15/02/2014

Contos de Manuel de Oliveira Paiva

 Contos de Manuel de Oliveira Paiva
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Biografia de Manuel de Oliveira Paiva
Manoel de Oliveira Paiva, filho de João Francisco de Oliveira e de D. Maria Izabel de Paiva Oliveira, nasceu a 12 de julho de 1861 em Fortaleza na então rua Amélia, hoje Senador Pompeu, casa nº 162.

Estudou no Seminário do Crato e foi aluno da Escola Militar do Rio de Janeiro, que deixou em 1883, já doente de infecção pulmonar a que sucumbiu.

De colaboração com João Lopes e Antônio Martins escreveu A semana, crônica que o Libertador publicava aos sábados, assinada por Gil, Pery & C.a.

É o autor da Zabelinha ou Tacha Maldita, conto em verso, Ceará, oferecido à memória de Luiz Gama, e de um romance com o título A afilhada, que foi publicado no rodapé do Libertador, como foram também uns sonetos seus sob o título Sons da viola.

Zabelinha é um trabalho de propaganda abolicionista como muitos outros de Oliveira Paiva, entre os quais o panfleto intitulado Vinte e cinco de Março. Em 1887, com João Lopes, Antônio Martins, Abel Garcia, José de Barcelos e José Olympio redigiu A Quinzena, propriedade do Club Litterario, publicando nela vários contos como A corda sensível, O velho vovô, O ar do vento Ave Maria, A melhor cartada etc. No jornal Cruzada, órgão da Escola Militar do Rio de janeiro, escreveu o romance Tal filha, tal esposa e uma série de sonetos sob a epígrafe Transparencianas.

Faleceu a 29 de Setembro de 1892, tendo desempenhado as funções de Secretário do Governo e de 1º oficial da Secretaria do Ceará.

A Padaria Espiritual publicou a 9 de Outubro uma polyanthéa com seu retrato e traços biográficos por Antônio Sales. Oliveira Paiva deixou um romance D. Guidinha do Poço, que foi publicado em 1899, na Revista Brasileira.

De Manoel de Oliveira Paiva escreveu o seguinte Araripe Junior no Tempo, do Rio de Janeiro, em artigo sob título Um romancista do norte: “No momento em que as letras pátrias parecem receber um poderoso impulso e, com as agitações políticas, todas as forças vivas da nação se levantam para amparar o futuro e consolidar a crença no próprio valor; não estranharão os leitores do Tempo que um amoroso da terra venha lembrar aqui o nome de um escritor desconhecido, que muito trabalhou para o engrandecimento das letras de seu país com o amor de um artista e a coragem de um batalhador. Trata-se de um moço cearense, que dispersou muito talento e extasia pelos jornais de sua província, e que estava destinado a representar um papel brilhante entre os romancistas brasileiros. Infelizmente refiro-me a um morto, porque, quando os seus escritos prometiam a conversão dos projetos em formosa realidade, a eterna inimiga desmoronou os castelos, que se esboçavam numa imaginação já perfeitamente cultivada para as fortes construções do romance de observação. Chamava-se Manoel de Oliveira Paiva esse moço, que a 29 de Setembro de 1892 sucumbiu do mal dos poetas brasileiros, aos 31 anos de sua idade, deixando atrás de si uma saudade imorredoura traduzida no soluço da nova geração do Ceará.”

Sentimento igual a este pungiu o coração do autor destas linhas, em 1878, quando se finou Raimundo da Rocha Lima, outro cearense de grandes esperanças, que a fatalidade surpreendeu no amanhecer de gloria, justamente no momento em que no seu cultivado espírito se conjuravam os elementos para a fatura de dois monumentos de crítica — um sobre a “Revolução” e outro sobre “Jesus”.

Era Oliveira Paiva um observador e um forte, no qual se juntavam qualidades poéticas que o tornariam um mestre na arte de compor se continuasse a viver. Pobre, sem proteção teve de lutar com a vida para abrir caminhos ao exercício de suas faculdades. Foi Seminarista no Crato, para obter os primeiros rudimentos de educação, e depois sentou praça, para ilustrar-se num curso de guerra. O que fez durante esse período de sua existência dizem as tradições da escola Militar, a “Cruzada” onde o poeta ensaiou as suas primeiras armas publicando versos humorísticos e romances, que desde logo anunciaram a sua aptidão para o gênero descritivo e para análise dos caracteres. Pouco tempo depois abriu-se a campanha abolicionista e Oliveira Paiva foi um dos incendiados por essa convulsão sentimental, em que o Ceará devia tomar a dianteira e os seus filhos representar o papel de imediatos precursores da Republica. Nessa época o propagandista audacioso já era minado pela cruel enfermidade, que o levaria à sepultura. Obrigado a voltar á sua terra em busca de lenitivo aos males que o atormentavam, longe de achar aí o repouso de que carecia, encontrou a febre do “Libertador” e a tormenta que João Cordeiro, Amaral, Frederico Borges e outros haviam desencadeado contra os proprietários de escravos.

