12/04/2014

Brás, Bexiga e Barra Funda , de Antônio de Alcântara Machado

 Brás, Bexiga e Barra Funda , de Antônio de Alcântara Machado
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Brás, Bexiga e Barra Funda: foco na linguagem.

Esse livro traz, além do reconhecimento geográfico da cidade de São Paulo, um conjunto de aspectos humanos, morais, sociais, culturais e lingüísticos. E segundo Parra, o narrador é um observador que anota suas impressões de maneira distanciada e, por isso mesmo, consegue registrar todo um conjunto de situações de forma verídica, sem comprometer a veracidade dos fatos (Parra, 2003).

A linguagem usada por Alcântara na obra é leve e bem-humorada, espontânea e comunicativa, resultado conseguido devido a sua atividade como jornalista e àquilo que o próprio Alcântara observava nos imigrantes: alegria e esperança. Nos seus textos, o que parece interessar ao autor é a língua estrangeira como indicador mais aparente da transformação social. O que mais chama atenção é o que a obra tem de menos atual hoje em dia, ou seja, italianismos como ciao, andiamo, subito, repito un’altra vez, ia dimenticando de dizer, proferidos por seus personagens “ítalo-brasileiros de São Paulo”; a presença de nomes como Beppino, Carmela, Nicolino, Lisetta, Rocco, Genarinho e até a dedicatória ao caricaturista Lemmo Lemmi (o Voltolino) e aos “novos mamalucos”, como Victor Brecheret, Anita Malfatti e ao conde Francisco Matarazzo Júnior. 

Alcântara se propôs a homenagear a italianidade lingüística e comportamental que marcava o ritmo de dinamismo e otimismo da cidade que estava em plena expansão no começo do século passado. Um leitor mais desavisado poderia até pensar que o escritor estivesse fazendo ironias com os italianos. Contudo, ao invés de fazer deformações da sintaxe e da prosódia, como o fez Alexandre Ribeiro (o Juó Bananére) com seu tom anedótico e satírico, Alcântara integrava vocábulos e estruturas frasais da língua italiana ao português coloquial das personagens, preservando, assim, a brasilidade do narrador.

Meu objetivo é o de chamar a atenção para as colocações de vocábulos italianos que se misturam com o português coloquial. Usarei o conto “Gaetaninho” para exemplificar a questão das expressões italianas usadas para marcar a influência da imigração e da mistura de raças (brasileira e italiana), na sociedade paulistana.

A escolha deste conto deve-se à simplicidade típica do imigrante italiano que se vê na voz de um menino, cheio de sonhos, desejos e esperança. As características do conto (quanto dos outros textos de Alcântara Machado) são as frases curtas e diretas; a preferência pela ação em contraponto à descrição; a dicção jornalística de “ausência” de autor; os recortes de instantâneos urbanos. Os contos de Brás, Bexiga e Barra Funda são fundadores da representação literária e simbólica de São Paulo.

Podemos ressaltar, também, o uso de expressões italianas que marcam a influência da imigração e a sua linguagem radiofônica, como se fosse um locutor esportivo narrando um jogo de futebol.

Como nos diz Fausto, a cidade de São Paulo não foi mais a mesma com a chegada dos italianos. A proposta literária de Alcântara estava de pleno acordo com a proposta modernista da época. Um exemplo típico desse primeiro momento modernista é o conto “Artigo de Fundo”, que inicia o livro, de caráter explicativo, entre manifesto e declaração de intenções. O grupo paulista ao qual Alcântara participava era formado de jovens escritores que investiam contra uma concepção de língua e de literatura. A tônica dos modernistas era o nacionalismo: a poesia “pau-brasil”, o verde-amarelismo e a antropofagia.

No conto “Gaetaninho”, a palavra “banzando”, que aparece como tentativa de uma mistura do português com o italiano, por exemplo, vem substituir outro verbo, no caso, “brincando”: “- Xi, Gaetaninho, como é bom! Gaetaninho ficou banzando bem no meio da rua.” Outros exemplos de palavras em italiano que se misturam com o português: “Subito” (expressão italiana); “Êta salame de mestre!” (mistura de italiano com português); “Ahi, Mari!” (expressão italiana).

Existia em Alcântara Machado uma profunda necessidade de sentir e interpretar o Brasil através de sua literatura. Um Brasil novo, que surgia diante de seus olhos, sendo feito por brasileiros e pela, segundo o próprio autor, “novíssima raça de gigantes”.

Gigantes construindo um gigante.

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Fonte:

Adriana Zanela Nunes (UFRJ): "Alcântara Machado: um escritor apaixonado pelos ítalo-brasileiros". Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades. Volume V Número XIX - Out/Dez 2006. Disponível em: publicacoes.unigranrio.com.br

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