01/03/2014

Poemas de Auta de Sousa (Poesias)

 Poemas de Auta de Sousa - Iba Mendes
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Biografia de Auta de Sousa (Poeta)


Auta de Souza nasceu em 1876 no município de Macaíba (RN), na época principal centro comercial e político do Rio Grande do Norte. Faleceu em 1901, aos 25 anos de idade incompletos, vitimada pela tuberculose. Deixou alguns poemas publicados em jornais e revistas locais e regionais, dois manuscritos (Dhálias e Horto) e um único livro de poemas publicado: o Horto.

A poeta era bisneta de Francisco Pedro Bandeira de Melo, senhor de vastas terras e boa soma de gado da antiga região de Coité, hoje Macaíba. Esse bisavô dera em casamento sua filha Cosma Bandeira de Melo – não se sabe ao certo se ela era filha natural ou adotiva – ao seu brilhante vaqueiro, tido como negro, Félix José de Souza. Do casamento dos dois, nasceu Eloy Castriciano de Souza, pai de Auta de Souza.

Eloy Castriciano de Souza trabalhou, durante treze anos, para Fabrício Gomes Pedroza, genro de seu avô Francisco Pedro. Mais tarde Eloy Castriciano lançou-se numa sociedade com o futuro sogro, Francisco de Paula Rodrigues, comerciante do Recife, que já operava no ramo da importação e exportação. Posteriormente, Eloy Castriciano aliou a carreira comercial à política, sendo deputado provincial pelo Partido Liberal no biênio 1878-1879.
A mãe de Auta de Souza era Henriqueta Leopoldina Rodrigues de Souza, filha de Francisco de Paula Rodrigues com Silvina Maria da Conceição, esta também conhecida por Dindinha. Silvina, como a maior parte das mulheres de origem humilde de seu tempo, era analfabeta, mas consta que sua filha Henriqueta tinha alguma instrução. Luís da Câmara Cascudo fala que ela era “lida em livros”. Um dos irmãos da moça, Lucidário Rodrigues, chegou mesmo a frequentar por dois anos a Faculdade de Medicina da Bahia, tendo-a interrompido devido a seu falecimento. Silvina e Francisco de Paula eram amasiados, e ela passou à condição de esposa dele no dia do casamento da filha Henriqueta, quando também foi oficializado o casamento dos dois, evitando certo constrangimento de Henriqueta na hora da “leitura de banhos” em sua cerimônia matrimonial. De Silvina diz-se ter sido mulher totalmente dedicada ao lar e à família; primeiro, ao marido e aos filhos e, depois, aos netos órfãos.

Auta de Souza perdeu os pais muito cedo, a mãe aos três anos, o pai aos cinco. Após a morte dos pais, ela e seus quatro irmãos foram levados pelos avós maternos, de Macaíba para o Recife. O avô faleceu em 1882, ano seguinte à morte do pai de Auta, e todos os cinco irmãos ficaram sendo criados pela avó Silvina.

Mais uma morte veio tirar o sossego de Auta, então com doze anos, seu irmão mais novo, Irineu Leão Rodrigues de Souza, foi incendiado na sua frente devido a um acidente com um candeeiro. Marca de dor que parece ter levado para o resto da vida.

Auta de Souza estreou publicamente em 1894 na revista Oásis, de Natal. Tratava-se de um periódico literário e noticioso, órgão do grêmio literário Le Monde Marche. Em 1896, começou a colaborar em A República, de Natal, que tinha Pedro Velho de Albuquerque Maranhão como fundador, Eloy de Souza como um dos redatores e Henrique Castriciano de Souza como colaborador desde 1891. Segundo Luiz Fernandes, historiador da imprensa na época, o jornal A República era “o de maior circulação, o mais lido, mais espalhado pelo Brasil porque permutava com a imprensa do sul, do norte e do centro”. Mas, é só a partir de 1897 que Auta de Souza é citada como colaboradora oficial do jornal, ao lado do irmão Henrique Castriciano, entre outros nomes masculinos. Foi em A Tribuna, de Natal, que, a partir de 1897, Auta de Souza passou a publicar seus versos assiduamente. Segundo o mesmo historiador, tratava-se de um periódico de prestígio, sendo que nele colaboravam poetas e escritores famosos do Nordeste. Oásis e A Tribuna eram periódicos que constantemente divulgavam produções femininas.

