12/04/2014

Os Tripeiros, de Coelho Lousada

 Os Tripeiros, de Coelho Lousada
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O Romance histórico Os Tripeiros

A ação de Os Tripeiros centra-se na vivência portuense dos acontecimentos de 1384 (de meados de Maio até depois da festa de S. João), mormente no que ao aparelhamento da frota para socorrer Lisboa, sitiada pelo rei castelhano, diz respeito.

O autor situa o seu romance num momento político crucial para o reino (o que a gente da ordem chama revolução e revolução política não estalara em tempo algum como agora) e particularmente melindroso para o burgo, dada a iminente ameaça de invasão das tropas galegas.

A trama romântica fixa-se nos amores de dois jovens casais - um amor impossível (entre João Bispo, cristão, e Garifa, moura) e um amor que contraria as normas de prestigio social, entre Fernando Vasques, o sobrinho de um, ao tempo, cidadão, comerciante de carnes e pelames mas que começara como fressureiro (vendedor de tripas), e Irene, filha do conhecido e reputado piloto e mercador João Ramalho.

Compõem a novela dez capítulos. O 1 A Mensagem do Mestre, é apenas de contextualização, enquanto que os 2º, 4º, 5º e 9º desenvolvem, em exclusivo, o enredo romântico. Dois dos restantes apresentam títulos que remetem diretamente para fatos coevos: O Recontro de Leça (7º) e O Torneio (8º), ainda que os referentes históricos não permaneçam aí acantonados mas se entrelacem com a ficção em todos estes capítulos (os 6º, 7º, 8º e 10º). Os jovens rapazes enamorados desempenham um papel basilar no desenrolar dos acontecimentos políticos. João Bispo desmascara Gonçalo Rodrigues de Sousa, alcaide de Monsaraz, provando que ele era traidor à causa do Mestre (Tripeiros, p. 91) e Fernando, transformado em herói no Recontro de Leça (ibid, pp. 106-112) convoca a sua veia de orador para convencer uma multidão renitente em deixar que a carne siga para Lisboa, com uma argumentação fundacional do epíteto dos portuenses (ibid., pp. 161-162).

Coelho Lousada economiza nas fontes que sustentam a sua novela, limitando-se à Crônica de D. João l; aliás, o seu discurso como que dialoga com a obra de Pernão Lopes, a ponto de aludir a determinados episódios só perceptíveis por quem a leu.

As personagens referênciais que convoca coincidem integralmente, sem contudo as esgotarem, com as mencionadas pelo cronista nas passagens relacionadas com o burgo.

No entanto, Coelho Lousada elabora uma versão livre dos circunstanciados relatos da Crônica. Não respeita a ordem cronológica dos acontecimentos, inventando relações de causalidade que contrariam o narrado por Fernão Lopes. Deturpa fatos. Hiperboliza situações. Faz atuar personagens que, ao tempo, já tinham morridor. Reinventa a história pessoal do mercador João Ramalho.

As referências ao espaço do burgo são lacônicas, confusas, algumas incompreensíveis, outras improváveis ou fantasiosas. Assim vejamos. É ambíguo ao mencionar a muralha, não distinguindo a cerca velha e o muro dito fernandino. É inconclusivo quanto à localização do bairro dos judeus. Transforma o pequeno povoado de Miragaia numa zona cosmopolita (Tripeiros, pp. 9-10). Situa a casa de morada do antigo fressureiro na rua dos Pelames, quando é pouco crível que um homem enriquecido não materializasse no espaço o seu novo estatuto, fixando-se numa zona mais nobre (bid., p. 48). Identifica um pequeno bairro mouro (ibid., p. 34).

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Fonte:
Adelaide Pereira Milán da Costa: O Romance histórico do séc. XIX nquanto factor de construção da memória da cidade do Porto: Os Tripeiros de Coelho Lousada. Actas do Colóquio Internacional Literatura e História. Porto, 2004, Vol I. Disponível em: ler.letras.up.pt

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