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A cidade do rio de
janeiro em 1635
Pouco extensa era a área da cidade
nessa época; estendia-se na vargem limitada ao norte pelos morros de S. Bento e
da Conceição, ao sul pelo de S. Sebastião, hoje do Castelo, e o de Santo
Antônio, e a este pelo mar, e ao oeste por um fosso sinuoso que recebia as
águas pluviais da planície chamada campo da cidade para despeja-las no mar.
Prolongava-se esse campo desde o fosso até aos mangues de S. Diogo.
Erguia-se no morro de S. Bento o
mosteiro dos beneditinos edificado em 1589; no da Conceição a ermida
consagrada à Santíssima Virgem por Maria Dantas, mulher de Miguel Carvalho de
Souza; no de Santo Antônio o convento dos franciscanos construído em 4 de
Junho de 1608, e a ermida de Santa Bárbara entre espesso arvoredo; no de S.
Sebastião levantavam-se três edifícios importantes, o colégio dos jesuítas
fundado em 1560, a
igreja de S. Sebastião erigida pelo governador Salvador Corrêa de Sá e a
fortaleza abençoada com o nome daquele santo, havendo sido seu fundador o
ilustre Martim de Sá.
Permitindo-se aos habitantes da
nova cidade a faculdade de edificarem onde bem lhes parecesse, sem o menor ônus
e conforme arbítrio de cada um, foram-se espalhando na planície aberta entre
aqueles montes, cortando-a ruas estreitas e tortuosas, vielas pouco extensas
e escuras.
Não havia ordem nem alinhamento
nas edificações; cada um abria onde lhe parecia mais cômodo os alicerces de
sua habitação, de sorte que não parecia uma cidade que se fundava, senão
pequena povoação ou aldeia de gentios.
As ruas principais eram a rua
Direita do Carmo, da Misericórdia, do Porto dos Padres da Companhia hoje de D.
Manuel, de S. José, do Cotovelo, a de S. Francisco, hoje da Assembléia, a de
Aleixo Manuel, hoje do Ouvidor, a de Matias de Freitas, hoje do Rosário, a do
Padre.Manuel Ribeiro, hoje do Hospício, a de Diogo de Brito, depois da
Alfândega, a do Sabão, a de Antônio Vaz Viçoso, conhecida depois, com a
denominação de S. Pedro, e a dos Pescadores.
Cruzavam-nas as ruas Detrás do
Carmo, de Mateus de Freitas também chamada da Quitanda do Marisco, a dos
Ourives, e mais uma ou duas vielas, e depois o fosso que corria na direção da
atual rua da Uruguaiana.
Santificavam a nova cidade a
igreja da Misericórdia cuja irmandade já existia em 1591, e tinha um hospital
aberto para os doentes pobres; a ermida de S. José erguida tão próximo à praia
que as ondas batiam nas paredes da capela-mor; o convento do Carmo na praça do
Carmo próximo à praia de Nossa Senhora do Ó; a igreja da Cruz levantada no
lugar em que existira o forte desse nome; a igreja da Candelária cujos
fundadores foram Antônio Martins da Palma, e sua mulher Leonor Gonçalves em
cumprimento do voto feito à Virgem Nossa Senhora, em alto mar, em noite de
tempestade; a ermida da Ajuda construída na esquina da rua denominada mais
tarde dos Barbonos, ignorando-se o ano da fundação e o nome de quem a erigiu,
e a de Santa Luzia, na praia do mesmo nome, a qual já existia em 1592, sendo
um dos primeiros santuários que abençoaram a nascente cidade de S. Sebastião.
Abriam-se na rua da Misericórdia
para o mar diversos becos, dos quais o mais extenso era o do Guindaste, assim
denominado por estar assentado em frente dele o guindaste que alçava as mercadorias
dos jesuítas para o seu colégio, no morro de S. Sebastião.
Não tinha a cidade calçamento nem
iluminação; de noite guiavam aos viandantes as luzes colocadas pelos fiéis
defronte dos nichos erguidos nas esquinas das ruas, mas, nas vielas em que a fé
não erigira oratórios, era completa a escuridade e difícil o caminhar logo que
desaparecia a luz coada pelas fasquias das rótulas das portas e janelas.
Quase todas as casas eram térreas
e tinham as janelas e portas guarnecidas de rótulas de madeira ou tecidos de
palha chamados peneiras ou grupemas, que eram dependurados ao amanhecer e
recolhidos à noite.
Dividia-se a cidade em duas
freguesias, a de S. Sebastião criada em 1569, tendo por primeiro pároco o padre
Mateus Nunes que recebera autorização para repreender e castigar os que
vivessem mal, sentenciando-os até dez cruzados sem apelação nem agravo, para
conhecer dos casos da santa inquisição, sentenciando segundo Deus o
iluminasse, e para condenar a trinta cruzados e com a pena de excomunhão a
quem o desobedecesse!
A segunda paróquia era a da
Candelária instituída em 1634, constando ter sido seu primeiro pastor o padre
espanhol Pablo Santi.
Era diminuta a população que, já
dissemos, reunia-se, quase toda, quotidianamente na hora da primeira missa, o
que tornava fáceis e frequentes as relações conhecendo-se todos e sabendo pronta
e estendidamente o que acontecia a cada um.
Agora que o leitor tem
conhecimento do teatro em que vão representar-se os acontecimentos seguintes
poderá melhor compreendê-los e acompanhar as personagens desta verídica
história.
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