14/08/2014

Lourenço de Mendonça, de Moreira de Azevedo

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A cidade do rio de janeiro em 1635

Pouco extensa era a área da cidade nessa época; estendia-se na vargem limitada ao norte pelos morros de S. Bento e da Con­ceição, ao sul pelo de S. Sebastião, hoje do Castelo, e o de Santo Antônio, e a este pelo mar, e ao oeste por um fosso sinuo­so que recebia as águas pluviais da planície chamada campo da cidade para despeja-­las no mar. Prolongava-se esse campo desde o fosso até aos mangues de S. Diogo.

Erguia-se no morro de S. Bento o mos­teiro dos beneditinos edificado em 1589; no da Conceição a ermida consagrada à Santíssima Virgem por Maria Dantas, mu­lher de Miguel Carvalho de Souza; no de Santo Antônio o convento dos francis­canos construído em 4 de Junho de 1608, e a ermida de Santa Bárbara entre espes­so arvoredo; no de S. Sebastião levantavam-se três edifícios importantes, o colégio dos jesuítas fundado em 1560, a igreja de S. Sebastião erigida pelo governador Salvador Corrêa de Sá e a fortaleza abençoada com o nome daquele santo, ha­vendo sido seu fundador o ilustre Mar­tim de Sá.

Permitindo-se aos habitantes da nova cidade a faculdade de edificarem onde bem lhes parecesse, sem o menor ônus e conforme arbítrio de cada um, foram-se espalhando na planície aberta entre aquel­es montes, cortando-a ruas estreitas e tor­tuosas, vielas pouco extensas e escuras.

Não havia ordem nem alinhamento nas edificações; cada um abria onde lhe pa­recia mais cômodo os alicerces de sua habitação, de sorte que não parecia uma cidade que se fundava, senão pequena povoação ou aldeia de gentios.

As ruas principais eram a rua Direita do Carmo, da Misericórdia, do Porto dos Padres da Companhia hoje de D. Manuel, de S. José, do Cotovelo, a de S. Francisco, hoje da Assembléia, a de Aleixo Manuel, hoje do Ouvidor, a de Matias de Freitas, hoje do Rosário, a do Padre.Manuel Ri­beiro, hoje do Hospício, a de Diogo de Brito, depois da Alfândega, a do Sabão, a de Antônio Vaz Viçoso, conhecida depois, com a denominação de S. Pedro, e a dos Pescadores.

Cruzavam-nas as ruas Detrás do Carmo, de Mateus de Freitas também chamada da Quitanda do Marisco, a dos Ourives, e mais uma ou duas vielas, e depois o fosso que corria na direção da atual rua da Uruguaiana.                       

Santificavam a nova cidade a igreja da Misericórdia cuja irmandade já existia em 1591, e tinha um hospital aberto para os doentes pobres; a ermida de S. José erguida tão próximo à praia que as ondas batiam nas paredes da capela-mor; o con­vento do Carmo na praça do Carmo próxi­mo à praia de Nossa Senhora do Ó; a igreja da Cruz levantada no lugar em que existira o forte desse nome; a igreja da Candelária cujos fundadores foram An­tônio Martins da Palma, e sua mulher Leonor Gonçalves em cumprimento do vo­to feito à Virgem Nossa Senhora, em alto mar, em noite de tempestade; a er­mida da Ajuda construída na esquina da rua denominada mais tarde dos Barbonos, ignorando-se o ano da fundação e o no­me de quem a erigiu, e a de Santa Luzia, na praia do mesmo nome, a qual já exis­tia em 1592, sendo um dos primeiros santuários que abençoaram a nascente cidade de S. Sebastião.

Abriam-se na rua da Misericórdia para o mar diversos becos, dos quais o mais extenso era o do Guindaste, assim de­nominado por estar assentado em frente dele o guindaste que alçava as mer­cadorias dos jesuítas para o seu colégio, no morro de S. Sebastião.

Não tinha a cidade calçamento nem iluminação; de noite guiavam aos viandantes as luzes colocadas pelos fiéis defronte dos nichos erguidos nas esquinas das ruas, mas, nas vielas em que a fé não erigira oratórios, era completa a escuridade e dif­ícil o caminhar logo que desaparecia a luz coada pelas fasquias das rótulas das portas e janelas.

Quase todas as casas eram térreas e ti­nham as janelas e portas guarnecidas de rótulas de madeira ou tecidos de palha cha­mados peneiras ou grupemas, que eram de­pendurados ao amanhecer e recolhidos à noite.

Dividia-se a cidade em duas freguesias, a de S. Sebastião criada em 1569, tendo por primeiro pároco o padre Mateus Nu­nes que recebera autorização para repre­ender e castigar os que vivessem mal, sentenciando-os até dez cruzados sem apelação nem agravo, para conhecer dos casos da santa inquisição, sentenciando se­gundo Deus o iluminasse, e para conde­nar a trinta cruzados e com a pena de ex­comunhão a quem o desobedecesse!

A segunda paróquia era a da Candelária instituída em 1634, constando ter sido seu primeiro pastor o padre espanhol Pablo Santi.

Era diminuta a população que, já dissemos, reunia-se, quase toda, quotidianamente na hora da primeira missa, o que tornava fáceis e frequentes as relações conhecendo-se todos e sabendo pronta e estendidamente o que acontecia a cada um.


Agora que o leitor tem conhecimento do teatro em que vão representar-se os acon­tecimentos seguintes poderá melhor compre­endê-los e acompanhar as personagens desta verídica história.

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