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Referência bibliográfica:
Biografia de Auta de Sousa (Poeta)
Auta de Souza nasceu em 1876 no município de Macaíba (RN),
na época principal centro comercial e político do Rio Grande do Norte. Faleceu
em 1901, aos 25 anos de idade incompletos, vitimada pela tuberculose. Deixou
alguns poemas publicados em jornais e revistas locais e regionais, dois
manuscritos (Dhálias e Horto) e um único livro de poemas
publicado: o Horto.
A poeta era bisneta de Francisco Pedro Bandeira de Melo,
senhor de vastas terras e boa soma de gado da antiga região de Coité, hoje Macaíba.
Esse bisavô dera em casamento sua filha Cosma Bandeira de Melo – não se sabe ao
certo se ela era filha natural ou adotiva – ao seu brilhante vaqueiro, tido
como negro, Félix José de Souza. Do casamento dos dois, nasceu Eloy Castriciano
de Souza, pai de Auta de Souza.
Eloy Castriciano de Souza trabalhou, durante treze anos,
para Fabrício Gomes Pedroza, genro de seu avô Francisco Pedro. Mais tarde Eloy
Castriciano lançou-se numa sociedade com o futuro sogro, Francisco de Paula
Rodrigues, comerciante do Recife, que já operava no ramo da importação e
exportação. Posteriormente, Eloy Castriciano aliou a carreira comercial à
política, sendo deputado provincial pelo Partido Liberal no biênio 1878-1879.
A mãe de Auta de Souza era Henriqueta Leopoldina Rodrigues
de Souza, filha de Francisco de Paula Rodrigues com Silvina Maria da Conceição,
esta também conhecida por Dindinha. Silvina, como a maior parte das mulheres de
origem humilde de seu tempo, era analfabeta, mas consta que sua filha
Henriqueta tinha alguma instrução. Luís da Câmara Cascudo fala que ela era
“lida em livros”. Um dos irmãos da moça, Lucidário Rodrigues, chegou mesmo a
frequentar por dois anos a Faculdade de Medicina da Bahia, tendo-a interrompido
devido a seu falecimento. Silvina e Francisco de Paula eram amasiados, e ela
passou à condição de esposa dele no dia do casamento da filha Henriqueta,
quando também foi oficializado o casamento dos dois, evitando certo
constrangimento de Henriqueta na hora da “leitura de banhos” em sua cerimônia
matrimonial. De Silvina diz-se ter sido mulher totalmente dedicada ao lar e à
família; primeiro, ao marido e aos filhos e, depois, aos netos órfãos.
Auta de Souza perdeu os pais muito cedo, a mãe aos três
anos, o pai aos cinco. Após a morte dos pais, ela e seus quatro irmãos foram
levados pelos avós maternos, de Macaíba para o Recife. O avô faleceu em 1882,
ano seguinte à morte do pai de Auta, e todos os cinco irmãos ficaram sendo
criados pela avó Silvina.
Mais uma morte veio tirar o sossego de Auta, então com
doze anos, seu irmão mais novo, Irineu Leão Rodrigues de Souza, foi incendiado
na sua frente devido a um acidente com um candeeiro. Marca de dor que parece
ter levado para o resto da vida.
Auta de Souza estreou publicamente em 1894 na revista Oásis, de Natal. Tratava-se de um
periódico literário e noticioso, órgão do grêmio literário Le Monde Marche. Em 1896, começou a colaborar em A República, de Natal, que tinha Pedro
Velho de Albuquerque Maranhão como fundador, Eloy de Souza como um dos redatores
e Henrique Castriciano de Souza como colaborador desde 1891. Segundo Luiz
Fernandes, historiador da imprensa na época, o jornal A República era “o de maior circulação, o mais lido, mais espalhado
pelo Brasil porque permutava com a imprensa do sul, do norte e do centro”. Mas,
é só a partir de 1897 que Auta de Souza é citada como colaboradora oficial do
jornal, ao lado do irmão Henrique Castriciano, entre outros nomes masculinos.
Foi em A Tribuna, de Natal, que, a
partir de 1897, Auta de Souza passou a publicar seus versos assiduamente.
Segundo o mesmo historiador, tratava-se de um periódico de prestígio, sendo que
nele colaboravam poetas e escritores famosos do Nordeste. Oásis e A Tribuna eram
periódicos que constantemente divulgavam produções femininas.