A jangada do “Dragão do Mar” desfraldara a vela branca da libertação dos cativos nos verdes mares do Mocoripe; e os negreiros aterrados diante da propaganda enérgica capitularam por toda parte, entregando a presa secular aos novos conquistadores à “Terra da luz”. Nesse tumulto de entusiasmo, Oliveira Paiva extenuou-se em discursos e versos, e, no auge da excitação, deu á estampa dois poemetos de propaganda, vibrantes de cólera e de um lirismo estranho, quase desconexo. “Zabelinha” intitulava-se um desses poemetos, e um dos poetas da nova geração cearense, Antônio Sales, quis descobrir nele “certa alure” imprevista, de que dão idéia muito aproximada os produtos da atual escola “decadista” ou “simbolista”.

Terminada a faina libertadora, começou então para o poeta uma fase tranquila, durante a qual, no “Libertador”, órgão literário, dirigido pelo deputado João Lopes, dedicou-se mais calmo aos trabalhos de sua vocação.

Afirmam todos os que conheceram o autor da “Zabelinha” nesse período, que apesar de minado pela enfermidade, ele mostrou na prosa uma fecundidade que de dia a dia tomava maiores proporções. Foi nesse jornal e na “Quinzena” que tive ocasião de apreciar o talento artístico de Oliveira Paiva, que á primeira inspeção se apresentava como um namorado de formas goncourianas. Logo depois, fui surpreendido com a publicação, em folhetim no “Libertador”, de um romance de fôlego,, intitulado “A afilhada”, no qual não sabia o que mais admirasse, sua habilidade com que o romancista adotava o naturalismo no meio que descrevia, se as audácias propriamente “cearenses”, que davam ao romance um sainete só apreciável aos filhos da terra. Esta obra, por motivos secundários, não se editou em livro, o que é uma pena. Com o advento da Republica nasceu a atividade política, do poeta.

Escolhido para secretario do governo provisório do Estado, foi depois escolhido para 1° oficial de uma das respectivas secretarias, quando se organizaram os serviços públicos. A medida da vida desse moço, porem, tinha enchido.

A morte, que o namorava havia tantos anos, escolheu; para fulminá-lo justamente o momento em que os seus esforços iam ser coroados, não só por uma colocação definitiva na sociedade, mas também pela confirmação do conceito em que os amigos tinham os seus talentos.

Pode-se afirmar que com Oliveira Paiva baixou á sepultura uma das aptidões mais enérgicas, que o Ceará tem produzido para o romance de costumes.

Agora chega-me a notícia de que no espolio literário do morto encontrou-se o manuscrito de um romance de extenso desenvolvimento, o qual ele tinha pronto para o prelo. Diz-me um dos seus saudosos amigos, após a leitura em roda competente, que D. Guidinha, tal é o nome do livro, “tem por “motivo” principal um desses dramas sanguinolentos a que serviam de cenário as nossas fazendas, revestidos de circunstâncias ao mesmo tempo bárbaras e cavalheirescas que davam á vida dos antigos sertanejos um acentuado tom medieval.” Pela natureza do assunto vejo que se trata de um livro escrito sob tese idêntica a que serviu de arcabouço ao “Sertanejo” de José de Alencar. Sucede, porém, que o autor do “Guarani”, não conhecendo os sertões do Ceará “de viso”, ficou muito a barlavento da verdade, e no romance deu-nos apenas uma sombra poética da vida do interior e das fazendas. Se não mentem os meus vaticínios, se é exato que Oliveira Paiva pôs em contribuição todos os processos modernos denotação para compor o livro que se anuncia, não recuso pensar que D. Guidinha virá preencher uma lacuna no gênero romance, oferecendo-nos um quadro violento de situações quentes, no qual se agitam tipos os mais curiosos criados pela vida crioula na região central, onde os horrores da seca triunfam periodicamente.


Barão de Studart
Diccionario Bio-bibliographico Cearense, 1915

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