27/06/2014

Otávia (Teatro), de Vittorio Alfieri

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Vida e Obra

A produção trágica de Alfieri se concentra em um período breve e intenso, entre os anos de 1775 e 1787. A composição de suas peças é dividida em três tempos: idealização, redação e versificação. O primeiro corresponde à distribuição do assunto em atos e cenas e à escolha do número de personagens em aproximadamente duas páginas; a redação corresponde à criação da tragédia inteira na forma de prosa, sem abrir mão de qualquer ideia ou pensamento que o autor tenha em mente; a última parte, a versificação, é o momento no qual Alfieri transforma a prosa em texto trágico e poético, escolhendo apenas as melhores ideias para configurarem na versão final do texto.

Alfieri escreveu no total vinte tragédias, se incluirmos Cleopatra, a primeira tragédia escrita pelo autor e depois por ele repudiada. Suas tragédias podem ser divididas em dois grupos: 1) histórico e clássico, retratando temas políticos e civis através de personagens como monarcas cruéis e destruidores da liberdade, e herois sempre magnânimos e libertários; fazem parte deste grupo as seguintes tragédias: Filippo, La congiura de’Pazzi, Virginia, Don Garzia, Maria Stuarda, Ottavia, Timoleone e Rosmunda, Merope, Agide, Sofonisba, Bruto I e Bruto II; 2) o segundo grupo é o mitológico-literário, com personagens positivos. Fazem parte deste grupo: Polinice, Antigone, Agamennone, Oreste e Mirra. As tragédias mais aclamadas de Alfieri, que tiveram maior sucesso de crítica, foram Saul e Mirra.

Além de tragédias, Alfieri também escreveu dois tratados políticos: Della Tirannide, este inteiramente político, e Del príncipe e delle lettere, este segundo sendo político-literário. O maior interesse desses dois tratados para o presente projeto é que, através da escritura de Della Tirannide, Alfieri pôde traçar o perfil psicológico de suas personagens tirânicas, carregadas de medo, vileza, ambição e luxo, como é o caso de Creonte, e com o tratado Del príncipe e delle lettere, o autor explicita as maneiras possíveis de se viver em um governo autoritário - submetendo-se a ele ou sacudindo-lhe o jugo - num comportamento heróico e necessariamente solitário, como no caso da jovem Antígona. Escreveu um diálogo, La Virtú Sconosciuta, no qual encontra em sonho a sombra de seu caro amigo Francesco Gori-Gandellini e discorre sobre o caráter e as virtudes deste. Alfieri produziu muitas odes políticas, como America libera, Parigi Sbastigliata, Il Misogalo, além de sátiras sobre os defeitos e ridículos de seu tempo, como em I re, La plebe, L’educazione e Le donne, comédias como Il divorzio e La finestrina, rimas, epigramas, cartas e traduções de Sófocles, Ésquilo, Terêncio, Eurípedes, Aristófanes e Salustiano. Alfieri buscava então assenhorear-se dos valores mais seguros da tradição literária italiana, e construir uma linguagem capaz de ser aceita e compreendida em toda a Península Itálica. É na Toscana, onde se falava o italiano considerado mais puro, que o autor encontra sua pátria literária.

Os elementos mais característicos da tragédia alfieriana são os antagonismos, a tensão e afirmação, o autocentrismo, a solidão, a incomunicabilidade, o valor no suicídio, a catástrofe. A importância marcadamente centrada nos atores-personagens, diretamente implicados no drama, leva a uma forte simplificação de cenários, acessórios cênicos, e de todo o mecanismo teatral. As tragédias de Alfieri se distinguem das duas principais formas de teatro clássico, ou seja, a grega e a francesa, pela simplicidade das ações, pela supressão de todas as cenas nas quais a ação não progride, pela uniformidade mais constante do tom alto e suspenso, e pela renúncia quase absoluta das cenas de amor adocicado, comuns na tragédia francesa.

Em sua autobiografia Alfieri confessa seu impulso de escrever tragédias através da descrição de sua personalidade: “Uma alma resoluta, muito obstinada, e indômita; um coração pleno de afetos de todas as espécies, entre as quais predominavam com uma mescla bizarra o amor e todas as suas fúrias, e uma profundíssima e ferocíssima raiva e aborrecimento contra toda e qualquer vontade tirânica”.

Já de acordo com Giulio Ferroni, a escolha de Vittorio Alfieri pelo gênero trágico se deu pelo fato de que, na Itália, o gênero trágico não havia ainda encontrado autores e obras satisfatórias que pudessem concorrer com o teatro clássico francês. Faltava um “corajoso voluntário” para essa tarefa que requeria um trabalho disciplinado e árduo, conduzido a um ritmo constante e paciente condizente com uma pessoa como Alfieri, que pretendia se tornar escritor quase a partir do nada, reconstruindo completamente a própria educação literária.

A relação de Alfieri com a língua e cultura francesa vai de um extremo a outro. Inicialmente muito interessado e motivado pela revolta do povo francês contra a monarquia absolutista, dedica Panegirico di Plinio a Traiano (1787) ao rei Luís XVI da França, texto no qual convidava o imperador Trajano a abolir o nepotismo e concordar com a liberdade do povo. Chega até a se mudar para Paris, com a Condessa D’Albany, de forma a presenciar a primeira fase da Revolução Francesa. Saudou a tomada da Bastilha com o texto Parigi Sbastigliata. Entretanto, a violenta luta política e o direcionamento da Revolução para o radicalismo do Terror tornaram o escritor crítico dos acontecimentos na França. Alfieri chegou a conceber ódio profundo pelo que ele chamava de “fautores da falsa liberdade”.

Suas posições políticas se tornaram cada vez mais reacionárias, até o ponto em que em 10 de agosto de 1792, com o assalto às Tulherias, o escritor e sua esposa deixam Paris e se mudam definitivamente para Florença, onde o autor começa a viver em austera solidão e assim permanece até o fim da vida. Sobre o fato de ter o francês como língua materna, o que demandou um grande esforço de sua parte para conseguir finalmente escrever em toscano, Alfieri escreveu em sua biografia que falar francês era a “desgraça primitiva do nascer em um país (paese) anfíbio”.

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Referência bibliográfica:

Nádia Jorge Berriel: “Antigone de Vittorio Alfieri: uma tradução”. (Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas. Orientadora: Profa. Dra. Suzi Frankl Sperber). Campinas, 2012 .

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