Entre 1899 e 1900, em A
Tribuna, Auta de Souza passou a usar os pseudônimos de Ida Salúcio e
Hilário das Neves.
De 1894
a 1899, os tempos foram de muito movimento para Auta de
Souza, movimento não só na vida intelectual, como também na vida afetiva. Além
do mais, nesse período sua saúde sofreu constantes recaídas. Fez viagens
seguidas em busca de restabelecimento, nas quais escrevia sempre. O roteiro era
Recife, Vila de São José de Angicos, Nova Cruz, Serra da Raiz e, entre Macaíba
e São Paulo do Potengi, a Fazenda Jardim que batizou por Alto da Saudade.
Pelos idos de 1895, enamorou-se de João Leopoldo da Silva
Loureiro, promotor público de Macaíba e, posteriormente, de Canguaretama (RN).
Há notícias de que havia a possibilidade de um noivado que não teria acontecido
por interferência dos irmãos. Câmara Cascudo, conhecedor de toda a família da
poeta e pessoalmente relacionado com Eloy de Souza e Henrique Castriciano,
disse que o pretenso noivo não era da confiança dos irmãos da moça; além disso,
o biógrafo de Auta supunha que os irmãos da poeta temiam que a tuberculose pudesse
afetar os possíveis filhos que o casal viesse ter. Se esse segundo motivo foi
de fato verdadeiro, no que dependesse dos irmãos, Auta de Souza permaneceria
solteira. Mas como provar a veracidade dessa versão? A meu ver, a tuberculose
era um forte estigma de morte iminente, ou melhor, já se configurava como uma
morte social antes da morte biológica. O que, aos olhos da família do
tuberculoso, já se inviabilizava qualquer futuro para o doente; esperava-se
apenas o fim do sofrimento com a morte do enfermo. Segundo Câmara Cascudo, João
Leopoldo não teria insistido no intento do casamento, o que teria ferido Auta
de Souza, culminando no rompimento do namoro entre os dois por volta de 1897,
ano em que João Leopoldo faleceu, também vítima da tuberculose. Foi o momento
de Auta fechar seu livro de manuscritos denominado Dhálias, contendo poemas escritos entre 1893 a 1897.
Em seguida, Auta de Souza abre um outro manuscrito,
trazendo boa parte dos poemas contidos no Dhálias,
modificando muitos, e acrescentando poemas novos. A esse novo livro manuscrito
denominou Horto, divulgando seu nome
na imprensa em 1898.
Do mesmo ano são as colaborações de Auta de Souza na
revista Oito de Setembro, periódico religioso e popular que foi o primeiro
órgão de imprensa católico do estado, surgido em 1897. A revista era
dirigida pelo então pároco da Freguesia de Natal, Padre João Maria Cavalcanti
de Brito (1848-1905), popularmente conhecido por Padre João Maria. O padre
tornou-se figura lendária no estado, sendo considerado um santo, havendo
inclusive tentativa de sua canonização. 20 Foi um padre de idéias
abolicionistas, sendo presidente do órgão de imprensa da associação denominada Libertadora Norte -Rio-Grandense, fundada
em janeiro de 1888, por Pedro Velho.
Ainda em 1898, um
ano após a fundação do Grêmio Polimático em Natal, surgia seu órgão de
imprensa, a Revista do Rio Grande do Norte, editada pela gráfica de A República. Auta de Souza, ao lado de Henrique
Castriciano de Souza, fazia parte do grupo de colaboradores. Clóvis Beviláqua,
ao comentar os estudos e valores intelectuais dos quais a revista era
depositária, sem designar seu nome, possivelmente faz alusão à qualidade dos
poemas de Auta de Souza: “ grupo em que brilham, com fulgores de especial
simpatia, as louçanias de um conhecido talento feminino”. Ele só podia estar se
referindo a Auta, já que ela se constituía na única mulher entre os
colaboradores da revista.
Fora estas colaborações em jornais com poemas, não há
notícias da participação efetiva de Auta de Souza em manifestações ou
movimentos de caráter cultural ou político. No entanto, suspeita-se que ela o
fizesse sem que seu nome aparecesse publicamente.
