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Vida e Obra
A produção trágica de Alfieri se concentra em um período breve e intenso, entre os anos de 1775 e
Alfieri escreveu no total vinte tragédias, se incluirmos Cleopatra,
a primeira tragédia escrita pelo autor e depois por ele repudiada. Suas tragédias
podem ser divididas em dois grupos: 1) histórico e clássico, retratando temas
políticos e civis através de personagens como monarcas cruéis e destruidores da
liberdade, e herois sempre magnânimos e libertários; fazem parte deste grupo as
seguintes tragédias: Filippo, La congiura de’Pazzi, Virginia, Don Garzia,
Maria Stuarda, Ottavia, Timoleone e Rosmunda, Merope, Agide, Sofonisba, Bruto I
e Bruto II; 2) o segundo grupo é o mitológico-literário, com personagens
positivos. Fazem parte deste grupo: Polinice, Antigone, Agamennone, Oreste e
Mirra. As tragédias mais aclamadas de Alfieri, que tiveram maior sucesso de
crítica, foram Saul e Mirra.
Além de tragédias, Alfieri também escreveu dois tratados políticos:
Della Tirannide, este inteiramente político, e Del príncipe e delle lettere,
este segundo sendo político-literário. O maior interesse desses dois tratados
para o presente projeto é que, através da escritura de Della Tirannide,
Alfieri pôde traçar o perfil psicológico de suas personagens tirânicas,
carregadas de medo, vileza, ambição e luxo, como é o caso de Creonte, e com o
tratado Del príncipe e delle lettere, o autor explicita as maneiras possíveis
de se viver em um governo autoritário - submetendo-se a ele ou sacudindo-lhe o
jugo - num comportamento heróico e necessariamente solitário, como no caso da jovem
Antígona. Escreveu um diálogo, La Virtú Sconosciuta, no qual encontra
em sonho a sombra de seu caro amigo Francesco Gori-Gandellini e discorre sobre o
caráter e as virtudes deste. Alfieri produziu muitas odes políticas, como America
libera, Parigi Sbastigliata, Il Misogalo, além de sátiras sobre os defeitos
e ridículos de seu tempo, como em I re, La plebe, L’educazione
e Le donne, comédias como Il divorzio e La finestrina, rimas,
epigramas, cartas e traduções de Sófocles, Ésquilo, Terêncio, Eurípedes, Aristófanes
e Salustiano. Alfieri buscava então assenhorear-se dos valores mais seguros da tradição
literária italiana, e construir uma linguagem capaz de ser aceita e compreendida
em toda a Península Itálica. É na Toscana, onde se falava o italiano
considerado mais puro, que o autor encontra sua pátria literária.
Os elementos mais característicos da tragédia alfieriana são os antagonismos,
a tensão e afirmação, o autocentrismo, a solidão, a incomunicabilidade, o valor
no suicídio, a catástrofe. A importância marcadamente centrada nos atores-personagens,
diretamente implicados no drama, leva a uma forte simplificação de cenários,
acessórios cênicos, e de todo o mecanismo teatral. As tragédias de Alfieri se
distinguem das duas principais formas de teatro clássico, ou seja, a grega e a francesa,
pela simplicidade das ações, pela supressão de todas as cenas nas quais a ação não
progride, pela uniformidade mais constante do tom alto e suspenso, e pela
renúncia quase absoluta das cenas de amor adocicado, comuns na tragédia
francesa.
Em sua autobiografia Alfieri confessa seu impulso de escrever tragédias
através da descrição de sua personalidade: “Uma alma resoluta, muito obstinada,
e indômita; um coração pleno de afetos de todas as espécies, entre as quais
predominavam com uma mescla bizarra o amor e todas as suas fúrias, e uma profundíssima
e ferocíssima raiva e aborrecimento contra toda e qualquer vontade tirânica”.
Já de acordo com Giulio Ferroni, a escolha de Vittorio Alfieri
pelo gênero trágico se deu pelo fato de que, na Itália, o gênero trágico não havia
ainda encontrado autores e obras satisfatórias que pudessem concorrer com o
teatro clássico francês. Faltava um “corajoso voluntário” para essa tarefa que requeria
um trabalho disciplinado e árduo, conduzido a um ritmo constante e paciente condizente
com uma pessoa como Alfieri, que pretendia se tornar escritor quase a partir do
nada, reconstruindo completamente a própria educação literária.
A relação de Alfieri com a língua e cultura francesa vai de um extremo
a outro. Inicialmente muito interessado e motivado pela revolta do povo francês
contra a monarquia absolutista, dedica Panegirico di Plinio a Traiano (1787)
ao rei Luís XVI da França, texto no qual convidava o imperador Trajano a abolir
o nepotismo e concordar com a liberdade do povo. Chega até a se mudar para Paris,
com a Condessa D’Albany, de forma a presenciar a primeira fase da Revolução Francesa.
Saudou a tomada da Bastilha com o texto Parigi Sbastigliata. Entretanto,
a violenta luta política e o direcionamento da Revolução para o radicalismo do
Terror tornaram o escritor crítico dos acontecimentos na França. Alfieri chegou
a conceber ódio profundo pelo que ele chamava de “fautores da falsa liberdade”.
Suas posições políticas se tornaram cada vez mais reacionárias,
até o ponto em que em 10 de agosto de 1792, com o assalto às Tulherias, o
escritor e sua esposa deixam Paris e se mudam definitivamente para Florença,
onde o autor começa a viver em austera solidão e assim permanece até o fim da
vida. Sobre o fato de ter o francês como língua materna, o que demandou um
grande esforço de sua parte para conseguir finalmente escrever em toscano, Alfieri
escreveu em sua biografia que falar francês era a “desgraça primitiva do nascer
em um país (paese) anfíbio”.
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Referência bibliográfica:
Nádia Jorge Berriel: “Antigone de
Vittorio Alfieri: uma tradução”. (Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto
de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas. Orientadora:
Profa. Dra. Suzi Frankl Sperber). Campinas, 2012 .
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