Entre 1899 e 1900, em A Tribuna, Auta de Souza passou a usar os pseudônimos de Ida Salúcio e Hilário das Neves.

De 1894 a 1899, os tempos foram de muito movimento para Auta de Souza, movimento não só na vida intelectual, como também na vida afetiva. Além do mais, nesse período sua saúde sofreu constantes recaídas. Fez viagens seguidas em busca de restabelecimento, nas quais escrevia sempre. O roteiro era Recife, Vila de São José de Angicos, Nova Cruz, Serra da Raiz e, entre Macaíba e São Paulo do Potengi, a Fazenda Jardim que batizou por Alto da Saudade.

Pelos idos de 1895, enamorou-se de João Leopoldo da Silva Loureiro, promotor público de Macaíba e, posteriormente, de Canguaretama (RN). Há notícias de que havia a possibilidade de um noivado que não teria acontecido por interferência dos irmãos. Câmara Cascudo, conhecedor de toda a família da poeta e pessoalmente relacionado com Eloy de Souza e Henrique Castriciano, disse que o pretenso noivo não era da confiança dos irmãos da moça; além disso, o biógrafo de Auta supunha que os irmãos da poeta temiam que a tuberculose pudesse afetar os possíveis filhos que o casal viesse ter. Se esse segundo motivo foi de fato verdadeiro, no que dependesse dos irmãos, Auta de Souza permaneceria solteira. Mas como provar a veracidade dessa versão? A meu ver, a tuberculose era um forte estigma de morte iminente, ou melhor, já se configurava como uma morte social antes da morte biológica. O que, aos olhos da família do tuberculoso, já se inviabilizava qualquer futuro para o doente; esperava-se apenas o fim do sofrimento com a morte do enfermo. Segundo Câmara Cascudo, João Leopoldo não teria insistido no intento do casamento, o que teria ferido Auta de Souza, culminando no rompimento do namoro entre os dois por volta de 1897, ano em que João Leopoldo faleceu, também vítima da tuberculose. Foi o momento de Auta fechar seu livro de manuscritos denominado Dhálias, contendo poemas escritos entre 1893 a 1897.

Em seguida, Auta de Souza abre um outro manuscrito, trazendo boa parte dos poemas contidos no Dhálias, modificando muitos, e acrescentando poemas novos. A esse novo livro manuscrito denominou Horto, divulgando seu nome na imprensa em 1898. 

Do mesmo ano são as colaborações de Auta de Souza na revista Oito de Setembro, periódico religioso e popular que foi o primeiro órgão de imprensa católico do estado, surgido em 1897. A revista era dirigida pelo então pároco da Freguesia de Natal, Padre João Maria Cavalcanti de Brito (1848-1905), popularmente conhecido por Padre João Maria. O padre tornou-se figura lendária no estado, sendo considerado um santo, havendo inclusive tentativa de sua canonização. 20 Foi um padre de idéias abolicionistas, sendo presidente do órgão de imprensa da associação denominada Libertadora Norte -Rio-Grandense, fundada em janeiro de 1888, por Pedro Velho.

 Ainda em 1898, um ano após a fundação do Grêmio Polimático em Natal, surgia seu órgão de imprensa, a Revista do Rio Grande do Norte, editada pela gráfica de A República. Auta de Souza, ao lado de Henrique Castriciano de Souza, fazia parte do grupo de colaboradores. Clóvis Beviláqua, ao comentar os estudos e valores intelectuais dos quais a revista era depositária, sem designar seu nome, possivelmente faz alusão à qualidade dos poemas de Auta de Souza: “ grupo em que brilham, com fulgores de especial simpatia, as louçanias de um conhecido talento feminino”. Ele só podia estar se referindo a Auta, já que ela se constituía na única mulher entre os colaboradores da revista.

Fora estas colaborações em jornais com poemas, não há notícias da participação efetiva de Auta de Souza em manifestações ou movimentos de caráter cultural ou político. No entanto, suspeita-se que ela o fizesse sem que seu nome aparecesse publicamente.

