05/08/2014

Coisas que só eu sei, de Camilo Castelo Branco

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Amor e ironia romântica em Camilo Castelo Branco


Camilo Castelo Branco nasceu em Lisboa, em 1825, ano em que Almeida Garrett (1799-1854) inaugurou o movimento romântico em Portugal, com a publicação de Camões. Junto com Garrett, Camilo é considerado um dos expoentes do Romantismo português e um dos grandes mestres da prosa literária do séc. XIX em língua portuguesa.

Nosso autor teve uma vida tão “romântica” quanto sua obra, isto se entendermos que o Romantismo caracteriza-se pela exaltação das paixões, pelo tom revolucionário na expressão de seus ideais, pelo extremado individualismo e pela paradoxal consciência crítica que tem o artista romântico de sua própria obra. Entendido desta forma, podemos dizer que a vida de Camilo e o Romantismo existiram em paralelo íntimo.

Órfão, casado muito cedo e tendo perdido uma filha, Camilo logo abandona sua primeira esposa por uma amante, a qual havia raptado. Preso por este rapto, abandona esta amante ao sair da cadeia. Residindo no Porto, dedica-se ao jornalismo e à literatura. Sua atividade como jornalista traz-lhe muitas desavenças e inimigos, o que parece ter inspirado uma das partes da novela que analisaremos.

Em 1850, Camilo conhece Ana Plácido, por quem se apaixona e com quem vive até sua morte. Encontrada a estabilidade emocional, falta a social, que o escritor nunca alcança. Ana Plácido era casada quando iniciou o relacionamento com Camilo. Em 1860 são presos por adultério. Um ano depois são absolvidos e passam a viver em São Miguel de Seide, casados oficialmente. A partir daí, no entanto, ele tem de redobrar seus esforços para sustentar a mulher e os filhos.

Em 1890, acometido por uma cegueira crônica, proveniente de uma sífilis mal curada, sem condições de trabalho e bastante desiludido, Camilo suicida-se. Como se vê, a tragédia e as paixões acompanham a vida de nosso escritor e deixam marcas profundas em sua obra.

A produção literária de Camilo é muito extensa. Além de poesias, teatro e crítica política e literária, ele escreveu mais de uma centena de romances e novelas, em aproximadamente 45 anos de atividade.

Sua produção literária em prosa, a que nos interessa aqui, acompanha o percurso que o Romantismo desenvolveu em Portugal: a novela histórica, preocupada com a releitura do passado português e com suas origens culturais e literárias; a novela de mistério, de caráter gótico, bem ao gosto romântico; as novelas passionais, dentro das quais desenvolveu-se o ultra-romantismo, comandadas pelas paixões fortes; as novelas satíricas, que anunciam a consciência crítica do autor para com sua obra e para com sua época; e, por fim, as novelas de cunho realista, que denunciam um Camilo já influenciado pela Geração de 70, ou seja, pelos ideais realistas (COELHO: 1993).

Tal produção, no entanto, não se deu de modo linear e cronológico, como os livros didáticos costumam apresentar a evolução romântica. Ao contrário, novelas históricas, góticas, passionais e satíricas são produzidas simultaneamente, de acordo com o gosto do público, as exigências do editor e as necessidades do autor. Desta forma é que, em 1862, além de produzir um livro de caráter memorialista, Memórias do cárcere, em 2 vol., e uma novela de mistério, Coisas espantosas, Camilo escreve sua mais conhecida novela passional, Amor de perdição, e a novela satírica de que, a partir de agora, nos ocuparemos, Coração, cabeça e estômago.

Neste trabalho, pretendemos construir um paralelo entre o título da novela e algumas características que, tradicionalmente, são apontadas como comuns ao Romantismo. Ao Coração corresponderia a emoção e com ela todos os clichês com que o escritor romântico caracterizou as paixões humanas; à Cabeça corresponderia a razão, porém aqui não a razão crítica, mas a razão cínica, a razão acomodada, a razão que busca privilégios, distinção, proveitos, enfim, a razão hipócrita; por último, ao Estômago corresponderia a realidade, no entanto, aqui também não a realidade empírica, reflexo do real, mas sim uma realidade interpretativa, filtrada pelo olhar do autor e por uma certa interpretação do movimento literário a que se filia.

Apesar da crítica camiliana vir apontando tal paralelismo, de modos distintos, desejamos tão-somente contribuir com uma leitura mais atenta e mais próxima da obra, o que, cremos, permitirá ao leitor uma visão mais clara de como se dá aquele paralelismo no nível do texto e na estruturação romanesca.


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Fonte:

Márcio Ricardo Coelho Muniz (UEFS): “Amor e ironia romântica em Camilo Castelo Branco”. Núcleo de Estudos Portugueses – Feira de Santana/BA. Disponível em: www.uefs.br/nep

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