, de forma exímia, as técnicas que, em diferentes
momentos, agradavam ao público-leitor, mas sem aderir, pelo menos
explicitamente, às concepções teóricas das escolas ou movimentos literários em
que essas técnicas mais ou menos ridicularizadas se filiavam (Alves 1999: 40).
Assim aconteceu com o romance-folhetim no início da sua carreira e assim volta
a suceder no final dela, com o romance naturalista.
4. Em idêntico sentido
ao da nossa convicção, vai a opinião de Lopes / Saraiva (1976: 881) para os
quais o discurso indirecto livre de Camilo constituiria uma evidente “imitação
de Eça”. Defendemos que, em Eusébio Macário e A Corja, não é, exactamente, de
imitação que se trata, porque o discurso relatado das personagens, nomeadamente
o discurso indirecto livre tinha, a nosso ver, uma intenção caricatural
vincadamente paródica. Mas Camilo, lentamente, nos romances posteriores, foi-o
incorporando de forma cada vez mais convincente e subtil, fazendo quase
desaparecer o seu carácter hiperbólico e parodístico.
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Fonte:
Fonte:
Isabel Margarida Duarte (Faculdade de Letras da Universidade do Porto -
Centro de Linguística da Universidade do Porto): “O relato de discurso nos
últimos romances de Camilo”. Repositorio da Universidade da Coruña. Disponível
em: http://ruc.udc.es
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