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Manoel de Oliveira Paiva, filho de João Francisco de
Oliveira e de D. Maria Izabel de Paiva Oliveira, nasceu a 12 de julho de 1861
em Fortaleza na então rua Amélia, hoje Senador Pompeu, casa nº 162.
Estudou no Seminário do Crato e foi aluno da Escola
Militar do Rio de Janeiro, que deixou em 1883, já doente de infecção pulmonar a
que sucumbiu.
De colaboração com João Lopes e Antônio Martins escreveu A semana, crônica que o Libertador publicava aos sábados, assinada
por Gil, Pery & C.a.
É o autor da Zabelinha
ou Tacha Maldita, conto em verso, Ceará, oferecido à memória de Luiz Gama,
e de um romance com o título A afilhada,
que foi publicado no rodapé do Libertador,
como foram também uns sonetos seus sob o título Sons da viola.
Zabelinha é um trabalho de propaganda
abolicionista como muitos outros de Oliveira Paiva, entre os quais o panfleto
intitulado Vinte e cinco de Março. Em
1887, com João Lopes, Antônio Martins, Abel Garcia, José de Barcelos e José
Olympio redigiu A Quinzena,
propriedade do Club Litterario,
publicando nela vários contos como A
corda sensível, O velho vovô, O ar do vento Ave Maria, A melhor cartada etc. No jornal Cruzada, órgão da Escola Militar do Rio
de janeiro, escreveu o romance Tal filha,
tal esposa e uma série de sonetos sob a epígrafe Transparencianas.
Faleceu a 29 de Setembro de 1892, tendo desempenhado as
funções de Secretário do Governo e de 1º oficial da Secretaria do Ceará.
A Padaria Espiritual publicou a 9 de Outubro uma polyanthéa com seu retrato e traços biográficos
por Antônio Sales. Oliveira Paiva deixou um romance D. Guidinha do Poço, que foi publicado em 1899, na Revista Brasileira.
De Manoel de Oliveira Paiva escreveu o seguinte Araripe
Junior no Tempo, do Rio de Janeiro, em artigo sob título Um romancista do norte: “No momento em que as letras pátrias
parecem receber um poderoso impulso e, com as agitações políticas, todas as
forças vivas da nação se levantam para amparar o futuro e consolidar a crença
no próprio valor; não estranharão os leitores do Tempo que um amoroso da terra venha lembrar aqui o nome de um escritor
desconhecido, que muito trabalhou para o engrandecimento das letras de seu país
com o amor de um artista e a coragem de um batalhador. Trata-se de um moço
cearense, que dispersou muito talento e extasia pelos jornais de sua província,
e que estava destinado a representar um papel brilhante entre os romancistas
brasileiros. Infelizmente refiro-me a um morto, porque, quando os seus escritos
prometiam a conversão dos projetos em formosa realidade, a eterna inimiga desmoronou
os castelos, que se esboçavam numa imaginação já perfeitamente cultivada para
as fortes construções do romance de observação. Chamava-se Manoel de Oliveira
Paiva esse moço, que a 29 de Setembro de 1892 sucumbiu do mal dos poetas
brasileiros, aos 31 anos de sua idade, deixando atrás de si uma saudade imorredoura
traduzida no soluço da nova geração do Ceará.”
Sentimento igual a este pungiu o coração do autor destas
linhas, em 1878, quando se finou Raimundo da Rocha Lima, outro cearense de
grandes esperanças, que a fatalidade surpreendeu no amanhecer de gloria,
justamente no momento em que no seu cultivado espírito se conjuravam os
elementos para a fatura de dois monumentos de crítica — um sobre a “Revolução”
e outro sobre “Jesus”.
Era Oliveira Paiva um observador e um forte, no qual se
juntavam qualidades poéticas que o tornariam um mestre na arte de compor se
continuasse a viver. Pobre, sem proteção teve de lutar com a vida para abrir
caminhos ao exercício de suas faculdades. Foi Seminarista no Crato, para obter
os primeiros rudimentos de educação, e depois sentou praça, para ilustrar-se
num curso de guerra. O que fez durante esse período de sua existência dizem as
tradições da escola Militar, a “Cruzada” onde o poeta ensaiou as suas primeiras
armas publicando versos humorísticos e romances, que desde logo anunciaram a
sua aptidão para o gênero descritivo e para análise dos caracteres. Pouco tempo
depois abriu-se a campanha abolicionista e Oliveira Paiva foi um dos incendiados
por essa convulsão sentimental, em que o Ceará devia tomar a dianteira e os
seus filhos representar o papel de imediatos precursores da Republica. Nessa época
o propagandista audacioso já era minado pela cruel enfermidade, que o levaria à
sepultura. Obrigado a voltar á sua terra em busca de lenitivo aos males que o atormentavam,
longe de achar aí o repouso de que carecia, encontrou a febre do “Libertador” e
a tormenta que João Cordeiro, Amaral, Frederico Borges e outros haviam
desencadeado contra os proprietários de escravos.