Seria o caso de ações do Grêmio Literário Tobias Barreto, de Macaíba, associação de
intelectuais que se encontravam durante as férias anuais, quando então
promoviam tertúlias e discutiam produções intelectuais da época. Em 1899, Henrique
Castriciano de Souza assumiu sua presidência e João Câncio Rodrigues de Souza,
o mais moço dos irmãos, exercia a primeira secretaria da entidade. Para Manoel
Rodrigues de Mello, embora Auta de Souza não figurasse na diretoria do grêmio,
certamente dele deveria participar, mas “com o recato imposto pelos costumes do
tempo e do meio em que vivia [...]” não aparecia oficialmente vinculada ao
mesmo. De qualquer forma, a vinculação de Auta de Souza, mesmo que não pública,
a esse grêmio, bem como à revista Oito de
Setembro sugere alguma aproximação sua com a causa abolicionista, na medida
em que tanto Pedro Velho Albuquerque Maranhão, então editor de A República, quanto Padre João Maria C.
de Brito, na época dirigente da revista Oito de Setembro, como o escritor
Tobias Barreto que dá nome ao grêmio literário, estiveram à frente do movimento
abolicionista, sendo tais órgãos de imprensa também veículos destas idéias. Não
se pode esquecer, que apesar de sua tez escura, pouco se falou até hoje sobre
as origens africanas de Auta de Souza. Pode-se mesmo dizer que, no plano
imaginário, ocorreu uma espécie de “embranquecimento” da poeta.
Outro caso de participação de Auta de Souza em
manifestações de cunho político seria sua possível assinatura numa moção de
solidariedade e protesto, escrita por literatos de Natal, em favor da carta
aberta redigida em 1898 por Émile Zola. Carta ao presidente francês, em favor
do oficial francês Alfred Dreyfus, acusado de espionagem para a Alemanha. Em
função dessa carta, o escritor foi condenado a um ano de prisão.
Como bem colocou Luís da Câmara Cascudo, se Auta de Souza
realmente assinou esse manifesto, pode-se considerar um ato de independência
intelectual da poeta. Afinal, disse Cascudo, Dreyfus era judeu, Zola, persona non grata para a Santa Sé, e
Auta de Souza, uma católica convicta.
No mesmo período, por volta de 1898, Auta de Souza fechou
o seu segundo manuscrito intitulado Horto,
sendo que, no mínimo, dezesseis dos 114 poemas ali expostos haviam sido
publicados antes, já que no manuscrito eles aparecem como recortes de publicações,
coladas às folhas do caderno. São eles: Cores,
No álbum de Eugênia, Cantai, De longe, O que são estrelas, Bohemias, Ciúme,
Versos à Inah, Consolo Supremo, Na primeira página da Imitação de Cristo,
Crianças, Renascimento, Flor do Campo, Adeus gentil, Falando ao coração e Mimo
de anos.
O percurso intelectual de Auta de Souza chegou cedo ao
fim, antes da publicação do Horto
completar seis meses, a 7 de fevereiro de 1901, quando a poeta faleceu na casa
de seus irmãos Henrique e Eloy, na rua Dr. Barata, em Natal. No enterro,
realizado no Cemitério do Alecrim, em Natal, discursaram representantes da
comunidade e intelectualidade local, dirigentes e colaboradores de jornais e
associações literárias: Pedro Avelino, em nome e por delegação do Grêmio Polymathico, Manoel Dantas, pela
redação de A República, Ezequiel Wanderley,
em nome do Congresso Litterário,
Galdino Filho pelo Grêmio Le Monde Marche.
Da parte da família Maranhão, Pedro Velho, então senador, teria
levantado o véu que cobria o rosto da poeta em seu esquife, beijando-lhe as faces.
Houve muitas homenagens em memória da poeta por parte das agremiações a que
pertencera. O Le Monde Marche
suspendeu os trabalhos sociais por trinta dias. Oásis fez luto de oito dias, deixando o pavilhão nacional hasteado
em frente ao edifício da sua tipografia.
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Referência bibliográfica:
Ana Laudelina Ferreira Gomes (Professora do Departamento de
Ciências Sociais da UFRN): “Vida e obra da poeta potiguar Auta de Souza
(1876-1901)”. Museu Câmara Cascudo. Disponível em: www.mcc.ufrn.br
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