08/03/2014

O que eu vi. O que nós veremos, de Santos Dumont

 O que eu vi. O que nós veremos, de  Santos Dumont
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A formação de Santos Dumont


Nesse capítulo, vamos mostrar aspectos dos conhecimentos científicos e experiências mecânicas de Santos Dumont. Em grande parte, vamos nos basear na sua auto-biografia.

Alberto Santos Dumont nasceu no dia 20 de julho de 1873, em Cabangu, distrito de João Gomes (posteriormente denominado Palmira e atualmente Santos Dumont), em Minas Gerais. Na época, seu pai Henrique (que era engenheiro) trabalhava na construção de estradas de ferro. Depois, adquiriu fazendas de café na região de Ribeirão Preto (SP) e enriqueceu. Tornou-se uma pessoa riquíssima, sendo conhecido como “rei do café”.

Algumas biografias, como a de Peter Wykeham e de Gondin da Fonseca110, descrevem fatos e acontecimentos que podem tê-lo levado a manifestar seu interesse por ciência e técnica desde muito menino, como sua convivência com o pai. O próprio Santos Dumont descreve que as máquinas de beneficiamentos de café, na fazenda do pai, foram um dos motivos pelo seu fascínio inicial pela mecânica e principalmente sua sensibilidade em resolver problemas, uma vez que ele consertava essas máquinas e até projetava algumas melhorias em seu funcionamento.

A ciência da aviação e a possibilidade de viajar pelo céu levaram muitos homens a sonhar, criando um ambiente de ficção e romantismo. Fatos como estes influenciaram o escritor Julio Verne, que é citado por várias vezes por Santos Dumont, como veremos mais adiante.

No livro de Santos Dumont, Os meus balões, nota-se desde o início que o autor enfatiza a importância de conhecimentos científicos, como na parábola introdutória em que descreve um diálogo entre duas crianças.

Escute Luís: o homem está na dependência de certas leis físicas. O cavalo, é verdade, carrega mais que seu peso, mas a própria natureza o fez com pernas apropriadas [...] sobre as rodas haveria perda de energia. É mais difícil movimentar uma roda, aplicando uma força motriz no interior da circunferência, que dirigindo-a sobre o exterior [...] para diminuir o atrito eu faria correr meu veiculo sobre trilhos bem lisos.

Além de conceitos de física básica encontrados em abundância em seu texto, observamos ainda neste livro a citação de outros inventores, demonstrando seu conhecimento sobre trabalhos e experimentos realizados até então O velho sorriu, e sentenciou, convicto: O que você sonha é impossível... O grande balão que você idealiza, existe já desde 1783. Infelizmente, porém, não pode ser dirigido. Está à mercê do mais leve sopro da brisa. Em 1852 um engenheiro francês, chamado Giífard, experimentou uma derrota gloriosa com sua tentativa de balão dirigível.

Em vários pontos de seu livro, percebe-se que Santos Dumont tinha vasto conhecimento da história da aeronáutica. Não se sabe, no entanto, quando ele os adquiriu.

Em alguns trechos nos quais Santos Dumont descreve sua infância é fácil perceber o seu interesse por máquinas, desde muito cedo. Enquanto seus irmãos montavam a cavalo, ele preferia as locomotivas Baldwin. Sua infância foi cercada de máquinas de beneficiamento de café, já que seu pai era um dos maiores produtores do Brasil.

Dificilmente se conceberia meio mais sugestivo para a imaginação de uma criança que sonha com invenções mecânicas. Aos 7 anos, eu já tinha permissão para guiar as locomóveis de grandes rodas empregadas na nossa propriedade nos trabalhos do campo. Aos 12, deixavam-me tomar o lugar do maquinista das locomotivas Baldwin que puxavam os trens carregados de café nas 60 milhas de via férrea assentadas por entre as plantações.

As manifestações de seu interesse técnico são percebidas desde o início de sua vida.

Todas estas máquinas de qual acabo de falar, bem como as que forneciam a força motriz, foram os brinquedos da minha meninice. O hábito de vê-las funcionar diariamente ensinou-me, muito depressa, a reparar qualquer das suas peças.

Além do interesse por máquinas em geral, Santos Dumont afirma que se interessava desde muito cedo pelo vôo. Ele descreve o seu fascínio em observar aves com seus vôos fantásticos; e brincadeiras de criança, em que ele se desentendia com os amigos, às vezes, por afirmar que o homem voava. Segundo o próprio Santos Dumont, sua observação de menino foi suficiente para que percebesse que uma peneira da fazenda de seu pai dava problema constantemente por produzir movimento oscilatório. Isso teria chamado sua atenção para a maior eficiência de movimentos circulares, concepção que Santos Dumont utilizaria em muitos de seus inventos.

Mas há um ponto a respeito do qual minha convicção está perfeitamente definida: é saber que no dia em que for produzida a invenção vitoriosa ela não será constituída nem por asas que batam, nem por qualquer cousa de análogo que se agite.

É claro que todas as descrições do próprio Santos Dumont a respeito da relação entre sua infância e seus trabalhos posteriores podem ser reinterpretações não muito fiéis ao passado. Não dispomos de documentação independente para esclarecer isso.

[...]


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Fonte:
Erivelton Alves Bizerra: “Santos Dumont e o desenvolvimento da dirigibilidade de balões”. ( Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em     História      da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Profa. Doutora Lilian Al-Chueyr Pereira Martins. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). São Paulo, 2008.

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