Seria o caso de ações do Grêmio Literário Tobias Barreto, de Macaíba, associação de intelectuais que se encontravam durante as férias anuais, quando então promoviam tertúlias e discutiam produções intelectuais da época. Em 1899, Henrique Castriciano de Souza assumiu sua presidência e João Câncio Rodrigues de Souza, o mais moço dos irmãos, exercia a primeira secretaria da entidade. Para Manoel Rodrigues de Mello, embora Auta de Souza não figurasse na diretoria do grêmio, certamente dele deveria participar, mas “com o recato imposto pelos costumes do tempo e do meio em que vivia [...]” não aparecia oficialmente vinculada ao mesmo. De qualquer forma, a vinculação de Auta de Souza, mesmo que não pública, a esse grêmio, bem como à revista Oito de Setembro sugere alguma aproximação sua com a causa abolicionista, na medida em que tanto Pedro Velho Albuquerque Maranhão, então editor de A República, quanto Padre João Maria C. de Brito, na época dirigente da revista Oito de Setembro, como o escritor Tobias Barreto que dá nome ao grêmio literário, estiveram à frente do movimento abolicionista, sendo tais órgãos de imprensa também veículos destas idéias. Não se pode esquecer, que apesar de sua tez escura, pouco se falou até hoje sobre as origens africanas de Auta de Souza. Pode-se mesmo dizer que, no plano imaginário, ocorreu uma espécie de “embranquecimento” da poeta.

Outro caso de participação de Auta de Souza em manifestações de cunho político seria sua possível assinatura numa moção de solidariedade e protesto, escrita por literatos de Natal, em favor da carta aberta redigida em 1898 por Émile Zola. Carta ao presidente francês, em favor do oficial francês Alfred Dreyfus, acusado de espionagem para a Alemanha. Em função dessa carta, o escritor foi condenado a um ano de prisão.

Como bem colocou Luís da Câmara Cascudo, se Auta de Souza realmente assinou esse manifesto, pode-se considerar um ato de independência intelectual da poeta. Afinal, disse Cascudo, Dreyfus era judeu, Zola, persona non grata para a Santa Sé, e Auta de Souza, uma católica convicta.

No mesmo período, por volta de 1898, Auta de Souza fechou o seu segundo manuscrito intitulado Horto, sendo que, no mínimo, dezesseis dos 114 poemas ali expostos haviam sido publicados antes, já que no manuscrito eles aparecem como recortes de publicações, coladas às folhas do caderno. São eles: Cores, No álbum de Eugênia, Cantai, De longe, O que são estrelas, Bohemias, Ciúme, Versos à Inah, Consolo Supremo, Na primeira página da Imitação de Cristo, Crianças, Renascimento, Flor do Campo, Adeus gentil, Falando ao coração e Mimo de anos.

O percurso intelectual de Auta de Souza chegou cedo ao fim, antes da publicação do Horto completar seis meses, a 7 de fevereiro de 1901, quando a poeta faleceu na casa de seus irmãos Henrique e Eloy, na rua Dr. Barata, em Natal. No enterro, realizado no Cemitério do Alecrim, em Natal, discursaram representantes da comunidade e intelectualidade local, dirigentes e colaboradores de jornais e associações literárias: Pedro Avelino, em nome e por delegação do Grêmio Polymathico, Manoel Dantas, pela redação de A República, Ezequiel Wanderley, em nome do Congresso Litterário, Galdino Filho pelo Grêmio Le Monde Marche.

Da parte da família Maranhão, Pedro Velho, então senador, teria levantado o véu que cobria o rosto da poeta em seu esquife, beijando-lhe as faces. Houve muitas homenagens em memória da poeta por parte das agremiações a que pertencera. O Le Monde Marche suspendeu os trabalhos sociais por trinta dias. Oásis fez luto de oito dias, deixando o pavilhão nacional hasteado em frente ao edifício da sua tipografia.


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Referência bibliográfica:
Ana Laudelina Ferreira Gomes (Professora do Departamento de Ciências Sociais da UFRN): “Vida e obra da poeta potiguar Auta de Souza (1876-1901)”. Museu Câmara Cascudo. Disponível em: www.mcc.ufrn.br

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