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Brás, Bexiga e Barra Funda: foco na linguagem.
Esse livro traz, além do
reconhecimento geográfico da cidade de São Paulo, um conjunto de aspectos
humanos, morais, sociais, culturais e lingüísticos. E segundo Parra, o narrador
é um observador que anota suas impressões de maneira distanciada e, por isso
mesmo, consegue registrar todo um conjunto de situações de forma verídica, sem comprometer
a veracidade dos fatos (Parra, 2003).
A linguagem usada por Alcântara
na obra é leve e bem-humorada, espontânea e comunicativa, resultado
conseguido devido a sua atividade como jornalista e àquilo que o próprio
Alcântara observava nos imigrantes: alegria e esperança. Nos seus textos, o que
parece interessar ao autor é a língua estrangeira como indicador mais aparente
da transformação social. O que mais chama atenção é o que a obra tem de menos
atual hoje em dia, ou seja, italianismos como ciao, andiamo, subito, repito
un’altra vez, ia dimenticando de dizer, proferidos por seus personagens
“ítalo-brasileiros de São Paulo”; a presença de nomes como Beppino, Carmela,
Nicolino, Lisetta, Rocco, Genarinho e até a dedicatória ao caricaturista Lemmo
Lemmi (o Voltolino) e aos “novos mamalucos”, como Victor Brecheret, Anita
Malfatti e ao conde Francisco Matarazzo Júnior.
Alcântara se propôs a homenagear
a italianidade lingüística e comportamental que marcava o ritmo de dinamismo e
otimismo da cidade que estava em plena expansão no começo do século passado. Um
leitor mais desavisado poderia até pensar que o escritor estivesse fazendo
ironias com os italianos. Contudo, ao invés de fazer deformações da sintaxe e
da prosódia, como o fez Alexandre Ribeiro (o Juó Bananére) com seu tom anedótico
e satírico, Alcântara integrava vocábulos e estruturas frasais da língua
italiana ao português coloquial das personagens, preservando, assim, a
brasilidade do narrador.
Meu objetivo é o de chamar a
atenção para as colocações de vocábulos italianos que se misturam com o
português coloquial. Usarei o conto “Gaetaninho” para exemplificar a questão
das expressões italianas usadas para marcar a influência da imigração e da mistura
de raças (brasileira e italiana), na sociedade paulistana.
A escolha deste conto deve-se à
simplicidade típica do imigrante italiano que se vê na voz de um menino, cheio
de sonhos, desejos e esperança. As características do conto (quanto dos outros
textos de Alcântara Machado) são as frases curtas e diretas; a preferência pela
ação em contraponto à descrição; a dicção jornalística de “ausência” de autor;
os recortes de instantâneos urbanos. Os contos de Brás, Bexiga e Barra Funda são
fundadores da representação literária e simbólica de São Paulo.
Podemos ressaltar, também, o uso
de expressões italianas que marcam a influência da imigração e a sua linguagem
radiofônica, como se fosse um locutor esportivo narrando um jogo de futebol.
Como nos diz Fausto, a cidade de
São Paulo não foi mais a mesma com a chegada dos italianos. A proposta
literária de Alcântara estava de pleno acordo com a proposta modernista da
época. Um exemplo típico desse primeiro momento modernista é o conto “Artigo de
Fundo”, que inicia o livro, de caráter explicativo, entre manifesto e
declaração de intenções. O grupo paulista ao qual Alcântara participava era
formado de jovens escritores que investiam contra uma concepção de língua e de
literatura. A tônica dos modernistas era o nacionalismo: a poesia “pau-brasil”,
o verde-amarelismo e a antropofagia.
No conto “Gaetaninho”, a palavra
“banzando”, que aparece como tentativa de uma mistura do português com o
italiano, por exemplo, vem substituir outro verbo, no caso, “brincando”: “- Xi,
Gaetaninho, como é bom! Gaetaninho ficou banzando bem no meio da rua.” Outros
exemplos de palavras em italiano que se misturam com o português: “Subito” (expressão
italiana); “Êta salame de mestre!” (mistura de italiano com português); “Ahi, Mari!”
(expressão italiana).
Existia em Alcântara Machado uma
profunda necessidade de sentir e interpretar o Brasil através de sua
literatura. Um Brasil novo, que surgia diante de seus olhos, sendo feito por
brasileiros e pela, segundo o próprio autor, “novíssima raça de gigantes”.
Gigantes construindo um gigante.
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Fonte:
Adriana Zanela Nunes (UFRJ):
"Alcântara Machado: um escritor apaixonado pelos ítalo-brasileiros". Revista
Eletrônica do Instituto de Humanidades. Volume V Número XIX - Out/Dez 2006. Disponível
em: publicacoes.unigranrio.com.br
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