A jangada do “Dragão do Mar” desfraldara a vela branca da
libertação dos cativos nos verdes mares do Mocoripe; e os negreiros aterrados
diante da propaganda enérgica capitularam por toda parte, entregando a presa
secular aos novos conquistadores à “Terra da luz”. Nesse tumulto de entusiasmo,
Oliveira Paiva extenuou-se em discursos e versos, e, no auge da excitação, deu
á estampa dois poemetos de propaganda, vibrantes de cólera e de um lirismo
estranho, quase desconexo. “Zabelinha” intitulava-se um desses poemetos, e um
dos poetas da nova geração cearense, Antônio Sales, quis descobrir nele “certa
alure” imprevista, de que dão idéia muito aproximada os produtos da atual
escola “decadista” ou “simbolista”.
Terminada a faina libertadora, começou então para o poeta
uma fase tranquila, durante a qual, no “Libertador”, órgão literário, dirigido
pelo deputado João Lopes, dedicou-se mais calmo aos trabalhos de sua vocação.
Afirmam todos os que conheceram o autor da “Zabelinha”
nesse período, que apesar de minado pela enfermidade, ele mostrou na prosa uma
fecundidade que de dia a dia tomava maiores proporções. Foi nesse jornal e na
“Quinzena” que tive ocasião de apreciar o talento artístico de Oliveira Paiva,
que á primeira inspeção se apresentava como um namorado de formas goncourianas.
Logo depois, fui surpreendido com a publicação, em folhetim no “Libertador”, de
um romance de fôlego,, intitulado “A afilhada”, no qual não sabia o que mais
admirasse, sua habilidade com que o romancista adotava o naturalismo no meio
que descrevia, se as audácias propriamente “cearenses”, que davam ao romance um
sainete só apreciável aos filhos da terra. Esta obra, por motivos secundários,
não se editou em livro, o que é uma pena. Com o advento da Republica nasceu a atividade
política, do poeta.
Escolhido para secretario do governo provisório do Estado,
foi depois escolhido para 1° oficial de uma das respectivas secretarias, quando
se organizaram os serviços públicos. A medida da vida desse moço, porem, tinha
enchido.
A morte, que o namorava havia tantos anos, escolheu; para
fulminá-lo justamente o momento em que os seus esforços iam ser coroados, não
só por uma colocação definitiva na sociedade, mas também pela confirmação do
conceito em que os amigos tinham os seus talentos.
Pode-se afirmar que com Oliveira Paiva baixou á sepultura
uma das aptidões mais enérgicas, que o Ceará tem produzido para o romance de
costumes.
Agora chega-me a notícia de que no espolio literário do
morto encontrou-se o manuscrito de um romance de extenso desenvolvimento, o
qual ele tinha pronto para o prelo. Diz-me um dos seus saudosos amigos, após a
leitura em roda competente, que D.
Guidinha, tal é o nome do livro, “tem por “motivo” principal um desses
dramas sanguinolentos a que serviam de cenário as nossas fazendas, revestidos
de circunstâncias ao mesmo tempo bárbaras e cavalheirescas que davam á vida dos
antigos sertanejos um acentuado tom medieval.” Pela natureza do assunto vejo
que se trata de um livro escrito sob tese idêntica a que serviu de arcabouço ao
“Sertanejo” de José de Alencar. Sucede, porém, que o autor do “Guarani”, não
conhecendo os sertões do Ceará “de viso”, ficou muito a barlavento da verdade,
e no romance deu-nos apenas uma sombra poética da vida do interior e das
fazendas. Se não mentem os meus vaticínios, se é exato que Oliveira Paiva pôs
em contribuição todos os processos modernos denotação para compor o livro que
se anuncia, não recuso pensar que D.
Guidinha virá preencher uma lacuna no gênero romance, oferecendo-nos um
quadro violento de situações quentes, no qual se agitam tipos os mais curiosos
criados pela vida crioula na região central, onde os horrores da seca triunfam
periodicamente.
Barão de Studart
Diccionario
Bio-bibliographico Cearense, 1915
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