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A Reabilitação de Coelho
Neto nos Anos 40 e 50
Nos
debates ocorridos nos cadernos de cultura
e suplementos literários das
décadas de
40 e 50, o que se procurou, além de reabilitar Coelho Neto, foi situá-lo no
quadro geral do romance brasileiro. Importava sobretudo ler o romancista e se
desfazer dos preconceitos e das intransigências
da critica anterior. O debate se intensificou inclusive na imprensa do final da década de 50. É que em 1958 a Editora Aguillar
lançava no mercado editorial o primeiro volume da obra seleta de Coelho Neto. Acompanhava a edição um ensaio de Brito Broca e
outro de Hennan Lima, além de uma pequena iconografia e um esboço biográfico
escrito por Paulo Coelho Neto.
Mas,
para se ter uma idéia dos bons ventos que sopravam sobre a fortuna crítica de Coelho
Neto basta recuperar neste momento o número especial do Suplemento Literário de
A Manhã dedicado ao romancista. A primeira página desta
revista trazia um pouco da
produção
poética de Coelho Neto, realçando por um lado sua opulência verbal, e por
outro, seu lirismo tingido de cores românticas, e levemente matizado por um
simbolismo. Nos trechos selecionados pelos organizadores constavam as seguinte
temáticas: o amor, o dever cívico, a figura do poeta e sua relação com a
imprensa_ O Suplemento continha não somente
uma antologia da
obra de
Coelho Neto, mas um apanhado de sua fortuna crítica. No cômputo geral a seleção
dos textos críticos sobre a obra do romancista era satisfatória. O Suplemento
procurava contrabalançar as opiniões extremadas, mas o recorte dos textos em prosa apresentava-se sofríveL Tornemos este
trecho como exemplo:
"Os passarinhos
deviam cantar à noite, para alegria da alma. Assim como há constelações para o regalo dos olhos, devia haver
gorgeios para o encanto dos ouvidos.”
A
impressão que se fica é
que o texto
foi colocado apenas para aproveitar um espaço que estaria sobrando no canto
inferior da
página. E o
grave deste procedimento é
que tais textos ó servem para confirmar
a imagem de um escritor afetado, dotado de um didatismo poético e de uma sensibilidade de fundo romântica, o que
em última instância é
ocasião
para os sarcasmos e deboches da critica
literária. Outros problemas ainda são detectados nesta coletânea de textos
críticos. É o
caso do
artigo de Adelmar Tavares que para
se referir ao talento de Coelho Neto usa a seguinte expressão:
"claviculário do mais opulento tesouro vocabular da língua" ou então, João Neves da
Fontoura que traça um parentesco entre o ornamentalismo da prosa do romancista e o Barroco mineiro:
"Estes enfeites
vocabulares, o amor às perífrases., o purismo das construções deram ao seu
estilo literário por vezes alguma coisa de
barroco, que faz insensivelmente lembrar certas obras de Aleijadinho na
arquitetura colonial de nossas igrejas."
Passando
da comparação estilística
ao comentário do gênero literário, encontra-se ainda no Suplemento Literário opiniões como a de Machado de Assis, que ao comentar o romance Miragem faz a seguinte observação:
"(
... )aqui está Coelho Neto, romancista, que podemos chamar historiador, no
sentido de contar a vida das almas e dos costumes.”
Em
contrapartida, José Maria Bello concluiria que na obra de Coelho Neto falta realidade e ambiente, a paisagem é cenográfica; as figuras que criou são
inconsistentes, em suma, é
urna obra
que padece da artificialidade da oratória.
Pode-se
resumir esta coletânea de textos críticos organizado pelo Suplemento Literário em dois momentos. O
primeiro descarta a obra de Coelho Neto por ela ser marcada pelo vício da oratória, neste viés o romancista é caricaturizado como
"mestre de orquestra". O segundo momento quer recuperar o escritor
por sua opulência verbal, ou pelo lado de crônica de costumes presente em
alguns romances.
O
início dos anos 50 é marcado por alguns estudos de Lúcia Miguel Pereira. Em
Prosa de Ficção (de 1870 a
1920)18, a autora realizaria uma
análise arguta, porém demasiadamente severa. Seu veredicto acerca dos romances
coelhonetianos é de que o verdadeiro caminho do romancista "seria o
habitual cotidianismo da
ficção brasileira".
Para a autora, O Morto (1898) e Miragem (1895) seriam bom exemplos de romances
nos quais Coelho Neto teria renunciado um pouco do seu amor pelas palavras.
Em
Cinquenta Anos de Literatura19, Lúcia Miguel Pereira
retomaria suas análises sobre a produção literária do início do século. Agora,
de um modo sumário, a autora discutiria logo nas primeiras páginas do seu
estudo o fenômeno da oratória. Lúcia Miguel Pereira
se perguntaria qual a relação entre um clima eufórico nas letras e os
acontecimentos políticos e sociais. Será na expressividade de algumas
personagens do início do século que a autora encontrará o elo causal. Primeiro,
o destaque de Santos Durnont na Europa; em seguida,. Rui Barbosa, "a águia
de Haia"; e no plano político, econômico e social, Prudente de Morais
iniciando a recuperação financeira do país, cujo término se daria com Campos Sales.
Por sua vez, este saneamento do déficit público em muito ajudaria as reformas
de Rodrigues Alves na urbanização e remodelização do Rio de Janeiro.
Tais fatos subscreveram o clima de euforia e eloquência nas letras:
"Há um ruflar de
asas, um enfunar de velas, uns toques de
clarim nas frases rutilantes., faiscantes, que a moda exigia tão ricas em
curvas como as mulheres de então; no tom superiormente afirmativo, o seu tanto
de dogmático, de muitos, senão da maioria dos escritores.”
Toda
esta exasperação do brilho e do adorno conduziria na opinião da autora a uma espécie
de estagnação literária na década de dez. O abuso do descritivo, do paisagismo,
das exterioridades pitorescas descambariam numa artificialidade estética e num
"preconceito da forma".
Ora, será justamente este quadro de características que Lúcia Miguel Pereira
irá identificar e reprovar nos romances de Coelho Neto.
Numa
perspectiva diferente colocar-se-á Brito Broca em seu ensaio "Coelho Neto,
Romancista" de 1952.
O ensaísta
além de dar algumas diretrizes para o
exame dos romances em Coelho Neto, ainda o teria restaurado no cânon da
literatura brasileira. Aliás, na opinião de Antônio Cândido este teria sido o
maior feito de Brito Broca enquanto "releitor".
É importante sublinhar no
ensaio de Brito Broca suas estratégias para desobstruir
o acúmulo de estereótipos que pesavam na obra do romancista. O argumento
inicial do estudo baseia-se
no impacto da geração de 22 para a recepção critica da obra coelhonetiana. Neste sentido, Brito
Broca coloca dois pontos que foram o fiel da balança
na fortuna crítica de Coelho Neto. Entre os preconceitos, os impropérios e os
estereótipos herdados pela geração do pós 22 e as preocupações sociais da
literatura dos anos 30, organizou-se um certo consel150 do passadismo literário
de Coelho Neto:
"As
preocupações sociais que surgiram na literatura brasileira depoís de 1930, o neo naturalismo de 1932, com suas
obsessões documentárias, implicando o desprezo pela forma, o descrédito da arte pela arte e da
'literatura', concorreram
para que Coelho Neto continuasse no esquecimento e na hostilidade a que o
relegaram os
modernistas.”
Brito
Broca procurará aplacar esta hostilidade refazendo o itinerário do romancista,
e neste percurso, o ensaísta irá apontar os desvios, os acertos e as promessas
da prosa coelhonetiana Começando pelo romance de estréia A Capital Federal, o
ensaísta critica o equivoco de parte da historiografia literária ao identificar
neste romance influências diretas de As Cidades e as Serras ( 1901) de Eça de Queiróz. O
parentesco mais plausível entre os dois livros é o ceticismo quanto ao progresso material que
poderia vir da
civilização
técnica. A Capital Federal se insere num gênero híbrido: misto de crônica da vida carioca do século XIX com romance.
Daí viria inclusive na opinião de Brito Broca os defeitos do livro:
"Os personagens são
criações puramente intelectuais e ressentem-se daquele humor admirável que
faria Lima Barreto atingir o máximo
de sua arte num livro um pouco semelhante, por ser igualmente uma crônica do
Rio: Vida e Morte de M. J. Gonzaga de
Sá.”
Passando
de A Capital Federal para um outro romance, Miragem, Brito Broca localiza o
ponto nevrálgico que teria feito que mesmo os antipáticos à estética do escritor aceitassem
este romance como algo digno da literatura brasileira:
“Quando os negadores de
Coelho Neto ressalvam A Mrragem, o que os leva a isso é, porém, o fato de nos
haver o autor oferecido aí alguns flagrantes da proclamação da República, de não ter-se alheado da nossa realidade ..."
Esta
tendência realista com alguns matizes românticos de A Miragem seria retomada anos
mais tarde em Turbilhão o que
faz Brito Broca pensar que
a variedade
da obra coelhonetiana força
o crítico a comentá-la e organizá-la do ponto de vista cronológico. É que o
escritor desenvolve uma
tendência,
abandona-a, e depois a retoma em um outro
romance.
[...]
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Fonte:
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Fonte:
Marcos
Aparecido Lopes: “No
purgatório da crítica: Coelho
Neto e o seu lugar na história da literatura brasileira”. (Dissertação de mestrado
apresentada ao Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de
Campinas para obtenção do título de Mestre
em Letras na Área de
Teoria Literária. Orientador:
Prof Dr. Francisco Foot Hardman). Campinas, 1997.
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